Mundo

Câmara discute projeto que passa por cima da CLT

O texto do anteprojeto foi discutido em reunião de Marco Maia com os líderes na noite de segunda-feira passada

O projeto altera a forma de negociação do acordo coletivo (Arquivo/AGÊNCIA BRASIL/EXAME.com)

O projeto altera a forma de negociação do acordo coletivo (Arquivo/AGÊNCIA BRASIL/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2012 às 20h45.

Brasília - O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e os líderes partidários estão articulando a votação de projeto que dá poderes aos sindicatos de trabalhadores de fechar acordos coletivos com as empresas, passando por cima das regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O projeto flexibiliza a relação entre patrão e empregado, regida atualmente pela CLT, com a criação da figura jurídica do Acordo Coletivo de Trabalho com o Propósito Específico, chamado também de Acordo Coletivo Especial (ACE). O texto do anteprojeto foi discutido em reunião de Marco Maia com os líderes na noite de segunda-feira passada.

O projeto altera a forma de negociação do acordo coletivo. Enquanto a CLT prevê os acordos entre sindicatos de categorias econômicas, o ACE estabelece a possibilidade de o acordo ser fechado entre um único sindicato profissional e uma empresa do correspondente setor econômico. "O propósito do acordo está ligado às condições específicas da empresa e não às relações de trabalho de um setor econômico", explica a cartilha elaborada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e autor do anteprojeto de lei.

A proposta foi apresentada e defendida pelo presidente do sindicato do ABC, Sérgio Nobre, aos líderes em reunião com Marco Maia na segunda-feira. Na cartilha distribuída aos deputados, Nobre afirma que a CLT se tornou uma "faca de dois gumes". Ao mesmo tempo em que foi um passo importante para proteger direitos individuais dos trabalhadores, argumenta o dirigente sindical, a CLT limitou os direitos coletivos, tolheu a liberdade sindical e restringiu o campo das negociações coletivas.


O presidente da Câmara, cuja carreira política tem origem sindical, considerou a proposta "um avanço na legislação trabalhista brasileira". Deputados ligados ao setor empresarial apoiaram a iniciativa e consideraram que o projeto vai diminuir a pressão pela votação da proposta de emenda constitucional que fixa em 40 horas semanais a carga horária do trabalhador, favorecendo os acordos locais.

O líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), disse não se opor ao projeto, desde que ele não retire direitos dos trabalhadores, e enfatizou a necessidade de a Câmara não permitir a precarização trabalhista. "Temos de ter clareza que existem segmentos de trabalhadores que não têm representatividade sindical consistente e ficarão fragilizados em eventual discussão com setores patronais", disse Figueiredo, que esteve na reunião acompanhado do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical.

O líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), afirmou que a Câmara deve ter cuidado para não aniquilar o poder dos pequenos e médios sindicatos nas negociações trabalhistas. Ele entende que a proposta dá força aos grandes sindicatos. "Nós não podemos contribuir para que se consolide uma casta sindical tanto de trabalhadores quanto de empregadores", disse o líder tucano. Bruno Araújo afirmou que, nessa discussão, o princípio do partido será o de resguardar os direitos dos trabalhadores.

Acompanhe tudo sobre:Câmara dos DeputadosCongressoDireitos trabalhistasLegislaçãoPolítica no Brasil

Mais de Mundo

Agricultores franceses jogam esterco em prédio em ação contra acordo com Mercosul

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história