Candidato à presidência da Venezuela Nicolas Maduro: Maduro, consciente do valor da família na Venezuela, faz campanha ao lado de seu filho, de seus netos e da sua esposa, Cilia Flores. (Tomas Bravo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2013 às 16h25.
Caracas - Um "burguesinho" submisso ao capitalismo e que "odeia a revolução", contra "um costas quentes (favorecido)" sem propostas, que tem como único mérito ter sido "nomeado por Hugo Chávez": assim se definem mutuamente Henrique Capriles e Nicolas Maduro, durante a batalha pela presidência venezuelana.
Em um país onde as pessoas vivem a política com uma intensidade surpreendente, as propostas para solucionar problemas reais, como a insegurança, dificuldades econômicas ou a gestão do petróleo, passam para segundo plano nesta campanha focada na personalidade dos candidatos.
"Votar em mim é votar no (falecido presidente Hugo) Chávez", lembra Maduro, favorito nas pesquisas. "Quem quiser dormir em paz, venha comigo", afirma Capriles.
"Dadas as circunstâncias: a morte de Chávez, a brevidade da campanha e o oportunismo chavista, Capriles optou por confrontar, enquanto Maduro preferiu imitar Chávez. Isso provocou uma campanha emocional, onde há pouco espaço para debates", declarou à AFP Alberto Barrera, colunista político e co-autor da biografia "Chávez sem uniforme".
A vertiginosa campanha venezuelana está impregnada de lágrimas por Chávez, inundada de insultos, ameaças e acusações de sabotagem e, por vezes, parece ter se reduzido a slogans ou canções pré-fabricadas utilizadas pelos candidatos.
"Na primeira semana da campanha vimos os dois candidatos percorrendo o país a uma velocidade nunca antes vista, mas não houve disputa de programas", lamentou em um debate na televisão Eleazar Díaz Rangel, diretor do jornal Ultimas Noticias, o mais lido no país.
Por 14 anos Hugo Chávez, carismático e incansável nas campanhas, conseguiu deixar a personalidade do líder mais visível do que suas propostas concretas.
Poucos venezuelanos conhecem os detalhes do programa dos candidatos, e a maioria vai escolher entre um advogado e um ex-motorista de ônibus autodidata; entre um cobiçado solteiro de 40 anos e um marido, pai e avô de 50 anos; entre um governador que ousou enfrentar Chávez e um socialista abençoado pelo falecido presidente; entre um político precoce que foi presidente da Câmara dos Deputados aos 26 anos e um ex-chanceler que cresceu à sombra de Chávez.
"Em um contexto de desespero, a oposição tende a se virar melhor porque passou muitos anos encurralada nas cordas, resistindo. Em contrapartida, o governo se mostrou histérico e ansioso", considera Barrera.
"Eu não sou oposição, sou a solução", afirma Capriles, que mudou de tática em relação à eleição presidencial de outubro, quando perdeu para Chávez, e desta vez apostou em ataques diretos e no uso de símbolos do próprio governo.
O candidato se veste de vermelho, a cor dos partidários de Chávez, uma camisa da companhia de petróleo estatal PDVSA, abraça a bandeira e chama a sua equipe de campanha "Simon Bolívar".
Para ele, Maduro é simplesmente "Nicolás", um homem "sem propostas" que as pessoas não escolheram e incapaz de resolver os problemas do país.
"Capriles melhorou a sua imagem e estilo de campanha. Afiou sua oratória, tem mais confiança e sabe qual deve ser o seu ponto de ataque", indica Alexandre Luzardo, doutor em direito político e professor da Universidade Central da Venezuela.
Frente a ele, Maduro aposta em uma campanha em nome de Chávez e seu programa. A voz em "off" do falecido presidente precede seus comícios e sua imagem inspira seus discursos.
"Ajuda-me a ser um bom comandante-em-chefe. Eu não sou Chávez, vocês sabem, mas sou seu filho", insiste.
Maduro respondeu Capriles com a já popular "canção da obsessão".
"Está obcecado por mim. Não para de chamar meu nome. Nicolassssssss, Nicolasssssss!", ridiculariza Maduro, movendo o corpo como se estivesse tendo um colapso nervoso.
Para o herdeiro de Chávez, seu oponente é "um homem sustentado", que "nunca trabalhou", tem um apartamento em Nova York, vai vender o país aos empresários e esquecerá os trabalhadores. "Não é um dos nossos", diz a seus seguidores.
Maduro, consciente do valor da família na Venezuela, faz campanha ao lado de seu filho, de seus netos e da sua esposa, Cilia Flores, um peso pesado no PSUV (partido no poder), enquanto Capriles é o solteiro de ouro do país.
"Na política nunca subestime alguém. Chávez elegeu Maduro, e teve seus motivos porque havia outras pessoas. Maduro é um homem com experiência política e com uma profunda formação, mais elevada do que as críticas que pode receber", considera Luzardo.
Para Barrera, os dias mais agressivos estão por vir e devem começar a partir de 11 de abril, quando a campanha termina oficialmente. "Entre 11 e 14 de abril veremos o Estado contra Capriles", prevê Barrera.