Cristina Kirchner durante visita ao papa Francisco: conteúdo da carta, uma saudação do papa a Cristina e ao povo argentino pelo 25 de maio, foi divulgado na manhã de hoje (REUTERS/Argentine Presidency)
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2014 às 22h24.
Buenos Aires - Uma carta que teria sido enviada pelo papa à presidente argentina, Cristina Kirchner, sem selo oficial, quase em tom coloquial e até com erros de ortografia deixou o governo perplexo quando um colaborador próximo do sumo pontífice garantiu que a carta, remetida pela Nunciatura, é falsa.
Em uma saga digna das comédias italianas, o secretário-geral da presidência argentina, Oscar Parrilli, e o secretário de Cultos, Ricardo Olivieri, decidiram falar com a imprensa para explicar o inexplicável: a carta chegou pelos canais diplomáticos "normais" e "frequentes", mas desconhecem se é ou não verdadeira.
O conteúdo da carta, uma saudação do papa a Cristina e ao povo argentino pelo 25 de maio, foi divulgado na manhã de hoje pela presidência argentina.
Horas depois, monsenhor Guillermo Karcher, colaborador de Francisco na Santa Sé, disse a um canal de televisão argentino que a carta era falsa. E afirmou que o papa não está zangado, mas se perguntou "a quem ocorreria fazer uma coisa assim".
"Foi feito com muito má fé", sustentou o colaborador de Jorge Bergoglio.
Após estas declarações, o governo gastou um par de horas para investigar o que passou. Enquanto, a cópia da carta continua disponível na página de imprensa da presidência na internet.
Segundo Olivieri, a carta foi entregue nesta quarta-feira à Secretaria de Culto, que depende da chancelaria argentina, pelo funcionário que habitualmente entrega a correspondência em nome do núncio apostólico em Buenos Aires, monsenhor Emil Paul Tscherrig.
Após as declarações de Karcher alertando que a carta era falsa, Olivieri se comunicou com a secretária do núncio, que confirmou que a carta saiu da delegação diplomática vaticana "com o procedimento correto, habitual e corrente".
A carta leva um membrete da Nunciatura Apostólica em Buenos Aires, embora sem selo, está datada no "Vaticano", sem acompanhamento, e nela o papa se dirige ao governante como "Cristina", sem mais, e é assinada simplesmente por "Francisco".
Ninguém reparou nesses detalhes, nem chamou a atenção o tom coloquial e nem até um erro ortográfico no texto.
"Agora nos damos conta, mas o trâmite era normal. Se a carta tivesse chegado a mim, diretamente, sem saber quem a enviou, teríamos tomado precauções, mas chegou como todas as cartas que chegam de Sua Santidade. Não havia nenhum motivo para duvidar", disse Parrilli.
Sobre a autenticidade ou não da carta, Parrilli disse que o governo não fará "conjeturas nem hipótese" sobre este ponto.
O secretário de Culto disse que fará averiguações adicionais com a embaixada argentina na Santa Sé, mas insistiu que a carta saiu da Nunciatura.
A chave para resolver este mistério parece ser o próprio núncio, mas o governo não conseguiu comunicar diretamente com o embaixador do Vaticano.
"A segurança da carta não é um tema nosso. O que nós temos que garantir é que a carta que recebemos foi enviada pela pessoa que diz que nos enviou. Depois é um problema interno da Nunciatura", explicou Parrilli.