Gwendolen Morgan, advogada de David Miranda, conversa com a imprensa em frente a Alta Corte em Londres, Inglaterra (Suzanne Plunkett/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2013 às 17h22.
Londres - A polícia de Londres declarou nesta quinta-feira que o material apreendido com o companheiro brasileiro de um jornalista que fez reportagens com base em informações de inteligência vazadas por Edward Snowden é "altamente sensível" e, se revelado, pode colocar vidas em risco.
Detetives antiterroristas afirmaram ter iniciado uma investigação criminal após um exame preliminar do material que estava com David Miranda, namorado do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que foi interrogado por nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, no domingo.
Miranda, que transportava documentos fornecidos por uma jornalista que mora em Berlim, também ligada a Snowden, para Greenwald, foi liberado sem acusações, mas teve confiscados seu computador, telefone, um disco rígido e cartões de memória.
A investigação é a mais recente reviravolta em um escândalo de vigilância que tem colocado o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, contra o governo da Rússia, que concedeu asilo temporário a Snowden, e levou assessores do primeiro-ministro britânico, David Cameron, a exigirem a devolução dos segredos em posse do jornal britânico The Guardian.
"Um exame inicial do material apreendido identificou um material altamente sensível, cuja divulgação poderia colocar vidas em risco", afirmou a Polícia Metropolitana de Londres em comunicado.
A polícia se recusou a dar mais detalhes sobre a investigação criminal, e a advogada de Miranda, Gwendolen Morgan, disse a jornalistas que sabia muito pouco sobre a investigação ou em que estava baseada.
Em uma audiência na Corte Superior de Londres, advogados de Miranda tentaram impedir que as autoridades britânicas vasculhassem as dezenas de milhares de documentos contidos nos dispositivos apreendidos.
No entanto, dois juízes deram às autoridades até 30 de agosto para inspecionar os documentos com o objetivo de defender a segurança nacional e investigar eventuais ligações com o terrorismo.
"Nós saudamos a decisão do tribunal que permite o exame do material, que contém milhares de documentos secretos, a fim de proteger a vida e a segurança nacional", afirmou a polícia em nota.
Greenwald, que vive no Rio de Janeiro e escreve para o jornal britânico The Guardian, publicou reportagens baseadas em documentos vazados por Snowden, um ex-prestador de serviço da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), que enfrenta acusações criminais em seu país.
Liberdade de Imprensa
Agentes de segurança britânicos disseram que os vazamentos de Snowden, que revelaram a escala da vigilância realizada por EUA e Grã-Bretanha sobre todas as comunicações, desde chamadas telefônicas a e-mails e o uso de redes sociais, minaram a segurança nacional e podem colocar vidas em risco.
Mas a detenção temporária de Miranda e a pressão do governo britânico sobre o jornal The Guardian têm arrastado Cameron a uma discussão internacional sobre liberdade de imprensa e os poderes dos serviços de segurança.
A Alemanha criticou a Grã-Bretanha, enquanto a Rússia, que concedeu asilo temporário a Snowden, acusou o governo britânico de padrões dúbios sobre liberdade de imprensa.
O governo brasileiro, que se queixou sobre a detenção "injustificada" de Miranda, pediu à Grã-Bretanha para devolver os equipamentos eletrônicos apreendidos do brasileiro.
Não ficou claro quais documentos Miranda carregava ou quais segredos poderiam ter levado a Grã-Bretanha a agir de tal forma. Greenwald disse que a Inglaterra iria se arrepender de suas ações que, segundo ele, foram uma tentativa de intimidá-lo.
David Anderson, um advogado que atua como Revisor Independente da Legislação de Terrorismo da Grã-Bretanha, escreveu nesta quinta-feira à ministra do Interior, Theresa May, para dizer que investigará se os poderes usados pela polícia para deter Miranda foram usados legalmente.
Os advogados do brasileiro também abriram um processo pedindo que juízes determinem que a detenção dele foi ilegal e sua advogada Morgan afirmou que pode tentar recorrer da decisão da Corte Superior, que permitiu que a polícia continuasse inspecionando o material apreendido.
O Guardian afirmou nesta quinta-feira que Miranda está envolvido em atividade jornalística legítima. "Nós ... temos sérias preocupações de que o julgamento de hoje permite que a polícia analise o material jornalístico apreendido de David Miranda sem qualquer supervisão legal", segundo comunicado em seu site.