Mundo

'Cara e perigosa': Alemanha não sabe o que fazer com mansão nazista de Joseph Goebbels

Abandonada e de manutenção cara, a residência é um fardo para o governo de Berlim

Joseph Goebbels foi ministro de propaganda do governo nazista de Adolf Hitler. (Getty Images/Getty Images)

Joseph Goebbels foi ministro de propaganda do governo nazista de Adolf Hitler. (Getty Images/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 14 de agosto de 2024 às 09h55.

A propriedade localizada às margens do lago Bogensee, ao norte de Berlim, é um dos legados mais complexos do regime nazista na Alemanha. Construída para Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, a casa representa um dos períodos mais sombrios da história do país. Hoje, essa propriedade enfrenta um dilema que reflete o peso de sua história: abandonada e de manutenção cara, a residência é um fardo para o governo de Berlim, que já não sabe o que fazer com o local. As informações são do The New York Times.

Construída pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial como um presente do Estado nazista a Goebbels, a casa foi projetada para exibir o poder e a influência do regime. Após a queda do nazismo e a divisão da Alemanha, o complexo foi utilizado pelo regime comunista da Alemanha Oriental como uma escola de doutrinação, adicionando outra camada de história ao local. No entanto, desde a reunificação alemã, a propriedade foi deixada para deteriorar, representando um pesado ônus financeiro para o Estado, que gasta anualmente cerca de 280.000 euros apenas para evitar que o local se desintegre completamente.

A casa de Goebbels não é um caso isolado na Alemanha. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o país tem lutado com a melhor forma de lidar com os remanescentes físicos do regime nazista. A estratégia inicial foi muitas vezes a de ignorar ou transformar esses locais, evitando assim a possibilidade de que se tornassem pontos de culto para ideologias perigosas. Exemplos como o apartamento de Adolf Hitler em Munique, que foi transformado em uma delegacia de polícia, refletem essa abordagem. No entanto, à medida que o tempo passa e o distanciamento histórico aumenta, há um debate crescente sobre a necessidade de preservar esses locais como uma forma de garantir que as gerações futuras nunca esqueçam os horrores do passado.

Renascimento da extrema-direita

O desafio de lidar com a casa de Goebbels também se insere em um contexto mais amplo de renascimento da extrema-direita na Europa, e particularmente na Alemanha.O governo de Berlim está consciente de que permitir que o local caia em mãos erradas poderia resultar em um ponto de encontro para grupos neonazistas, algo que as autoridades estão determinadas a evitar. A preocupação aumentou especialmente após uma tentativa de aquisição por parte de um grupo de extrema-direita conhecido como Reichsbürger, que nega a legitimidade do Estado alemão atual e busca restaurar as fronteiras do Reich.

Entre as propostas para o futuro da casa, uma das mais notáveis vem da Associação Judaica Europeia, que sugeriu transformar o local em um centro educacional dedicado ao combate ao ódio e ao extremismo. Embora essa proposta tenha encontrado apoio moral, enfrenta desafios financeiros significativos. O custo para restaurar e manter o local é alto, e o financiamento para tal projeto ainda não foi assegurado. Especialistas argumentam que, dada a importância histórica do local, o governo alemão deveria arcar com os custos de tal empreendimento como parte de seu compromisso contínuo de enfrentar seu passado.

Além dos desafios financeiros e logísticos, há também uma preocupação estética em relação à preservação de locais associados ao regime nazista. Manter esses edifícios em bom estado de conservação pode inadvertidamente reestetizar o regime que eles representam, criando um risco de romantização do passado. Ao mesmo tempo, deixá-los deteriorar completamente também pode significar uma perda irreparável de um importante testemunho histórico.

Enquanto o governo de Berlim continua a buscar uma solução para a villa de Goebbels, o tempo avança e a natureza toma conta do local. O futuro da propriedade permanece incerto, mas o debate em torno dela reflete o contínuo esforço da Alemanha em lidar com sua história complexa e em garantir que as lições do passado sejam lembradas. A solução, seja ela qual for, precisará equilibrar a necessidade de preservação histórica com a responsabilidade de evitar a glorificação de um passado sombrio.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaGuerrasNazismo

Mais de Mundo

MH370: o que se sabe sobre avião desaparecido há 10 anos; Malásia decidiu retomar buscas

Papa celebrará Angelus online e não da janela do Palácio Apostólico por resfriado

Albânia fechará o TikTok por pelo menos um ano

Drone ucraniano atinge prédio de 37 andares na Rússia; veja vídeo