Silêncio na Casa Branca sobre o vazamento de documentos secretos pelo site WikiLeaks (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2010 às 09h36.
Washington - A Casa Branca não se pronunciou hoje sobre o vazamento de documentos feito pela WikiLeaks sobre a Guerra do Iraque, em meio a apelos internacionais para que os Estados Unidos digam por que fizeram vista grossa diante das torturas sistemáticas no país. A organização WikiLeaks divulgou ontem os relatórios de campo redigidos por soldados americanos entre 2004 e 2009.
Os jornais que tiveram acesso antecipado aos 391 mil documentos ("The Guardian","The New York Times", "Al Jazeera", "Der Spiegel" e "Le Monde") concluíram que os EUA ignoraram a maioria das denúncias de torturas, abusos, e até possíveis assassinatos, de centenas de prisioneiros por parte de forças iraquianas.
O jornal "The New York Times" afirmou que ignorar a maioria dos casos de abusos equivale a "indiferença institucional". O "Times" mencionou que a situação é preocupante pelo fato de que o plano de retirada do Iraque será feito a partir da transferência das funções de segurança à Polícia e ao Exército locais.
O relator especial da ONU sobre a tortura, Manfred Nowak, e a organização de direitos humanos Anistia Internacional fizeram um apelo hoje ao presidente dos EUA, Barack Obama, para que abra uma investigação sobre a participação de forças americanas em abusos dos direitos humanos no Iraque.
Nowak disse hoje à "BBC" que os Estados Unidos têm a obrigação moral e legal de investigar os casos de cumplicidade de soldados americanos em torturas. O relator da ONU insistiu que, caso sejam autênticos, os documentos provam claras violações da Convenção das Nações Unidas contra a tortura.
"Segundo o Convenção, existe a obrigação por parte dos Estados de criminalizar qualquer forma de tortura e de investigar qualquer caso, levar os culpados à Justiça e também oferecer às vítimas o direito a uma adequada compensação", disse Nowak.
A Anistia Internacional indicou em comunicado que, da mesma forma que os demais Governos, os EUA "têm a obrigação, sob o direito internacional, de assegurar que suas tropas não torturem e que as pessoas detidas por forças americanas não sejam entregues a autoridades que possam torturá-las".
Malcolm Smart, diretor da Anistia para o Oriente Médio, frisou que os Estados Unidos descumpriram essa obrigação no Iraque, apesar do "grande volume de provas" que a tortura está espalhada pelo país. De Londres, o fundador da WikiLeaks, Julian Assange, afirmou que os documentos mostram "a verdade" sobre a Guerra do Iraque. "Esperamos corrigir parte do ataque à verdade que ocorreu antes e durante a guerra e que continuou desde que ela terminou oficialmente", afirmou Assange.
Os relatórios também provocaram a reação do Governo iraquiano, que prometeu investigar as alegações de abusos. "O Governo não mostrará indulgência quando o que está em jogo é o direito de seus cidadãos", afirmou o escritório do primeiro-ministro interino iraquiano, Nouri al-Maliki, em comunicado.
O escritório do primeiro-ministro, que luta por manter-se no poder depois que as eleições do dia 7 de março não apontaram um ganhador claro, afirmou também que a difusão de documentos atenta contra sua reeleição. "Há objetivos políticos por trás desta campanha midiática e alguns buscam utilizar estes documentos contra os dirigentes nacionais, sobretudo o primeiro-ministro", diz o comunicado.
Enquanto isso, a Casa Branca mantém o silêncio diante do vazamento, condenado ontem pelo Pentágono, que declarou que "não há nada que possa indicar a existência de crimes de guerra", mas que são "300 nomes de iraquianos em possível perigo" pelo fato de o país ser "mais vulnerável" agora.
Previamente, a secretária de Estado, Hillary Clinton, tinha condenado "nos termos mais claros possíveis" qualquer vazamento de documentos que "ponham em perigo vidas americanas ou de seus aliados". Na mesma linha, o Governo britânico condenou hoje a difusão dos documentos que, "podem representar um risco para a vida das tropas". Os documentos recém-divulgados revelam também a morte de 15 mil civis que não tinham sido informadas até agora.