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Câmara dos EUA vota a favor do impeachment de Donald Trump

Donald Trump se tornou assim o primeiro presidente americano a ter dois processos de impeachment aprovados na Câmara. Tema fica agora a cargo do Senado

Nancy Pelosi, presidente democrata da Câmara: a Casa aprovou impeachment contra o presidente Donald Trump (Brendan SMIALOWSKI/AFP)

Nancy Pelosi, presidente democrata da Câmara: a Casa aprovou impeachment contra o presidente Donald Trump (Brendan SMIALOWSKI/AFP)

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Carolina Riveira

Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 18h23.

Última atualização em 14 de janeiro de 2021 às 09h56.

A Câmara dos Estados Unidos votou a favor do impeachment contra o presidente Donald Trump. A maioria simples de votos necessários para que o impeachment fosse aceito, 217, foi atingida na tarde desta quarta-feira, 13.

O placar foi de 232 votos a favor e 197 contra, e o processo segue agora para o Senado.

Além dos democratas, que têm maioria na Câmara, foram dez votos de republicanos a favor do impeachment. Também ocorreram quatro abstenções, todas de republicanos.

Pela manhã, seis republicanos já haviam se declarado abertamente a favor do impeachment. Assim, uma das principais expectativas era verificar se o presidente teria maior número de desertores, o que pode influenciar também na decisão do Senado. Os senadores ficam agora a cargo de julgar a fase final do processo, o que deve acontecer quando a Casa voltar do recesso, a partir de 19 de janeiro.

Independentemente da decisão do Senado, Trump se tornou também o primeiro presidente a ter dois processos de impeachment aprovados pela Câmara. Seu primeiro impeachment aprovado foi no fim de 2019 — posteriormente rejeitado pelo Senado.

Desta vez, o pedido foi motivado pela invasão de apoiadores do presidente ao Congresso, no último dia 6 de janeiro. O episódio gerou cenas de guerra e deixou pelo menos cinco mortos. A justificativa no pedido de impeachment é por "incitação à insurreição", devido a publicações e declarações de Trump antes da invasão.

A votação desta quarta-feira acontece somente uma semana após as cenas de violência no Capitólio, que aconteceram enquanto o Congresso votava a ratificação da vitória de Joe Biden. Faltam também apenas sete dias para que Biden tome posse, em cerimônia marcada para 20 de janeiro.

Como o fim do mandato de Trump está próximo, o processo de impeachment se torna muito mais simbólico e definidor de futuro político do que de fato necessário para tirá-lo do poder.

O Senado terá o papel de julgar se Trump é culpado das acusações e pode decidir ainda, em votação separada, se o atual presidente perderá os direitos políticos, ficando impossibilitado de se candidatar novamente.

A votação no Senado tem resultado incerto. Na Câmara, os democratas tinham maioria e, além disso, a Casa só exigia maioria simples para o impeachment. No Senado, serão necessários dois terços dos senadores presentes.

Membros da Guarda Nacional dormem no Capitólio nesta quarta-feira: após a invasão da semana passada, tropas visam garantir a segurança do rito de impeachment (Brendan Smialowski/AFP)

Embora os democratas tenham conseguido empatar em número de senadores com a vitória de dois candidatos na Geórgia, com 50 para cada lado (e eventual desempate a ser feito pela vice-presidente eleita Kamala Harris), a votação pende para Trump na teoria.

Será preciso que pelo menos 17 republicanos dos 50 senadores do partido votem contra Trump. Abstenções, como as quatro que aconteceram hoje na Câmara, poderiam também reduzir a quantidade de votos necessárias, prejudicando o presidente.

Em janeiro do ano passado, em um rito muito mais demorado do que dessa vez e feito antes da pandemia, o primeiro processo de impeachment de Trump foi aprovado pela Câmara democrata, quando o presidente foi acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. Na sequência, o Senado, de maioria republicana, votou contra ambos os casos.

A grande dúvida é o quanto republicanos no Senado podem apoiar o impeachment desta vez. Ontem, o New York Times divulgou que o líder republicano na Casa, Mitch McConnell, estaria avaliando a ideia de apoiar em partes o processo para que Trump perca força internamente dentro do partido e em uma eventual nova candidatura em 2024.

A forma como a votação vai ocorrer no Senado também será decisiva. O Senado volta aos trabalhos em 19 de janeiro, e McConnel, que segue sendo o presidente até a posse dos novos senadores, já disse que não deve convocar uma votação antes dessa data.

Depois disso, não se sabe ainda como será a estratégia dos senadores democratas para o julgamento na Casa. O tema será espinhoso. Uma votação logo nos primeiros dias do governo Biden tem potencial para nublar o começo do mandato, após o democrata ser eleito com o discurso de que quer unir a nação.

Há um questionamento dentro do partido sobre se seria melhor esperar para votar o impeachment somente após o novo Congresso passar medidas mais urgentes, como pacotes de auxílio contra o coronavírus; mas a espera pode também tirar o momentum do caso e fazer o impeachment perder apoio.

Os americanos apoiam o impeachment?

Quase 53% dos americanos apoiam o impeachment, segundo a média das pesquisas sobre o tema compilada pelo site FiveThirtyEight. Outros 42% são contrários.

Na prática, a fatia de apoiadores do impeachment fica próxima ao percentual que já votou em Biden nas eleições presidenciais de novembro, quando o democrata venceu com quase 52% dos votos.

Apesar da invasão do Capitólio e todas as críticas recebidas por Trump desde então — incluindo dentro do próprio Partido Republicano —, o apoio ou não ao impeachment ainda tem forte relação com o partido dos eleitores, como mostram os números.

Dos que apoiam a retirada do presidente, 84% são democratas e 15,5% são republicanos. Entre os independentes, os fiéis da balança, a fatia de apoiadores do impeachment é de pouco menos da metade, em cerca de 49% (embora o número tenha subido três pontos percentuais desde a invasão).

Uma preocupação é que, em meio à divisão do país, novos atos de violência ocorram. Numa pesquisa do instituto YouGov com a CBS, 74% dos americanos avaliam que é provável que haja mais atos de violência em Washington D.C. na próxima semana, em meio à posse de Biden. FBI também alertou que grupos de extrema-direita planejam manifestações armadas nas capitais dos estados americanos neste fim de semana. 

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