Enfermeira atende pacientes com cólera numa instalação da Médicos sem Fronteiras em Porto Príncipe (Thony Belizaire/AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de julho de 2011 às 08h49.
Washington - Capacetes azuis nepaleses levaram ao Haiti a cepa de cólera responsável pela epidemia que deixou mais de 5.500 mortos naquele país, segundo um estudo publicado em um relatório do Centro para Controle e Prevenção de Doenças Americano (CDC).
A pesquisa, elaborada por uma equipe de médicos franceses, foi publicada pela revista "Emerging Infectious Diseases" de julho dos CDC.
É o primeiro estudo realizado fora do Haiti a indicar claramente uma correlação direta entre a chegada desse batalhão da ONU às imediações da pequena cidade de Mirebalais e a epidemia desencadeada no final de 2010.
"Houve uma correlação perfeita no tempo e no lugar entre a chegada dos soldados nepaleses, que vinham de uma região (no Nepal) que enfrentava um foco de cólera, e o surgimento dos primeiros casos na localidade de Meille, poucos dias depois", indicaram os autores do relatório.
"O isolamento de Meille, na parte central do Haiti, e a ausência de informações sobre a chegada de outros estrangeiros à região" tornam improvável que a cepa de cólera tenha chegado ao país "de outra forma".
Além disso, uma análise genética da cepa reforça a hipótese de sua origem longínqua, dizem estes médicos, que destacam que não havia observado nenhuma epidemia de cólera no país em mais de um século.
A infecção propagou-se rapidamente pelo rio Meille, no qual eram jogadas águas usadas e matérias fecais dos soldados nepaleses.
"Acreditamos que o rio Meille foi o vetor da cólera durante os primeiros dias da epidemia, ao veicular uma concentração suficiente da bactéria para provocar a infecção em uma pessoa que tivesse bebido dessa água", concluíram os autores da pesquisa.
Posteriormente, a bactéria propagou-se pelo rio Artibonite, do qual o Meille é afluente.
"Nossas investigações, assim como as análises estatísticas, revelam que a contaminação ocorreu simultaneamente em sete comunas situadas nas margens do Artibonite", destacaram os pesquisadores.
"Estamos cientes do relatório e, como com os demais, vamos estudar rapidamente suas conclusões", disse um porta-voz da ONU, Farhan Haq. "Vemos tudo isso com seriedade", completou.