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Casal transexual reivindica direito de se casar na Tailândia

Os transexuais não podem se casar na Tailândia porque a lei não permite que mudem o sexo em seus documentos de identidade


	No entanto, os transexuais se sentem mais "tolerados" do que "aceitos", e ainda são discriminados e até vítimas de abusos em muitas escolas, no trabalho ou em locais de lazer
 (Praisaeng/Thinkstock)

No entanto, os transexuais se sentem mais "tolerados" do que "aceitos", e ainda são discriminados e até vítimas de abusos em muitas escolas, no trabalho ou em locais de lazer (Praisaeng/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2015 às 11h19.

Bangcoc - A ativista tailandesa Yollanda "Nok" Suanyot e seu namorado Ronnakrit Hamichart, ambos transexuais, podem em teoria se casar, mas pedem à Tailândia uma mudança na legislação que permita que se casem de acordo com seu sexo atual e não com o qual nasceram.

Geralmente os transexuais não podem se casar na Tailândia porque a lei não permite que mudem o sexo em seus documentos de identidade e a união entre pessoas do mesmo sexo não é legal no país.

O caso de Yollanda e Ronnakrit é especial, porque eles são de sexos diferentes, mas ela se identifica como homem e ele como mulher.

"Embora em teoria possamos, não quero me casar como homem. Só o farei se for como mulher; só quero me casar legalmente como mulher", afirmou em entrevista à Agência Efe Yollanda, que em 2012 se transformou na primeira política transexual da Tailândia.

Eles são um casal absolutamente comum, elegantes e com gosto por roupas de grandes estilistas, mas suas carteiras de identidade revelam um gênero diferente, o que os impede de realizar ações tão simples como se identificarem sem medo de serem hostilizados ou ridicularizados em um banco ou um aeroporto, por exemplo.

Não são poucos os que os reconhecem na rua, principalmente porque Yollanda, além de ter uma cadeira no conselho da província de Nan, no norte do país, foi membro do grupo musical Venus Flytrap e agora também é presidente da Associação Transfeminina da Tailândia.

Formada em Sociologia pela Universidade de Thammasat, uma das mais famosas do país, a ativista está fazendo doutorado sobre a saúde e a qualidade de vida dos transexuais na Tailândia.

Segundo Yollanda, o governo deveria apoiar financeiramente os transexuais, já que só a operação de mudança de sexo custa 150 mil bats (cerca de US$ 4.500), valor considerável em um país onde o salário mínimo é 300 bats por dia.

Além disso, as pessoas com disforia de gênero, ou seja, transexuais, têm que enfrentar tratamentos hormonais caros.

A política gostaria que as autoridades tailandesas estudassem a possibilidade de incluir na próxima Constituição um artigo contra a discriminação dos transexuais.

A proposta não reconheceria outros direitos, mas abriria a porta para novas leis que utilizem este artigo como justificativa para outros avanços, como poder mudar o gênero em seus documentos de identidade.

É habitual ver "kathoey", como são chamados os transexuais na Tailândia, trabalhando em lojas e hotéis, mas suas saídas profissionais mais acessíveis são no mundo do espetáculo e do lazer noturno.

A questão religiosa não é um problema. Os budistas, religião de mais de 90% dos tailandeses, não têm dogmas contra a orientação sexual e os transexuais inclusive contam com um concurso de beleza, Miss Tiffany's, realizado todos os anos na cidade litorânea de Pattaya.

Com um cartaz com uma figura meio feminina e meio masculina, uma escola de ensino médio no nordeste do país instalou um banheiro há alguns anos para este grupo, outra amostra da tolerância com o terceiro sexo.

No entanto, os transexuais se sentem mais "tolerados" do que "aceitos", e ainda são discriminados e até vítimas de abusos em muitas escolas, no trabalho ou em locais de lazer em que às vezes são proibidos de entrar.

Yollanda, que se define como "uma mulher com uma história diferente", teve que superar a incompreensão e a rejeição de companheiros e professores durante toda sua vida, embora com perseverança tenha conseguido se operar com 17 anos, mesma idade em que entrou na universidade.

Farta de suportar olhares indiscretos ou situações embaraçosas, um dia ela decidiu falsificar sua carteira de identidade, mas foi detida pela Polícia e enfrentou um processo por falsificar documento oficial.

Embora um juiz "compreensivo" a tenha deixado em liberdade, Yollanda gastou mais de 300 mil bats no processo.

Ela conheceu seu namorado através de sua associação e agora trabalha com ele em um negócio de venda direta de complementos alimentares.

"Após a cirurgia, senti que começava uma nova vida, era mais eu mesma, minha própria personalidade, foi como finalmente chegar ao final de uma viagem", revelou Ronnakrit, com um terno cinza.

Sua vida, conta, é totalmente normal e feliz com Yollanda e o reconhecimento oficial de seu sexo serviria para facilitar atividades comuns, como ir ao banco, contratar um seguro ou realizar o sonho do casal: poder dizer "sim" em uma cerimônia nupcial. EFE

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