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Catalunha alimentou separatismo ao estimular suas diferenças

Segundo filósofo, a ideia da Catalunha como nação é uma ideia bastante presente entre jovens por ter sido exposta a elas desde a educação

Catalunha: estudantes tem ajudado a organizar o referendo de autodeterminação (Jon Nazca/Reuters)

Catalunha: estudantes tem ajudado a organizar o referendo de autodeterminação (Jon Nazca/Reuters)

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AFP

Publicado em 29 de setembro de 2017 às 11h56.

O objetivo era unir uma sociedade exposta a sucessivas ondas de imigração. O resultado foi uma identidade nacional exaltada que estimulou o nacionalismo.

Fomentando suas diferenças culturais durante décadas, a Catalunha semeou o atual desejo de independência de boa parte da população.

"Para as novas gerações, a ideia da Catalunha como nação é uma ideia já bastante presente porque de alguma maneira foi exposta a elas desde a educação", afirma à AFP o filósofo e analista político catalão Josep Ramoneda.

"E para eles é algo lógico que, se é uma nação, tenha um Estado", completa.

Este é o pensamento dos estudantes da Universidade de Barcelona que ajudam a organizar o referendo de autodeterminação, proibido pela justiça espanhola.

Os alunos ajudam principalmente os idosos a descobrir onde devem votar: com a proibição judicial ao referendo e o fechamento dos sites do movimento independentista, a informação é encontrada em páginas mais ou menos clandestinas.

Estudante de Geografia, Humbert Blanco, de 19 anos, afirma orgulhoso: "Sou neto de (imigrantes) andaluzes, de pessoas que nem de brincadeiras votariam no referendo".

Ele revela que sua mãe é independentista e o país permanece "neutro".

Para os analistas este é um exemplo perfeito da influência das políticas de identidade sobre as sucessivas gerações em uma região que durante décadas atraiu diferentes ondas de imigração, do sul da Espanha, do norte da África ou da América Latina.

O ensino de catalão nas escolas é uma "maneira de integrar todas as partes da sociedade catalã e evitar a fragmentação social", explica Gabriel Colomé, professor de Ciências Políticas da Universidade Autônoma de Barcelona.

A "normalização" da língua catalã, reprimida durante a ditadura de Francisco Franco (1939-1975), concentrou boa parte das políticas dos nove governos sucessivos (1980-2003) do nacionalista conservador Jordi Pujol.

O catalão passou então do círculo familiar, ao qual havia permanecido restrito, a âmbitos públicos como a justiça, a economia, a ciência ou o cinema.

"É evidente que a imersão linguística teve um papel muito importante na construção da nação catalã", reconhece Ramoneda.

A televisão pública regional, criada em 1983, também teve um papel considerável, que aumentou com o passar dos anos com canais dedicados ao esporte, cultura, notícias ou crianças.

Ferran Requejo, professor de Ciências Políticas na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, também cita os 'castells', as torres torres humanas presentes em todas as manifestações a favor da independência.

O clube de futebol FC Barcelona também tem um papel de "aglutinar", destaca o professor, já que sua torcida não está apenas na cidade, mas "em toda Catalunha.

As políticas podem parecer positivas, mas os anti-independentistas, como o dramaturgo catalão Albert Boadella, afirmam que o nacionalismo catalão aproveitou as mesmas para "doutrinar nas escolas e através de seus meios de comunicação".

"O catalanismo se esforçou para mostrar as diferenças entre o restante dos espanhóis e os catalães e afirma que a Espanha sempre impediu o desenvolvimento da Catalunha", afirma.

Após a explosão da crise econômica espanhola de 2008, quando a rica região se tornou uma das mais endividadas do país, muitos passaram a defender a independência.

O descontentamento aumentou com decisões como a retirada em 2010, pelo Tribunal Constitucional espanhol, do estatuto de autonomia catalão.

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