O presidente do Iêmen, Abdrabuh Hadi: presidente recebeu o apoio do sul do país e das monarquias do Golfo (Natalia Kolesnikova/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2015 às 16h35.
Sanaa - Os combates pararam nesta quarta-feira na capital do Iêmen, Sanaa, onde o "golpe" dos milicianos xiitas enfraqueceu consideravelmente o presidente que, no entanto, recebeu o apoio do sul do país e das monarquias do Golfo.
O agravamento da crise neste país, aliado dos Estados Unidos na luta contra a Al Qaeda, preocupa cada vez mais a comunidade internacional.
Em Washington, um alto funcionário do governo informou à AFP que os Estados Unidos estão acompanhando de perto a crise no país africano.
O presidente, Barack Obama, "está sendo informado (sobre a rebelião) por sua equipe de segurança", afirmou o funcionário.
"Condenamos energicamente a violência e aqueles que a usam em um esforço de impedir a transição política no Iêmen", prosseguiu, pedindo para ter sua identidade preservada.
"Continuaremos apoiando todos os esforços para se chegar a uma solução pacífica", acrescentou.
Nesta quarta, autoridades do Pentágono também anunciaram que o exército americano estava pronto para retirar o pessoal da embaixada dos Estados Unidos, caso necessário, mas por enquanto nenhuma decisão tinha sido tomada neste sentido.
Após o Conselho de Segurança das Nações Unidas fazê-lo na terça-feira, os países árabes do Golfo, vizinhos do Iêmen, acusaram nesta quarta a milícia xiita Ansaruallah de dar "um golpe contra o poder legítimo", ao tomar o palácio presidencial no dia anterior.
Os países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) expressaram seu apoio ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, no cargo há três anos.
Este último viu seu poder ainda mais enfraquecido pela tomada de seu palácio após dois dias de combates na capital, que fizeram ao menos 35 mortos e 94 feridos, segundo um balanço atualizado.
Apesar deste novo revés, Hadi se disse disposto nesta quarta a reunir todas as forças políticas, inclusive a milícia Ansaruallah, para encontrar uma saída pacífica para a crise. Esta reunião deve acontecer após a chegada em Sanaa do emissário da ONU para o Iêmen, Jamal Benomar, segundo uma fonte presidencial.
Aeroporto e porto fechados no sul
Em apoio ao presidente, as autoridades no sul do país fecharam nesta quarta-feira o aeroporto internacional e o porto de Áden, depois da tomada pelas milícias xiitas do palácio presidencial.
O Comitê de Segurança da província de Áden, leal ao presidente Abd Rabo Mansur Hadi, anunciou o fechamento do aeroporto e do porto em protesto contra "o ataque ao símbolo da soberania nacional e da legalidade constitucional que é o presidente".
Em Sanaa, a situação parecia calma nesta quarta, após os confrontos violentos entre os milicianos xiitas, conhecidos como huthis, e a guarda presidencial, segunda e terça-feiras.
O líder miliciano Abdel Malek al-Huthi criticou em um discurso televisionado as autoridades e ameaçou o presidente Hadi, que se encontra nesta quarta-feira em sua residência a oeste de Sanaa, de acordo com um de seus assessores.
"Todas as opções estão abertas", declarou o líder xiita, segurando uma faca sobre o ombro. "Ninguém, seja ele presidente ou não, pode escapar das nossas medidas caso conspire contra nós", insistiu.
Huthi desafia a ONU
Huthi afirmou ainda que seu movimento está disposto a enfrentar "qualquer ação" adotada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Por sua vez, o primeiro-ministro, Khaled Bahah, deixou sua residência no centro de Sanaa depois de permanecer cercado por dois dias.
Bahah pôde deixar em um veículo sua residência para um destino seguro após uma saída negociada com os milicianos, segundo o porta-voz do governo, Rajeh Badi.
Os milicianos huthis se apoderaram de grandes quantidades de armas que estavam no palácio presidencial, tomado na terça-feira após dois dias de combates com a guarda presidencial, que deixaram 18 mortos.
Em seu discurso, Abdel Malek al-Huthi acusou o presidente de amparar a "corrupção" vigente no país.
Este ressurgimento da violência no Iêmen, a crise mais grave nos últimos quatro meses, foi deflagrado pela rejeição dos huthis ao projeto de Constituição que divide o país em seis regiões e os priva do acesso ao mar.
A milícia Ansaruallah, que tenta há meses ampliar sua influência no Iêmen, assumiu o controle de grande parte de Sanaa a partir de setembro passado.
No entanto, oficiais militares leais ao presidente do Iêmen acusam o ex-presidente Ali Abdullah Saleh de apoiar ativamente as milícias huthis desde que entraram na capital.
Saleh foi deposto em uma revolta popular em 2011, mas mantém uma influência considerável e relações no exército e nas tribos.
O Iêmen, um país que faz fronteira com a Arábia Saudita, é estratégico no trânsito do petróleo que é exportado do Golfo e sofre há meses uma onda de violência, o que aumenta os temores de se tornar um Estado falido.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu na terça-feira a todos os grupos armados no Iêmen um cessar-fogo imediato.