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Briga com a Índia, crise econômica e Brics: entenda por que Xi Jinping não vai ao G20

Ausência do presidente chinês em um dos fóruns internacionais mais importantes do mundo expõe uma mudança importante na política externa do país

Pode ser devido a disputas diplomáticas com a Índia que Xi esteja desprezando a reunião do G-20, que será sediado por Nova Délhi (Justin Chin/Getty Images)

Pode ser devido a disputas diplomáticas com a Índia que Xi esteja desprezando a reunião do G-20, que será sediado por Nova Délhi (Justin Chin/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 4 de setembro de 2023 às 12h40.

O presidente da China, Xi Jinping, iniciou seu terceiro mandato com uma campanha diplomática que reforçou a sua imagem como estadista global. Poucos meses depois, contudo, ele estará ausente do principal fórum internacional de líderes mundiais, a cúpula do G-20 – e não está exatamente claro o porquê.

Pode ser devido a disputas diplomáticas com a Índia que Xi esteja desprezando a reunião do G-20, que será sediado por Nova Délhi. Talvez queira reforçar o recém-ampliado Brics. Talvez ele queira ficar em casa para lidar com os problemas econômicos da China, com uma das maiores empresas imobiliárias do país à beira do default.

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Seja qual for o motivo, a sua ausência marca uma grande mudança no modus operandi de Xi. O líder chinês participou de todas as cúpulas de líderes do G-20 desde que assumiu o poder em 2012, e também procurou reforçar a sua imagem como pacificador desde que emergiu de três anos de isolamento da Covid-19 na reunião do ano passado em Bali, na Indonésia. Naquela altura, Xi salientou a importância do diálogo, dizendo ao presidente dos EUA, Joe Biden, que era responsabilidade de um estadista “dar-se bem com outros países”.

Agora, Xi está adotando uma abordagem diferente, evitando um evento em que provavelmente enfrentaria questões espinhosas sobre a trajetória econômica da China, a agressão militar de Pequim contra Taiwan e o seu apoio à Rússia após a invasão da Ucrânia. Essa medida também reforça as preocupações dos investidores de que a China se está a tornar cada vez mais imprevisível, tendo a secretária do Comércio dos EUA, Gina Raimondo, afirmado na semana passada que as empresas na China lhe disseram que as mudanças políticas abruptas tornaram a nação quase “ininvestível”.

O Ministério das Relações Exteriores da China anunciou na segunda-feira que o primeiro-ministro Li Qiang liderará a delegação de Pequim ao G-20, confirmando, na verdade, relatórios anteriores que Xi ignoraria a reunião.

— O primeiro-ministro Li Qiang irá desta vez elaborar a visão e a posição da China — disse a porta-voz Mao Ning em uma coletiva de imprensa em Pequim. —Estamos prontos para trabalhar com todas as partes envolvidas para garantir uma realização bem-sucedida da reunião do G-20.

A não aparição do líder chinês no G-20 tornou-se ainda mais flagrante pela sua recente viagem à África do Sul para uma cúpula do Brics que também incluiu a Índia. Minar o grande momento do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, tão pouco tempo depois iria revelar os limites da capacidade desse bloco de falar como uma voz unificada, ou servir como uma alternativa credível aos agrupamentos liderados pelos EUA.

O seu próximo grande evento no cenário mundial será o Fórum do Cinturão e Rota, em Pequim, em outubro, no qual o presidente russo, Vladimir Putin – que também está ausente do G-20 – confirmou que participará.

Xi tem agora uma “mentalidade de imperador” e espera que líderes internacionais venham até ele, de acordo com Alfred Wu, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Singapura. Líderes da Alemanha e da França, juntamente com quatro autoridades do governo Biden, visitaram Pequim desde que a China suspendeu os controles da Covid-19.

— Xi goza de um status muito elevado quando recebe convidados estrangeiros em seu país — acrescentou Wu. — Ele também recebeu tratamento especial na cúpula do Brics. Mas é improvável que ele consiga isso no G-20.

Em novembro passado, depois de se tornar o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-tung, em um congresso do Partido Comunista chinês que ocorre uma vez a cada cinco anos, Xi embarcou em uma campanha turbulenta para revigorar a influência de Pequim no cenário mundial. Isto foi reforçado em sua primeira reunião de cúpula presencial com Biden, ajudando a reduzir temporariamente as tensões sobre Taiwan, os controlos de exportação de tecnologia avançada e uma série de questões de direitos humanos.

Depois, em março, Xi negociou um acordo histórico entre a Arábia Saudita e o Irã e viajou para Moscou, reforçando sua posição como o aliado mais poderoso de Vladimir Putin. Pouco depois, o líder chinês manteve as suas primeiras conversas com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, desde a invasão da Rússia, tornando-se uma das poucas pessoas no planeta a manter diálogo com líderes de ambos os lados da guerra.

Mas depois dessa onda inicial de diplomacia, Xi reduziu significativamente as suas viagens internacionais: o líder chinês deixou o seu país duas vezes neste ano – em comparação com uma média de 14 viagens ao estrangeiro por ano antes da pandemia.

Um diplomata em Pequim, que anteriormente esteve baseado em Nova Deli, suspeitou que Xi tinha pouco interesse em participar de um evento que visava reforçar o perfil global de um rival com quem a China tem disputas territoriais.

A relutância em abraçar o momento da Índia negará a Xi a oportunidade de diálogo pessoal com líderes de membros amigos do G-20, como a Argentina e a Arábia Saudita. A cúpula também o teria colocado frente a frente com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, em um momento em que as potências asiáticas entram em conflito sobre o despejo de águas residuais nucleares tratadas por Tóquio.

Xi está concentrado em reforçar o poder crescente da China em grupos confiáveis, disse Drew Thompson, antigo funcionário do Pentágono e membro sénior da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Singapura.

— A China procura dominar um grupo de Estados menores e menos desenvolvidos, como o Brics ou a Organização de Cooperação de Xangai, onde a China pode ditar a agenda — acrescentou.

Comportamento imprevisível

A decisão de Xi de rejeitar o G-20 também destaca a falta de transparência na segunda maior economia da Ásia. Em julho, ele demitiu abruptamente o ministro das Relações Exteriores escolhido a dedo, Qin Gang, sem explicação, depois de apenas sete meses no cargo.

No mês passado, Xi deixou de proferir um discurso programado no Fórum Empresarial do Brics, apesar de outros líderes do bloco terem discursado no evento. Em vez disso, os delegados foram recebidos no palco pelo Ministro do Comércio, Wang Wentao, que leu o texto. A mídia estatal de língua chinesa informou que Xi fez o discurso.

O conforto de Xi em delegar em grandes eventos sugere que sua liderança está se tornando mais parecida com a de Mao, já que ele prefere se concentrar em grandes visões em vez de na política diária, disse Neil Thomas, pesquisador de política chinesa no Centro de Análise da China do Asia Society Policy Institute, alertando que essa abordagem também acarreta riscos.

— Quanto mais Xi avança neste caminho, mais a formulação de políticas estará desligada dos desafios crescentes — acrescentou Thomas.

A próxima grande aparição do presidente chinês fora da China deverá ocorrer na cúpula dos líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em São Francisco, em Novembro. A alegada decisão da Casa Branca de proibir o líder de Hong Kong no evento porque está sujeito a sanções dos EUA, no entanto, lançou dúvidas sobre a presença de Xi.

— Certamente o ímpeto para o diálogo não está maduro — disse Karin Vazquez, professora associada de prática diplomática na O.P. Jindal Global University da Índia, em Xangai, observando que as declarações conjuntas nas cúpulas do G-20 foram frustradas por ideologias conflitantes nos últimos anos.

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A ostentação dos países membros em tais eventos tornou-se rotina, acrescentou Josef Gregory Mahoney, professor de política e relações internacionais na Universidade Normal da China Oriental de Xangai.

— Os laços bilaterais China-Índia têm mais impacto aqui do que os laços China-EUA — disse ele. — Isso levanta a questão de saber se o G-20 está chegando ao fim da sua vida útil efetiva

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