Mundo

Cardeais iniciam o longo processo de escolha do novo papa

Cardeais católicos do mundo inteiro iniciam na sexta-feira o processo complexo, sigiloso e incerto de escolher o novo líder da maior Igreja do mundo


	Helicóptero que transportou o papa: alguns detalhes ainda estão indefinidos, já que Bento 16 rompeu a tradição de que os pontificados só terminam com a morte do papa
 (REUTERS/Alessandro Bianchi)

Helicóptero que transportou o papa: alguns detalhes ainda estão indefinidos, já que Bento 16 rompeu a tradição de que os pontificados só terminam com a morte do papa (REUTERS/Alessandro Bianchi)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de março de 2013 às 11h19.

Cidade do Vaticano - Agora que Bento 16 está oficialmente aposentado, cardeais católicos do mundo inteiro iniciam na sexta-feira o processo complexo, sigiloso e incerto de escolher o novo líder da maior Igreja do mundo.

Alguns detalhes ainda estão indefinidos, já que Bento 16 rompeu a tradição de que os pontificados só terminam com a morte do papa. Por isso, os "príncipes da Igreja" vão realizar uma discussão informal ainda na sexta-feira, antes de iniciarem oficialmente o processo, na segunda.

Não há um favorito claro entre os 115 cardeais-eleitores -- os cardeais com até 80 anos de idade-- que entrarão dentro de alguns dias na Capela Sistina para o conclave (nome do processo de escolha do papa). Por isso, discretamente os participantes vão usar os encontros preliminares para avaliar potenciais candidatos.

Eles também usarão as chamadas "congregações gerais" --as consultas a portas fechadas que antecedem o conclave-- para discutir futuros desafios, como melhoras na gestão do Vaticano, a necessidade de aperfeiçoar a comunicação da Igreja e a resposta à crise decorrente de abusos sexuais cometidos pelo clero nas últimas décadas.

Bento 16 encerrou na quinta-feira seu complicado pontificado de oito anos prometendo obediência incondicional ao sucessor. Ele é o primeiro papa em quase seis séculos a deixar o cargo com vida.


"A discussão que temos nas congregações será a mais importante para a preparação intelectual (para a escolha do novo papa)", disse o cardeal Sean O'Malley, arcebispo de Boston, acrescentando que os eleitores já estão se preparando espiritualmente para a votação, por meio de intensas orações.

"Eu imagino que cada um de nós tem uma espécie de lista de candidatos primários, e outros secundários", disse o cardeal Francis George, arcebispo de Chicago, numa entrevista coletiva ao lado de O'Malley e do também norte-americano Daniel DiNardo, arcebispo de Galveston-Houston.

Eleição misteriosa

Os conclaves estão entre as eleições mais misteriosas do mundo, sem candidatos declarados, sem campanha eleitoral explícita, e com eleitores que muitas vezes conhecem poucos dos seus colegas. Todos eles juram manter segredo sobre os detalhes da votação.

George disse que os cardeais consultam outros eleitores antes do conclave para saber mais sobre os "papáveis".

O'Malley, que participa do seu primeiro conclave e já é citado na imprensa italiana como potencial candidato, disse que tem "usado muito a Internet" para ler sobre os outros cardeais.


Tradicionalmente, os conclaves começam 15 dias depois da declaração de "sé vacante", o que inclui o tempo para o velório e sepultamento de um papa que morre. Mas Bento 16 baixou um decreto dias atrás autorizando a antecipação do processo eleitoral.

A partir de segunda-feira, os cardeais vão discutir a duração das congregações gerais antes do início do conclave --palavra que vem do latim "cum clave", ou seja, "com chave", já que os participantes ficam encerrados até que surja no Vaticano a fumaça branca e o anúncio de "habemus papam".

Os cardeais maiores de 80 anos não votam, mas podem participar das congregações gerais e discutir os desafios da Igreja com os cardeais-eleitores.

Embora não haja datas oficiais, o Vaticano parece ter a intenção de concluir a eleição até meados de março, para que o novo papa possa tomar posse antes do Domingo de Ramos, em 24 de março, e comandar as celebrações da Semana Santa e da Páscoa.

Voando para a história 

Os cardeais não terão acesso a um relatório secreto que foi preparado para Bento 16 por três cardeais não-eleitores, no qual eles detalham casos de má-gestão e disputas internas na Curia Romana, a burocracia vaticana. Mas os três autores do documento estarão nas congregações gerais e poderão orientar os eleitores a respeito das suas conclusões.


"Como não sabemos realmente o que está no relatório, acho que vamos depender dos cardeais na congregação para partilharem conosco o que acham que seria valioso que soubéssemos para tomar a decisão correta para o futuro", disse O'Malley.

Numa emotiva despedida aos cardeais na manhã de quinta-feira, entre os afrescos da Sala Clementina do Vaticano, Bento 16 pareceu enviar uma mensagem forte aos cardeais e fiéis para que se unam diante do sucessor dele, seja quem for.

O apelo foi significativo porque, pela primeira vez na história, haverá um papa pontificando no Palácio Apostólico , e um papa emérito vivendo em um pequeno monastério nos Jardins do Vaticano, a poucos metros de distância.

Bento 16 deixou o Vaticano na tarde de quinta-feira, de helicóptero, rumo à residência pontifícia de verão de Castel Gandolfo, ao sul de Roma, de modo a ficar distante do conclave e não influenciá-lo. Ele vai se mudar para o monastério quando for concluída uma reforma no edifício, daqui a cerca de dois meses.

Acompanhe tudo sobre:Bento XVICatólicosIgreja CatólicaPapas

Mais de Mundo

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história

RFK Jr promete reformular FDA e sinaliza confronto com a indústria farmacêutica

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde