Faixa com a inscrição 'Je Suis Charlie' (Eu sou Charlie) é exibida na frente de uma manifestação em memória das vítimas dos atentados no país (Denis Charlet/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de janeiro de 2015 às 09h58.
Berlim - Um grupo de caricaturistas franceses e francófonos pediu nesta segunda-feira que o ódio e a islamofobia sejam rejeitados perante a convocação, na cidade alemã de Dresden, da 12ª marcha do movimento islamofóbico Pegida.
Em sua recém-criada página bilíngue francês-alemão na rede social Facebook, a comunidade "Caricaturistas unidos contra Pegida" acusam os islamofóbicos "Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente" (Pegida) de tirar proveito "de maneira cínica" dos atentados terroristas na França.
"Nós, desenhistas franceses e francófonos, estamos horrorizados pelo assassinato de nossos amigos e nos produz repulsa como forças de direita tratam de instrumentalizar para seus fins" estas mortes, dizem os caricaturistas em sua chamada.
As vítimas de Paris não foram assassinadas por uma religião ou um mandato divino, mas por "ódio, ignorância, estupidez e extremismo", diz a mensagem.
A comunidade do Facebook, criada ontem e à qual já aderiram 387 pessoas, mostra várias caricaturas, entre elas a de uma hiena e um abutre que tratam de tirar proveito dos atentados terroristas.
A chamada é assinada por 14 caricaturistas, mas "vão se somando novos", assinalou um porta-voz.
Entre os signatários figura também o desenhista holandês "Willem" membro fundador e caricaturista da revista satírica francesa "Charlie Hebdo", alvo do pior atentado registrado na França em décadas e que sobreviveu porque no momento do ataque, se encontrava em um trem rumo a Paris.
Na quinta-feira, cerca de 200 caricaturistas e desenhistas de história em quadrinhos de língua alemã já tinham manifestado suas condolências e sua solidariedade com a redação da revista francesa.
Por sua vez, o titular alemão de Justiça, o social-democrata Heiko Maas, disse que a Pegida, "se tiver um resto de decência", desconvoque sua manifestação silenciosa de hoje, que pretende ser de luto pelas vítimas de "Charlie Hebdo".
Em declarações publicadas hoje pelo jornal "Bild" e adiantadas ontem, o ministro classifica de "repugnante" que esse movimento pretenda instrumentalizar o "atroz atentado" contra a revista e lembra que a própria Pegida acusava, uma semana atrás, os meios de comunicação de "assédio" e de pretender "difamar" como movimento.
Pegida tem convocada para esta tarde sua 12ª manifestação por Dresden, a cidade onde foi originado esse movimento e onde a cada segunda-feira, foi crescendo essas convocações, até alcançar o número dos 18 mil seguidores, uma semana atrás.
Até 35 mil manifestantes, segundo números das autoridades de Dresden, se somaram no sábado à marcha convocada pela capital do estado federado da Saxônia a favor da tolerância e em resposta às marchas de cada segunda-feira da Pegida.