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Centenas de saques em cidade do Mali contra bens árabes

Comerciantes árabes são acusados de serem terroristas aliados de grupos islamitas armados que ocuparam Timbuktu durante 10 meses


	Pessoas invadem e roubam uma loja em Timbuktu, no Mali: em algumas lojas foram encontradas munições e rádios militares
 (Eric Feferberg/AFP)

Pessoas invadem e roubam uma loja em Timbuktu, no Mali: em algumas lojas foram encontradas munições e rádios militares (Eric Feferberg/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2013 às 09h17.

Timbuktu - Uma multidão saqueou na manhã desta terça-feira em Timbuktu dezenas de lojas de comerciantes árabes, acusados de serem terroristas aliados de grupos islamitas armados que ocuparam durante 10 meses esta cidade do norte do Mali.

Ao mesmo tempo, em Adis Abeba, uma conferência de apoio ao Mali anunciou promessas de ajuda militar e humanitária por um montante de 455 milhões de dólares.

Em Timbuktu, centenas de pessoas, visivelmente muito pobres, saquearam lojas que, segundo elas, pertencem a árabes, argelinos e mauritanos acusados de terem apoiado os insurgentes islamitas vinculados à Al-Qaeda.

Timbuktu, cidade mítica da África muçulmana, foi tomada na segunda-feira pelas tropas francesas e malinenses.

Em algumas lojas foram encontradas munições e rádios militares, comprovou a AFP.

Mas a maioria dos saqueadores se dedicava a se apropriar de televisões, antenas parabólicas, móveis, louças e comida.

Por volta do meio-dia, uma patrulha malinense terminou com os saques.

"Não vamos deixar as pessoas saquearem, mas é certo que em alguns armazéns foram encontradas munições", disse à AFP um oficial malinense.


A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) havia advertido na segunda-feira sobre o "risco elevado de tensões interétnicas" no norte do Mali e solicitado que as autoridades protegessem "todos os malinenses das represálias".

Em Adis Abeba, os países participantes da conferência sobre o Mali se comprometeram a fornecer mais de 455 milhões de dólares para financiar a força militar africana e a ajuda humanitária, indicou um responsável da União Africana.

"Fico satisfeito em informar que as promessas de contribuições alcançaram a soma de 455,53 milhões de dólares", disse o comissário para a Paz e a Segurança da União Africana, Ramtane Mamamra.

O Japão se comprometeu a fornecer 120 milhões de dólares de forma indireta para Mali e Sahel.

A União Europeia contribuirá com 50 milhões e a França com 47 milhões de euros.

É preciso acrescentar a esta soma o apoio material militar em equipamentos e treinamento, acrescentou a fonte.

A Grã-Bretanha anunciou que enviará 240 instrutores militares para capacitar o exército malinense.


"A situação exige uma resposta internacional rápida e eficaz, já que existe um risco para o Mali, a região, o continente e mais além", disse, por sua vez, Nkosazana Dlamini Zuma, presidente da comissão da União Africana.

Em Addis Abbeba, o presidente malinense interino, Diocunda Traoré, também declarou que espera poder convocar eleições no país depois de 31 de julho.

Timbuktu, 900 km a nordeste de Bamaco, a capital do Mali, passou uma noite tranquila sem que nenhum tiro ou explosão tenha perturbado o sono de seus habitantes, muito diferente do cenário posterior, pela manhã.

Os habitantes de Timbuktu, que na segunda-feira aclamaram a entrada das tropas francesas e malinenses, seguiam sofrendo com diversos problemas materiais, entre eles falta de água potável e de alimentos.

A cidade continua sem rede telefônica ou eletricidade, depois que os grupos armados sabotaram as instalações antes de partirem.

Após a tomada de Gao e de Timbuktu, todos os olhares se voltam para Kidal, no extremo nordeste do Mali, terceira grande cidade do norte, situada a 1.500 km de Bamaco.


Os principais chefes dos grupos islamitas armados se refugiaram nas montanhas, ao redor de Kidal, não muito longe da fronteira argelina, indicaram fontes malinenses.

A cidade de Kidal estaria sob o controle dos rebeldes do Movimento Nacional para a Libertação do Azawad (MNLA) e dissidentes do grupo islamita Ansar Dine (Defensores do Islã), que formaram o Movimento Islâmico de Azarard (MIA).

Os tuaregues do MNLA afirmam que não querem enfrentar o exército francês nem as forças militares africanas, mas querem impedir os "episódios de violência do exército malinense".

Existe o temor de que a reconquista do norte leve a atos de vingança contra os islamitas, que cometeram diversos crimes em nome da aplicação rigorosa da lei islâmica (sharia).

Nas cidades sob seu controle, os islamitas realizaram diversas amputações, execuções e apedrejamentos.

Além disso, os islamitas destruíram diversos mausoléus de santos muçulmanos.

O mesmo temor é sentido pelas comunidades tuaregues e árabes, muito presentes nos grupos armados, o que levou o Tribunal Penal Internacional a lançar uma advertência ao governo do Mali.

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