Theresa May: Londres também espera que as medidas sejam "recíprocas" para os britânicos que vivem no restante do bloco (Francois Lenoir/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de junho de 2017 às 09h33.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 09h33.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, chamou de "primeiro passo", mas insuficiente, a oferta da primeira-ministra britânica, Theresa May, para os direitos dos cidadãos da UE no Reino Unido após o Brexit.
"É um primeiro passo, mas este passo não é suficiente", afirmou Juncker, que desta maneira concorda com a chanceler alemã, Angela Merkel, que considerou na véspera a proposta de May um "bom começo", mas que deixa questões em aberto.
Durante o jantar de trabalho com os 27 sócios na quinta-feira, a primeira-ministra britânica explicou que os cidadãos europeus que residem no Reino Unido "legalmente" poderão permanecer no país uma vez consumado o Brexit.
Além disso, Londres propõe conceder aos cidadãos da UE um "estatuto definitivo" com direito à residência permanente desde que vivam há cinco anos no país, medidas que espera que sejam "recíprocas" para os britânicos que vivem no restante do bloco.
Antes do segundo dia da reunião de cúpula europeia nesta sexta-feira, os líderes da UE optaram pela prudência, antes de conhecer os detalhes do plano que Londres revelará na segunda-feira, mas o primeiro-ministro belga Charles Michel disse que a informação já divulgada é "particularmente vaga".
"É uma boa primeira proposta, mas está claro que temos muito mais trabalho pela frente", disse o chefe de Governo austríaco, Christian Kern, para quem muitos cidadãos europeus não estão incluídos na oferta.
"Isto vai fazer parte da negociação", disse.
May chamou a oferta de "justa e séria", mas a proposta pode não agradar os demais 27 países.
Garantir os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido após o Brexit é uma das prioridades da UE que Londres aceitou negociar em primeiro lugar, antes de começar a discutir sobre um acordo de livre comércio, questão desejada pelo governo britânico.
Após mais de 40 anos de união, mais de três milhões de cidadãos da UE vivem no Reino Unido e quase um milhão de britânicos residem nos demais países do bloco, a maioria na Espanha.
Quase um ano depois da vitória do Brexit em um referendo, Reino Unido e UE iniciaram formalmente as negociações de divórcio na segunda-feira passada. Londres aceitou o calendário e as prioridades europeias, entre elas os direitos dos cidadãos.
Representantes dos europeus que moram no Reino Unido já afirmaram que não gostaram da proposta da primeira-ministra britânica.
May disse que a oferta é um "compromisso claro de que a nenhum cidadão da UE atualmente no Reino Unido de maneira legal será solicitado que abandone o país no momento em que o Reino Unido abandonar a UE".
Mas a proposta inclui períodos de corte - cinco anos de residência - e retira do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) o direito de pronunciar-se sobre os litígios referentes aos direitos dos europeus no Reino Unido, que passaria aos tribunais britânicos.
A oferta é "ridícula", disse à AFP Joan Pons, enfermeiro espanhol e líder da associação 'The 3 Million', criada cidadãos europeus após o triunfo do Brexit.
A associação deseja manter os direitos atuais, que em consequência da liberdade de movimento europeia, equipara os cidadãos de outros países do bloco a um cidadão britânico. E o que oferece May é o que enfrenta hoje "qualquer um que busque uma permissão de residência. Não é generosa, é mais ridícula", disse Pons.
Nicolas Hatton, fundador do movimento, também lamentou e disse que é "patético que o governo britânico brinque com nossas vidas".
Para Hatton, a proposta de May "despoja todos os cidadãos da UE de seus direitos europeus e os substitui por direitos sob o sistema de imigração notoriamente difícil e injusto do Reino Unido".