Barack Obama: grande pergunta que se faz agora em Washington é se Obama poderá utilizar o que resta da "relação especial" para tornar mais tranquila esta saída (Carlos Barria / Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2016 às 19h00.
Washington - A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia representa um duro golpe para uma das alianças mais importantes dos Estados Unidos e também sua influência na Europa.
A grande pergunta que se faz agora em Washington é se Obama poderá utilizar o que resta da "relação especial" para tornar mais tranquila esta saída e limitar o impacto para a segurança da região e a economia global.
Obama havia viajado a Londres durante a campanha pelo referendo para apoiar a titubeante campanha de seu amigo, o primeiro-ministro David Cameron, a favor da permanência na UE.
O presidente americano defendeu imediatamente nesta sexta-feira a duradoura "relação especial", uma frase alcunhada por Winston Churchill em 1946 depois da vitória aliada na II Guerra Mundial.
Analistas coincidem em apontar que o resultado do referendo é um duro golpe para a aliança e para os interesses americanos, e pediram que Obama ajude a ajeitar as coisas.
Depois desta decisão histórica, o Reino Unido terá que negociar sua saída do maior bloco comercial do mundo sem desatar um efeito dominó com consequências econômicas catastróficas.
Após falar por telefone com Cameron nesta sexta, Obama disse ter "confiança em que o Reino Unido está comprometido com uma transição ordenada" fora da UE.
Líderes europeus, no entanto, já anteciparam que não pretendem facilitar a vida a Londres, diante do temor de que uma saída suave possa encorajar outros países a fazer o mesmo.
Evitar divisões
Este quadro poderia ser contraproducente, disse Tom Wright, do Instituto Brookings, especialmente se um debate tempestuoso ajudar a perturbar ainda mais os mercados e provocar divisões entre aliados dos Estados Unidos na Europa.
"Nas últimas semanas, líderes europeus adotaram uma linha mais dura e disseram que não haverá concessões, mas isso pode mudar agora que o voto já ocorreu", afirmou.
"Penso que a posição americana será, quase com certeza, tentar com que tudo isto ocorra da forma mais suave possível", acrescentou.
Wright disse que não queria minimizar a escala dos danos que o Brexit poderá fazer à cooperação transatlântica, mas disse que Obama poderia "mitigar" estes efeitos, aproximando-se de França e Alemanha.
"As mais importantes decisões serão tomadas em Berlim e Paris. E se os Estados Unidos têm que comprometer e mobilizar estes países, terão que fazê-lo", afirmou.
Os observadores não escondem a irritação com o que consideram uma aposta arriscada demais de parte de Cameron com o referendo, mas apontam que a aliança sobreviverá.
Jeffrey Rathke, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse à AFP que os fundamentos da aliança continuam vigentes.
"A razão da relação especial é basicamente que temos interesses similares e formas muito similares de ver o mundo", disse.
No entanto, acrescentou, "se a influência global britânica diminui, naturalmente os Estados Unidos terão que encontrar formas de compensá-lo".
Neste cenário, Washington "terá que fortalecer compromissos com parceiros europeus chave", afirmou.
Esta análise é compartilhada por Richard Hass, presidente do Conselho de Relações Exteriores, que disse aos jornalistas que o Brexit foi um golpe muito duro para os Estados Unidos.
"Menos especial"
O resultado deste quadro é que "a relação especial será muito menos especial", disse.
Em linhas gerais, acrescentou Haas, "isto reduzirá a ordem dentro da Europa e possivelmente além".
Nesta linha de raciocínio, qual teria sido a responsabilidade de Obama?
Para o analista Dalibor Rohac, do Instituto Americano da Empresa, o presidente teria, em alguma medida, ignorado os laços com a Europa.
Mas fundamentalmente ocorreu que o Reino Unido, mergulhado em uma economia de austeridade e marcada a fogo por um referendo sobre a independência da Escócia e em seguida sobre a saída da UE, retirou-se do mundo.