Protesto separatista na Catalunha: "A Catalunha decidiu que quer ser responsável por seu futuro", disse Artur Mas (David Ramos/Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de novembro de 2012 às 17h00.
Madri - A campanha para as eleições regionais deste domingo na Catalunha termina nesta sexta-feira com os nacionalistas na frente nas pesquisas de intenção de voto - embora sem mais de 50% da preferência - graças à campanha pró-soberania promovida pelo atual presidente regional, Artur Mas.
O pleito é considerado também como fundamental em nível nacional devido à dimensão que Mas ganhou ao antecipar as eleições em dois anos e apresentá-las como o ponto de partida de um processo que visa a realização de um referendo para que a Catalunha decida sobre o futuro status de sua relação com a Espanha.
Essa comunidade autônoma, de 7,5 milhões de habitantes, responsável por 18% do PIB espanhol, está imersa em uma grave crise econômica, com uma dívida de 43,9 bilhões de euros e sem conseguir financiamento nos mercados.
Como consequência desta situação, o governo regional - que considera que a comunidade autônoma fornece muito mais aos cofres nacionais do que recebe - teve que recorrer ao fundo criado pelo governo espanhol para ajudar as regiões com problemas de financiamento e pedir emprestado mais de 5 bilhões de euros.
Os drásticos cortes anunciados por Mas em setores como Saúde e Educação, que geraram protestos e descontentamento social, ficaram no entanto em segundo plano na campanha eleitoral, eclipsados por sua proposta defensora da soberania. Outros partidos que participam do pleito o acusaram de antecipar as eleições e lançar o debate independentista para resistir às críticas e protestos.
Na reta final da campanha, surgiu também a polêmica em torno de um relatório policial publicado pelo jornal espanhol "El Mundo" que envolve Artur Mas, junto com o ex-presidente regional Jordi Puyol, em uma suposta cobrança de comissões ilegais em licitações de obras públicas, e atribui a seu pai contas milionárias na Suíça e em Liechtenstein.
Mas disse hoje em entrevista na rede "TVE" que esta "foi a campanha mais dura e suja" das quais participou, e negou ter contas na Suíça.
O partido Convergência e União (CiU) voltou com Mas ao governo da Catalunha há dois anos, após derrotar a coalizão liderada pelos socialistas ao conquistar 62 cadeiras em um parlamento de 135, ficando a seis da maioria absoluta (68).
As últimas pesquisas, divulgadas em 18 de novembro, dão a vitória ao CiU, mas sem a maioria absoluta, indicando que conseguirão de 60 e 64 deputados.
Segundo analistas políticos, se o CiU não conseguir a maioria absoluta depois do desafio defensor da soberania lançado por Mas, isso seria interpretado como um forte revés para o líder nacionalista, que pediu aos catalães um respaldo excepcional para promover seu plano defensor da soberania.
O Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS), um órgão público, em sua última pesquisa, de 8 de novembro, apontava a vitória do CiU com 63 ou 64 deputados.
As pesquisas mostram, além disso, uma ascensão do partido independentista ERC, que, segundo o CIS, conseguiria 17 cadeiras (tem 10 atualmente) as quais Mas poderia somar, com uma aliança, às do CiU. As consultas também evidenciam a queda do Partido Socialista (PSOE), o segundo mais forte da Catalunha, que ficaria com menos de 20 deputados - conta agora com 28.
Um novo descalabro do PSOE, que governou a Espanha até dezembro de 2011, enfraqueceria a liderança de Alfredo Pérez Rubalcaba, sucessor do ex-chefe do Executivo José Luis Rodríguez Zapatero à frente do partido, o que poderia abrir uma crise interna.
O Partido Popular (PP), atualmente no poder na Espanha, pode melhorar sua posição atual de 18 cadeiras na Catalunha, também segundo as pesquisas.
Artur Mas apelou hoje ao eleitorado para que dê uma "mensagem histórica" nas eleições.
"A Catalunha decidiu que quer ser responsável por seu futuro", disse. "O mundo estará nos observando atentamente no próximo domingo, e temos a oportunidade de mostrar a melhor expressão cívica de nossa democracia enviando claramente uma mensagem histórica", acrescentou.
O governo espanhol lembrou ao dirigente catalão que sua ideia de realizar um referendo apenas na Catalunha não tem base na Constituição espanhola, e para ser legal, a consulta teria que ser feita em todo o país.