Durante a campanha, Biden disse que suas prioridades eram a pandemia e a recuperação econômica (Sean Rayford/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 17h00.
Última atualização em 9 de dezembro de 2020 às 17h25.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, diz que suas prioridades quando assumir o cargo no próximo mês serão a pandemia e a recuperação econômica, mas o democrata enfrentará outra crise que não vai esperar: uma onda de migrantes desesperados na fronteira sul.
Dois furacões devastadores que destruíram e inundaram áreas da América Central no mês passado aumentaram o número de famílias que planejam a viagem arriscada para o norte. E, depois de um ano de proibições de viagens e aumento do desemprego, a demanda para chegar aos Estados Unidos já era alta.
“Haverá caravanas, que aumentarão nas próximas semanas”, disse José Luis González, coordenador da ONG Rede Jesuíta com Migrantes da Guatemala. “As pessoas não têm mais medo do coronavírus. Estão passando fome, perderam tudo e algumas cidades ainda estão inundadas.”
Biden se comprometeu a abolir muitas das políticas de migração de Donald Trump, incluindo a detenção prolongada e separação de famílias, que foram criadas para impedir a migração ilegal. Isso encoraja mais migrantes da América Central empobrecidos a fazer a viagem e testar o governo Biden, disse González.
“Quando há mudança de governo nos Estados Unidos ou no México, as caravanas começam a se mover porque buscam testar como as autoridades respondem”, disse. “O que eles veem é que aquele que disse que iria construir um muro e que odiava os latinos está saindo.”
Nas redes sociais, circulam anúncios de caravanas, grupos de migrantes que viajam juntos, saindo de San Pedro Sula, a segunda maior cidade de Honduras, que foi atingida pelas duas tempestades. A primeira caravana deve partir nos próximos dias e, a segunda, em meados de janeiro.
Assessores de Biden esperam se distanciar das políticas de Trump sem sinalizar que a fronteira está aberta, segundo pessoas a par do planejamento. Eles sabem que mudanças rápidas e radicais levarão mais pessoas a tentar a jornada para os Estados Unidos.
O indicado de Biden para liderar o Departamento de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, lidou com o aumento de migrantes durante o governo de Barack Obama, quando era vice-secretário. A resposta incluiu a abertura de centros de detenção para adultos com crianças e o aumento da fiscalização e deportações, atraindo críticas de grupos de direitos civis e de imigração.
“O presidente eleito Joe Biden restaurará a ordem, a dignidade e a justiça ao nosso sistema de imigração”, disse Ned Price, porta-voz da transição de Biden. “Em sua essência, sua política de imigração será impulsionada pela necessidade de manter as famílias unidas e acabar com a desastrosa política de separação familiar.”
Uma autoridade do Ministério de Relações Exteriores mexicano disse que a migração provavelmente continuará sendo um dos principais desafios nas relações Estados Unidos-México, acrescentando que o governo mexicano continuará a promover a cooperação para o desenvolvimento a fim de abordar as causas do problema e planeja lidar com isso juntamente com parceiros na região.
O número de pessoas detidas ou consideradas inadmissíveis ao longo da fronteira de cerca de 3.200 quilômetros entre o México e os Estados Unidos aumentou por seis meses consecutivos, de 17.000 em abril para mais de 69.000 em outubro, de acordo com a Alfândega e Proteção de Fronteiras.
Victor Espinal, de 31 anos, cuja casa em La Lima, Honduras, foi inundada pelos furacões Eta e Iota, planeja se juntar a uma das caravanas. Ele perdeu o emprego na empacotadora de bananas da Chiquita onde trabalhou por oito anos depois de uma enchente, e tem medo de não encontrar trabalho em breve.