Reunião do Brics: cem citar diretamente Trump, o bloco pede que a tendência isolacionista dos EUA seja evitada (Reuters)
EFE
Publicado em 19 de junho de 2017 às 16h15.
Pequim - Os chanceleres do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul defenderam nesta segunda-feira um mundo com menos barreiras comerciais e que combata a mudança climática e o terrorismo com base no multilateralismo, em uma clara oposição às políticas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em pleno movimento de saída dos EUA das discussões das principais questões internacionais, os ministros das Relações Exteriores do Brics reivindicaram o papel dos cinco países no combate às ameaças globais no término de uma reunião de dois dias em Pequim.
"Não podemos perder de vista que os cinco países do Brics representam uma parcela muito importante da população mundial. São países que têm influência no mundo", disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, em entrevista coletiva.
Não ao protecionismo e sim à globalização - ainda que mais equilibrada - e ao Acordo Climático de Paris foram alguns dos pontos de destaque no comunicado oficial que os ministros divulgaram após o encontro, preparatório para a cúpula de líderes do Brics que será realizada na China no início de setembro.
Sem citar diretamente Trump no documento final, o bloco pede que a tendência isolacionista dos EUA seja evitada: pede que todos os signatários cumpram o Acordo Climático de Paris e cobra que os países desenvolvidos proporcionem o financiamento necessário, a tecnologia e apoio estipulado aos países em desenvolvimento.
"Acredito que nossos países seguramente serão um fator importante para o cumprimento desse acordo", disse Nunes.
Os chanceleres também falaram sobre terrorismo e como administrar conflitos como o da Síria e da Coreia do Norte. O Brics acredita que os EUA atuam de maneira unilateral ou ameaçam agir sozinhos em ambos os casos, forma que o bloco não considera correta.
O Brics condenou as intervenções militares e sanções econômicas unilaterais adotadas pelos norte-americanos em "violação da lei internacional e das normas de relações internacionais reconhecidas universalmente".
As críticas são feitas um dia depois de os EUA terem derrubado um avião do governo da Síria, provocando uma nova escalada de tensão com o regime do presidente Bashar al Assad.
O recente incidente também foi discutido entre os chanceleres e fez com que o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, a pedir aos EUA para respeitarem a soberania da Síria e se unirem ao trabalho realizado em parceria com o governo do país.
"Na nova situação internacional, os países têm que estreitar sua cooperação", reforçou o presidente da China, Xi Jinping, após receber os ministros no Grande Palácio do Povo de Pequim.
Na opinião de Xi, o Brics começou uma "nova década de ouro" e a cooperação entre os países do bloco é e será vital para "criar um entorno internacional mais favorável".
A China tratou de afastar qualquer dúvida sobre a união do Brics ou sobre a diferença entre seus membros, destacando o peso dessas economias - as de maior crescimento do mundo.
"As suspeitas evidenciam que a comunidade internacional presta muita atenção no Brics e no desenvolvimento do bloco", destacou o ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi.
Como exemplo de união e de apoio do Brics ao crescimento global, os chanceleres destacaram o novo banco de desenvolvimento criado pelo bloco e acertaram seguir promovendo a instituição.
Em uma reunião paralela, representantes de setores financeiros do Brics ressaltaram a necessidade de incrementar a cooperação em diversas áreas financeiras e fiscais, como a luta contra o financiamento de organizações terroristas.
A China, que exerce a presidência do grupo neste ano, organizará a próxima cúpula de chefes de Estado e governo do Brics entre 3 e 5 de setembro em Xiamen, no sudeste do país.