O suicídio é a principal causa de morte de mulheres entre os 15 e os 49 anos na Índia (REUTERS/Babu)
Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2013 às 07h17.
Nova Délhi - O suicídio se tornou a principal causa de morte entre as mulheres abaixo dos 50 anos na Índia, um fenômeno que analistas estão relacionando à opressão que elas sofrem no casamento.
Ao contrário de outros países, as mulheres casadas se matam mais que as divorciadas e as viúvas no gigante asiático, onde o suicídio é a principal causa de morte de mulheres entre os 15 e os 49 anos: só em 2010, foram cerca de 78 mil, segundo o relatório Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors 2010 (Ônus Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco).
O estudo, realizado pelo Instituto de Saúde Métrica e Avaliação na Universidade de Washington e publicado recentemente, define as queimaduras como a segunda causa de óbitos.
Em terceiro lugar ficam as mortes provocadas pelo parto, que historicamente já foi a principal causa mortis de mulheres jovens indianas, mas que se reduziu nos últimos anos.
Para o psicanalista Sudhir Kakar, os dados refletem que "a causa dos suicídios de mulheres jovens é o casamento".
"Quando as mulheres se casam, atravessam um período muito duro, já que se mudam para a casa dos sogros, onde têm muito pouco apoio e passam a ocupar o nicho mais baixo", explicou à Agência Efe o psicanalista.
No país, a maioria dos casamentos é arranjada pelos pais e em muitos casos se mantém a estrutura da família estendida, com várias gerações vivendo sob o mesmo teto com uma hierarquia muito rigorosa.
Ranjana Kumari, diretora do Centro de Pesquisa Social de Nova Délhi, afirmou à Efe que "as meninas se casam muito novas e não estão preparadas para o casamento nem para a violência que em muitos acontece".
Um estudo recente da ONU aponta que 47% das mulheres na Índia têm casamentos arranjados por seus pais quando ainda são menores de idade, o que representa mais de 40% dos casos de casamentos infantis mundiais.
"Além disso, não podem partilhar seus problemas com ninguém. Estão sozinhas", disse a ativista, que acredita que "há uma total falta de apoio perante os problemas mentais".
Kumari também considerou o dote uma das causas que levam uma mulher a se suicidar, diante do assédio que sofrem por parte das famílias para que paguem mais e para evitar arruinar seus pais.
Na Índia, as mulheres são obrigadas a pagar ao namorado e a sua família um dote, uma prática proibida por lei, mas que se acentuou com a chegada da modernidade e o consumismo e cada vez se exigem quantias maiores, que podem incluir carros e apartamentos.
Uma investigação da London School of Hygiene and Tropical Medicine (Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres) publicada na revista médica "The Lancet" também aponta o casamento como uma das causas de suicídios de mulheres indianas.
O relatório afirma que as viúvas e divorciadas são menos propensas a se suicidar na Índia, ao contrário dos países ocidentais, onde as mulheres casadas se suicidam menos.
Os contrastes não acabam aí, já que o estudo afirma que nos países desenvolvidos os homens se suicidam três vezes mais que as mulheres, enquanto na Índia a diferença cai para uma vez e meia a mais.
Além disso, na faixa entre 15 e 29 anos, quando acontecem 56% dos suicídios femininos, os números de indivíduos homens e mulheres são semelhantes, o que não acontece em outros países.
As estimativas de suicídios femininos dos estudos internacionais dão dados superiores aos oficiais indianos, que situam em 64.607 o número de mulheres que se mataram em 2010.
A diferença se atribui a que as famílias denunciam em muitos casos os suicídios como acidentes para evitar a vergonha social e porque na Índia a tentativa de suicídio está criminalizada.
A ingestão de pesticidas é o método usado em quase metade dos suicídios na Índia, que tem uma das taxas mais altas de suicídio no mundo, por ser altamente letal.