Atentado: a Bélgica, um pequeno país de 11 milhões de habitantes, tem proporcionalmente o maior número de extremistas que decidiram lutar na Síria ou no Iraque (Kenzo Tribouillard / AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2016 às 17h27.
Bruxelas, considerada por muitos como um verdadeiro santuários de islamitas radicais na Europa, virou nesta terça-feira objetivo de um ataque extremista, o pior da história da cidade e do país.
Os atentados no aeroporto internacional e no metrô da capital europeia, que deixaram ao menos 34 mortos e 200 feridos, acontecem quatro dias depois da captura do principal suspeito dos atentados de Paris, Salah Abdeslam.
O francês de 26 anos, que estava há quatro meses foragido, foi capturado na sexta-feira, em Molenbeek, o bairro de Bruxelas onde cresceu, a poucos metros da casa de sua família.
"É muito provável que o ataque (desta terça) tenha sido planejado e preparado muito antes da prisão, na semana passada, de Salah Abdeslam", uma das figuras centrais dos ataques de 13 de novembro, explica à AFP Shiraz Maher, do Centro Internacional de Estudos da Radicalização (ICSR) do King's College de Londres.
"Isso demonstra a existência de uma rede terrorista ampla e sofisticada na Bélgica, que vai além do que a que atacou a França no ano passado", assegura.
Em um comunicado publicado na internet em árabe e em francês, o grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou os atentados contra a "Bélgica cruzada", acusando o país de "lutar contra o Islã e contra os muçulmanos".
A Bélgica, um pequeno país de 11 milhões de habitantes, tem proporcionalmente o maior número de extremistas que decidiram lutar na Síria ou no Iraque.
No total, foram detectados 494 radicais belgas: dos 272 na Síria ou no Iraque, 75 morreram, 134 voltaram e 13 estão a caminho, segundo serviços de segurança e inteligência do país.
Com relação à população total, trata-se de uma proporção duas vezes maior que na França e quatro vezes maior que na Grã-Bretanha, segundo o especialista britânico.
A Bélgica parece ter se convertido assim em um refúgio para os radicais, apesar do reforço de sua legislação antiterrorista e do desmantelamento de redes e células jihadistas desde os anos 1990.
Nebulosa
Um dos epicentros parece ser Molenbeek, onde há uma importante comunidade muçulmana, em sua origem de maioria marroquina. O bairro tem um alto nível de desemprego e de delinquência.
Por lá passaram Salah Abdeslam e seu irmão, que acionou seu cinturão de explosivos em Paris em 13 de novembro.
Também passaram, em 2001, os assassinos do comandante Ahmed Shah Massud no Afeganistão, condenado como um dos cérebros dos atentados de 2004 em Madrid (191 mortos), e Mehdi Nemmouche, principal suspeito do atentado contra o museu judeu de Bruxelas, em maio de 2014.
Ayoub El Khazzani, que fracassou em seu plano de atacar o trem bala de Thalys Amsterdã-Paris, esteve em Molenbeek, na casa de sua irmã, e uma célula extremista desmantelada em janeiro em Verviers (leste), também tinha conexões no bairro.
Um dos supostos organizadores dos atentados de Paris, Abdelhamid Abaaud, abatido pelas forças de segurança francesas, também era oriundo desse bairro.
As investigações em curso desde os atentados de Paris revelaram a existência de uma nebulosa extremista mais importante do que se pensava inicialmente.
Salah Abdeslam parece ter tio apoio durante os quatro meses em que ficou foragido. "Estava disposto a voltar para fazer algo em Bruxelas", afirmou o ministro belga das Relações Exteriores, Didier Reynders, baseando-se em declarações do suspeito à justiça.
"E talvez seja essa a realidade porque encontramos muitas armas pesadas durante as primeiras investigações, e encontramos uma nova rede a seu redor em Bruxelas", afirmou na ocasião.
Os investigadores também afirmaram na segunda-feira ter encontrado dois detonadores em um apartamento revistado na semana passada.