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Caos do Brexit se agrava com moção de censura contra Theresa May

Apesar da catástrofe da véspera, é muito provável que a primeira-ministra sobreviva a mais uma moção de censura e permaneça no cargo

Theresa May: após derrota histórica da primeira-ministra do Reino Unido no Parlamento britânico por conta do brexit, governo enfraquece (Stefan Wermuth/Reuters)

Theresa May: após derrota histórica da primeira-ministra do Reino Unido no Parlamento britânico por conta do brexit, governo enfraquece (Stefan Wermuth/Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 11h31.

O governo de Theresa May enfrentará uma moção de censura, nesta quarta-feira (16), após a "humilhante" derrota de seu acordo de Brexit e, embora pareça que essa votação não vá prosperar, acentua o caos a apenas 72 dias da saída prevista da União Europeia (UE).

"Uma completa humilhação", dizia a capa do jornal Daily Telegraph, depois de os deputados infligirem a May, ontem, a pior derrota já registrada por um governo britânico desde 1920.

"May sofre uma derrota histórica", concordavam o jornal conservador The Times e o progressista The Guardian: 432 deputados - incluindo 118 do próprio Partido da premiê, o Conservador - votaram contra o acordo de Brexit negociado com Bruxelas. May obteve apenas 202 votos.

Muitos políticos britânicos teriam renunciado após um golpe dessa envergadura, mas não May, conhecida por sua tenacidade. A premiê disse estar determinada a tirar o país da UE, em conformidade com o resultado do referendo de 2016.

Nesse contexto, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, não conseguiu mais continuar adiando a apresentação de uma moção de censura contra o governo conservador. O debate será hoje, a partir das 13h locais (11h em Brasília) na Câmara dos Comuns, com votação às 19h (17h em Brasília).

Apesar da catástrofe da véspera, é muito provável que a primeira-ministra sobreviva mais uma vez.

O pequeno partido unionista norte-irlandês DUP já anunciou que, apesar de ter rejeitado o acordo do Brexit ontem, apoiará May para que possa voltar a Bruxelas para negociar. Com dez deputados, o DUP é essencial para que os Tories mantenham sua estreita maioria nesta Casa.

Muitos dos conservadores dissidentes devem seguir o mesmo caminho, já que não desejam perder o poder para Corbyn, em caso de eleições legislativas antecipadas.

"Contando os números dos partidos da oposição, é pouco provável que ganhemos", admitiu o braço direito do líder trabalhista, John McDonnell, em declarações à rede BBC.

Ele advertiu, porém, que "o ambiente no Parlamento neste momento é completamente imprevisível".

Obstinada

Se não for expulsa do poder, May volta ao Parlamento na segunda-feira com um plano B. Este novo texto deverá ser debatido, sujeito a emendas e votado.

"A primeira-ministra vai falar com os líderes parlamentares de toda Câmara e buscará uma via que conte com uma maioria", explicou Andrea Leadsome, representante do governo no Parlamento.

"O acordo da primeira-ministra é bom. Temos que encontrar o modo de que esse acordo, ou parte dele, ou um acordo alternativo - isso é negociável -, possa ser apresentado à UE, para poder completar o Brexit em 29 de março", acrescentou.

Se May continuar insistindo em defender seu acordo, é possível que pró-europeus e eurocéticos também se entrincheirem em suas posições, acentuando o drama em um Parlamento sem apoio majoritário para qualquer alternativa possível - desde um segundo referendo até um Brexit duro.

"Vamos parar de negociar como se nós e a UE estivéssemos do mesmo lado da mesa. Não estamos", escreveu no Daily Telegraph o ex-ministro do Brexit Davis David, que renunciou em julho passado por considerar que May fazia concessões inaceitáveis aos outros líderes europeus.

Na opinião de Anand Menon, professor de Política Europeia n King's College London, a primeira-ministra, "que é obstinada, voltará ao Parlamento e tentará de novo".

"Acho, porém, que a magnitude dessa derrota fará a UE se questionar se vale a pena fazer concessões, dado o número de deputados, os quais a primeira-ministra tem de convencer", acrescentou Menon.

Cada vez mais preocupada com as catastróficas consequências econômicas de um Brexit sem acordo, a principal patronal britânica, a Confederação da Indústria Britânica (CBI), pediu que se encontre um novo plano "imediatamente".

Hoje, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que "ainda temos tempo para negociar" um acordo sobre o Brexit, em função de eventuais propostas da premiê Theresa May.

"Ainda temos tempo para negociar, mas esperamos, agora, o que a primeira-ministra proporá", disse Merkel à imprensa, reconhecendo que "talvez se possa melhorar um, ou dois, pontos" do texto atual.

"Lamento muito que a Câmara dos Comuns britânica tenha rejeitado o acordo de ontem à noite (terça)", acrescentou.

"Queremos que as perdas - haverá, em qualquer caso - sejam as menores possíveis. Então, claro, tentaremos encontrar uma solução ordenada conjunta", completou Merkel.

Apenas o presidente da UE, Donald Tusk, ousou sugerir, porém, que Londres pode simplesmente dar marcha a ré.

"Se um acordo é impossível, e ninguém quer um Brexit sem acordo, quem terá, enfim, o valor de dizer qual é a única solução positiva?", tuitou.

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