Pessoa na frente de uma pichação que chama o vice-presidente paraguaio Franco de "golpista" (Jorge Adorno/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2012 às 23h26.
Buenos Aires - Os chanceleres do Mercosul e países associados abordarão nesta quinta-feira, em Mendoza (oeste da Argentina), um documento que incluirá uma dura condenação contra o impeachment de Fernando Lugo como presidente do Paraguai, e discutirão a criação de uma área de livre comércio com a China.
"Está previsto que os chanceleres elaborem um documento de condenação ao Paraguai pela destituição de Lugo, que logo será apresentado aos presidentes" em seu encontro da sexta-feira, confirmou esta quarta-feira à AFP uma fonte da chancelaria argentina.
Lugo decidiu não participar da cúpula presidencial do Mercosul, da qual o Paraguai foi suspenso, alegando que não quer influenciar as decisões adotadas pelas presidentes brasileira, Dilma Rousseff; e argentina, Cristina Kirchner; e seu colega uruguaio, José Mujica, os outros parceiros do bloco.
Também assistirão presidentes ou ministros de Chile e Bolívia (associados), Venezuela, Peru, Equador e Colômbia.
No entanto, o Paraguai não sofrerá sanções econômicas do Mercosul, que absorve 55% das exportações paraguaias, segundo o Banco Central daquele país.
Após a cúpula do Mercosul, em um luxuoso hotel da cidade de Mendoza, ao pé da cordilheira dos Andes, se reunirão os ministros das Relações Exteriores da Unasul, mecanismo político que abarca os 12 países da região para emitir um documento de reprovação às novas autoridades paraguaias, confirmou a fonte.
O novo governo paraguaio de Federico Franco foi suspenso do bloco depois que Lugo foi destituído na sexta-feira passada, em um trâmite rápido no Congresso, acusado de mau desempenho de suas funções, o que provocou uma condenação regional generalizada.
O chanceler argentino, Héctor Timerman, advertiu na noite de quarta-feira em Mendoza sobre supostas tentativas de "enquadrar" governos da região como aconteceu com a administração de Lugo no Paraguai.
"Vemos diariamente a ideia de enquadrar presidentes como Cristina Kirchner, Dilma Rousseff, José Mujica", disse Timerman ao inaugurar a XV Cúpula Social do Mercosul diante de 5.000 pessoas no estádio polidesportivo Vicente Polimeni.
Ele insistiu em que "interesses concentrados tentam dar voltas em Kirchner, como fizeram com Lugo no Paraguai e Manuel Zelaya em Honduras".
Os chanceleres do Mercosul também concentrarão sua agenda, esta quinta-feira, na proposta apresentada esta semana pelo premier chinês, Wen Jiabao, de criar uma área de livre comércio entre o gigante asiárico e o bloco sul-americano.
Mas analistas de Brasil e Argentina, os dois maiores sócios do bloco, são céticos de que possa ser assinado a curto prazo e também duvidam de que possa trazer benefícios importantes para a região.
"Há muitas condicionantes em um TLC porque a região vende para a China majoritariamente 'comodities' que já entram nesse mercado quase sem restrições, pela necessidade que a China tem de alimentos e outros produtos primários", declarou esta quarta-feira à AFP Mauricio Claverí, analista de comércio exterior da consultora Abeceb.com argentina.
Para Claverí, para que um TLC com a China seja eficaz, "devem ser identificados nichos de venda em setores com maior valor agregado", acrescentando a respeito que os produtos industriais "representam apenas 4% ou 5% das exportações totais" do Mercosul ao gigante asiático.
Segundo números oficiais, a China exportou ao Mercosul produtos na ordem de 48,451 bilhões de dólares em 2011 (34% a mais do que no ano anterior) e importou 51,033 bilhões de dólares (37,9% a mais do que em 2010).
"A China é um aliado muito importante, mas não sou muito otimista sobre este possível acordo. O tratado mais importante que negocia o Mercosul é com a União Europeia, e se isto está estancado, não vemos como avançará agora um acordo com a China", disse à AFP o economista brasileiro Gilmar Masiero.