Exatamente um ano depois da renúncia, ex-presidente Hosni Mubarak passou o dia diante de um tribunal (AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2012 às 15h54.
Cairo - Preocupados com a situação econômica, a maioria dos moradores do Cairo ignoraram neste sábado a convocação de uma greve geral e optaram por comparecer em seus trabalhos, exatamente um ano depois da renúncia do presidente Hosni Mubarak, que passou o dia diante de um tribunal.
A normalidade predominou no centro do Cairo e no distrito de Guiza, onde a maioria das lojas abriu como em qualquer outro sábado nesta jornada de desobediência civil, convocada por grupos revolucionários, sindicatos e estudantes, contra a Junta Militar que sucedeu Mubarak no poder.
Cafeterias, lojas de roupa, padarias e agências de viagens foram alguns dos comércios que abriram suas portas, enquanto o transporte público - metrô e ônibus - funcionou sem interrupções.
No aeroporto, não houve cancelamentos e os aviões decolaram e aterrissaram sem grandes atrasos.
'Não podemos fechar porque temos muitas reservas', disse à Agência Efe Mahmoud, funcionário da agência de viagens Safir, cujos escritórios estão em plena praça Tahrir, no centro da capital.
Mahmoud destacou que o turismo é um setor vital para o Egito e disse desaprovar a greve por que 'a economia está muito mal e precisamos trabalhar'.
Apesar da deterioração econômica, Mahmoud afirmou não culpar apenas Mubarak e uniu-se a uma corrente de pensamento muito difundida ente a população que também atribui os males do país ao Conselho Supremo das Forças Armadas.
Uma opinião compartilhada por Ayman Abderrahim, um açougueiro que atendia seus clientes hoje em um posto no mercado de Bab el Louk, próximo a Tahrir.
'O Conselho Militar deve entregar o poder a uma autoridade civil, mas primeiro é mais importante que se retome a produção e que melhore a economia', declarou Abderrahim, comentando que a vida agora é mais dura para os egípcios que há um ano, embora não sinta saudades do ex-presidente.
Apesar da convocação de trabalhadores em Tahrir, pela praça só estavam alguns de seus personagens frequentes: um ou outro revolucionário ainda acampado, sem-tetos e uma tropa de vendedores ambulantes.
Onde houve protestos foi em universidades como a do Cairo, onde uma centena de estudantes participou de uma manifestação que não alterou o ritmo das aulas nem das provas.
Entre os manifestantes estava Sara Rachad, estudante de Ciências, que levava um cartaz em espanhol e em árabe, feito por seus companheiros de filologia hispânica, que dizia 'greve, greve, até que caia a Junta'.
A jovem atribuiu a baixa adesão de estudantes ao protesto na universidade ao fato de ser o primeiro dia de aulas após as férias de inverno e que muitos haviam ficado em casa estudando.
Na cidade industrial de Mahala al Kubra, ao norte do Cairo, também houve protestos, que acabaram com quatro detidos: um jornalista australiano e sua tradutora egípcia, um estudante americano e um líder sindical egípcio.
Todos eles foram acusados de incitar os cidadãos à desobediência civil e de cometer atos de sabotagem.
Por sua parte, Mubarak, de 83 anos, compareceu neste sábado diante do tribunal que o julga por sua suposta responsabilidade no massacre de manifestantes durante a revolta que explodiu no dia 25 de janeiro do ano passado.
Ao contrário de outras ocasiões, a televisão egípcia não mostrou hoje as já tradicionais imagens do tirano entrando em uma maca na sede da corte, instalada na Academia de Polícia do Cairo.
No banco, Mubarak esteve acompanhado pelos demais acusados: seus dois filhos, Alá e Gamal, o ex-ministro do Interior, Habib al Adli, e seis de seus assessores.
A audiência se centrou em escutar os argumentos da defesa de um dos colaboradores do ex-ministro, que acusou 'partes estrangeiras' de participar do assassinato de manifestantes durante os protestos.
A defesa empregou uma linguagem similar à utilizada ontem à noite pela Junta Militar em comunicado dirigido ao povo egípcio por conta do aniversário da renúncia de Mubarak, no qual assegurou que não se renderá perante 'as conspirações' que tentam dividir o povo egípcio. EFE
ssa/rsd