Theresa May: discussões com Bruxelas devem começar dentro de 10 dias (Stephane De Sakutin/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de junho de 2017 às 11h11.
O revés infligido a Theresa May nas legislativas britânicas desta quinta-feira podem mudar a situação visando às negociações do Brexit, que a primeira-ministra abordará em posição enfraquecida, se continuar no cargo.
Ao perder a maioria absoluta no Parlamento, a chefe do Governo conservador não só perdeu a chance de reforçar a sua autoridade, como semeou a incerteza sobre a sua capacidade de se impor nas discussões com Bruxelas, que devem começar dentro de 10 dias, assinalam os especialistas.
Este resultado poderia levar o Reino Unido a "adotar um tom menos agressivo", em particular sobre a sua reivindicação de um Brexit duro, que implicaria na saída do mercado único, destaca o professor Simon Hix, da London School of Economics.
"O Brexit duro foi parar no lixo esta noite", chegou a dizer o ex-ministro conservador das Finanças George Osborne.
May convocou estas legislativas antecipadas para conquistar uma posição de força e afastar as eventuais reticências em seu partido.
Ao invés disso, "está com um crédito político muito danificado no momento de empreender as negociações", destaca Keith Featherstone, especialista em Política Europeia na London School of Economics.
"O resultado deixa dúvidas evidentes para [a chanceler alemã] Angela Merkel, para [o presidente francês] Emmanuel Macron, para todos. Isso muda a dinâmica", insiste o cientista político Paul Kelly.
O problema para May é duplo.
No plano internacional, sua reputação sofreu um forte golpe. "Agora quando apresentar as suas exigências" aos sócios europeus "eles poderão dizer: muito bem, mas vamos ver", assinala Kelly.
A primeira-ministra terá que impor a sua autoridade em seu próprio campo e corre o risco de depender mais dos eurocéticos conservadores.
"Se houvesse obtido um mandato forte, poderia ter mais peso para solucionar questões como a da fatura que Bruxelas reclama a Londres. Mas agora terá que solucionar primeiro os problemas dentro de seu partido e alguns dirão que não devem dar nenhum tostão a Bruxelas", acrescenta Kelly.
Nigel Farage, ex-líder do partido eurofóbico Ukip, está preocupado.
"O Brexit está em perigo", declarou. "Foi ativado o Artigo 50 e já estamos executando. May colocou tudo em risco. Inclusive [o ministro do Brexit] David Davis começa a fazer concessões", tuitou.
Os críticos do Brexit tentaram imediatamente aproveitar a ocasião para reivindicar uma mudança na forma de abordar a saída da União Europeia.
"Os termos do Brexit devem ser negociados de maneira radicalmente diferente. As pessoas não votaram para sair do mercado único", lançou Gina Miller, responsável da campanha eurófila "Best for Britain".
"De início, o Brexit não é colocado em dúvida. Mas as propostas do governo sim, sem falar do calendário. A permanência no mercado único poderia voltar à mesa", considera Paul Goodman, deputado conservador e diretor do site "ConservativeHome".
Por enquanto, a primeira questão será a do calendário das negociações.
Sem uma maioria absoluta, Theresa May deverá tentar formar um governo, o que poderia atrasar os diálogos com Bruxelas. "É um completo caos", destaca o professor Tim Bale, da Queen Mary University de Londres.
Também fica pendente o futuro de Theresa May em Downing Street. Mike Finn, pesquisador da University of Warwick, fala de um possível "fim de sua carreira política".
A União Europeia tinha a esperança de escapar de todas estas turbulências.
Segundo várias fontes, Bruxelas queria que as eleições britânicas fizessem emergir um líder forte para alcançar o máximo de eficácia nos dois anos previstos de intensas negociações.
"Em dois anos deveria haver o Brexit", comentou o comissário europeu Pierre Moscovici à rádio francesa Europe 1. Mas "May perdeu a sua aposta" e isso "talvez mude um certo número de coisas", acrescentou.