Mundo

Budistas de Mianmar confessam ter incendiado casas de rohingyas

A maioria dos habitantes do país de maioria budista considera os rohingyas como imigrantes muçulmanos indesejáveis de Bangladesh

Rohingyas : Nos últimos anos o governo confinou mais de 100 mil rohingyas em campos onde têm acesso limitado a alimentação, remédios e educação. (Mohammad Ponir Hossain/Reuters)

Rohingyas : Nos últimos anos o governo confinou mais de 100 mil rohingyas em campos onde têm acesso limitado a alimentação, remédios e educação. (Mohammad Ponir Hossain/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 9 de fevereiro de 2018 às 09h46.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2018 às 09h58.

INN DIN, Mianmar - Amarrados juntos, 10 cativos rohingyas viram seus vizinhos budistas cavarem uma vala. Pouco depois, na manhã de 2 de setembro, todos os 10 estavam mortos. Ao menos dois deles morreram decepados por moradores budistas, e os outros foram baleados por soldados, segundo dois daqueles que abriram a vala.

As mortes marcaram mais um episódio da violência que assola o Estado de Rakhine, no norte do país. Os rohingyas acusam o Exército de cometer incêndios criminosos, estupros e assassinatos. A Organização das Nações Unidas (ONU) disse que o Exército pode ter cometido genocídio. Mianmar diz que sua "operação de libertação" é uma resposta legítima a ataques de insurgentes.

Os rohingyas afirmam estar presentes em Rakhine há séculos, mas a maioria dos habitantes do país de maioria budista os considera imigrantes muçulmanos indesejáveis de Bangladesh. O Exército se refere aos rohingyas como "bengalis", e a maioria não tem cidadania.

Nos últimos anos o governo confinou mais de 100 mil rohingyas em campos onde têm acesso limitado a alimentação, remédios e educação. Desde agosto, quase 690 mil deles fugiram de seus vilarejos e cruzaram a fronteira com Bangladesh.

A Reuters apurou o que aconteceu nos dias que antecederam o massacre em Inn Din, amparando-se pela primeira vez em entrevistas feitas com moradores budistas que confessaram ter incendiado casas de rohingyas, enterrado corpos e matado muçulmanos.

Esta reportagem também marca a primeira vez em que soldados e policiais paramilitares foram implicados por testemunhos de agentes de segurança. Três fotos, fornecidas à Reuters por um ancião budista de um vilarejo, flagraram momentos cruciais, da detenção de homens rohingyas por parte de soldados no início da noite de 1º de setembro à sua execução pouco depois das 10h do dia seguinte.

A investigação da Reuters levou autoridades policiais a prenderem dois dos repórteres da agência, Wa Lone e Kyaw Soe Oo, em 12 de dezembro, por supostamente terem obtido documentos confidenciais relacionados a Rakhine. No dia 10 de janeiro os militares emitiram um comunicado que confirmou partes do que a Reuters estava se preparando para relatar, admitindo que 10 homens rohingyas foram massacrados em Inn Din.

Mas a versão dos militares para o acontecimento é refutada em aspectos importantes por relatos fornecidos à Reuters por budistas de Rakhine e testemunhas rohingyas.

Acompanhe tudo sobre:Crises em empresasDireitos HumanosMianmarViolência urbana

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru