Refugiados, a maioria do Oriente Médio, dormem ao relentopara encontrar um traficante que os leve ao Ocidente do continente. (Reuters / Marko Djurica)
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2015 às 08h58.
Budapeste, 29 ago.- Budapeste se transformou na última etapa para milhares de pessoas na longa e perigosa viagem rumo ao sonho de receber asilo em um dos países ricos da Europa Ocidental, especialmente Alemanha, Suécia e Reino Unido.
Os refugiados, a maioria do Oriente Médio, dormem ao relento perto das estações de trem da capital da Hungria para entrar em um vagão ou ônibus, ou para encontrar um traficante que os leve ao Ocidente do continente.
Uma viagem que pode inclusive ser fatal, como a que aconteceu nesta quinta-feira quando um caminhão de placa húngara foi encontrado em uma estrada da Áustria com 71 corpos. Mesmo assim, os refugiados continuam se arriscando e sonhando com uma vida melhor.
"Alemanha. Não penso em outro país", afirmou categórico à Agência Efe um jovem dentista afegão que chegou a Budapeste depois de passar por Turquia, Grécia, Macedônia e Sérvia.
De fato, não é fácil passar pela fronteira austro-húngara, já que as polícias de ambos os países fazem um trabalho conjunto e interceptam a maioria dos refugiados, afirmou Matyasovszky-Németh Márton, voluntário da organização humanitária Migration Aid.
Apesar disso, as estações de trem de Budapeste e suas imediações se transformaram em verdadeiros acampamentos, aonde os refugiados chegam a passar dias esperando. Os que estão por lá agora representam apenas uma pequena parte dos 140 mil imigrantes estimados que entraram na Hungria vindos da Sérvia neste ano.
Na estação do Oeste (Nyugati Pályaudvar), a prefeitura de Budapeste disponibilizou um terreno chamado "Zona de Passagem", para os refugiados tomarem banho, receberem atendimento médico, carregarem os celulares ou simplesmente descansar.
Lá, incontáveis voluntários húngaros os aguardam e, apesar de saberem que eles desejam chegar a outro país europeu, aconselham a voltar ao centro de amparo que lhes foi indicado no momento da entrada. No entanto, estes centros estão superlotados há meses e, segundo as organizações humanitárias, as condições estão longe se ser boas.
Há algumas semanas, as autoridades húngaras estão instalando uma cerca de 1,5 metro de altura, trabalho que deverá ser concluído nos próximos dias. Um último obstáculo no longo caminho percorrido.
"Ultrapassar a cerca não foi problema. Isso não ia nos impedir", contaram dois jovens afegãos sorrindo, embora muitos outros se apressem em chegar à Hungria antes da cerca ser totalmente colocada.
Trata-se de um alambrado, mais simbólico do que efetivo, e que os refugiados já começaram a cruzar sem maiores problemas, incluindo idosos, usando cobertores ou sacos de dormir para não se machucar. Apesar da nova barreira e a retórica hostil do governo conservador nacionalista, muitos refugiados agradecem.
"Não esperava me deparar com isto. Em outros países nos tratavam mal", relatou um jovem afegão, ressaltando a amabilidade e a ajuda que recebeu dos voluntários em Budapeste.
Diferente é a atitude do governo do país, que considera os refugiados uma "ameaça" e que não para de apresentar novas e mais severas medidas para frear a entrada dessas pessoas que fogem da tristeza, da guerra e dos sérios problemas de seus países.
A última decisão foi a de enviar milhares de policiais, e provavelmente soldados, à fronteira sul, e criar uma lei que transforme o cruzamento da fronteira em crime.
Nas chamadas "Zonas de Passagem" de Budapeste, a maioria permanece no máximo um dia e tenta empreender o último trecho rumo à Europa Ocidental, enquanto uma minoria vai a um acampamento criado pelas autoridades.
Alguns contam que estão "esperando um amigo", o que segundo o voluntário Matyasovszky significa que têm um encontro com um traficante, que enriquecem com o desespero dos imigrantes.
"Os sírios parecem ser mais bem informados do que os outros. Ele são mais organizados, o que, em parte, se deve ao fato de terem amigos ou parentes na Alemanha e em outros países", comentou o voluntário.
Inevitavelmente, a cidade já sente a chegada dos sete mil refugiados que passaram da Macedônia à Sérvia no fim de semana passado. Os voluntários, por sua vez, se preocupam, já que temem que o número de imigrantes aumente nos próximos dias.
A incógnita agora é que efeito terá a segunda parte da cerca - de quatro metros de altura - que o governo húngaro pretende terminar até novembro. Por isso, países vizinhos, como Croácia e Romênia, já começaram a tomar as primeiras medidas de precaução perante um possível desvio do fluxo migratório rumo a seus territórios. EFE