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Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 19h46.
Rio de Janeiro - Brasil e Turquia responderam com dureza nesta sexta-feira às afirmações americanas de que o mundo ficou "mais perigoso" depois de um acordo nuclear com o Irã, e acusaram as potências atômicas de usarem um duplo discurso ao pedirem o desarmamento sem eliminar os próprios arsenais.
Em meio a uma polêmica com os Estados Unidos depois da assinatura de um acordo entre Turquia, Brasil e Irã para enriquecimento de urânio iraniano em território turco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, levaram mais tensão ao debate em seus discursos durante o Terceiro Fórum das Civilizações, no Rio de Janeiro.
"A existência de armas de destruição em massa é o que torna o mundo mais perigoso", e não os acordos com o Irã, disse Lula diante de representantes de 119 países.
Lula respondia assim às fortes críticas feitas pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na quinta-feira, em relação à assinatura do acordo com o Irã por parte de Turquia e Brasil, dois países que ocupam assentos rotativos no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Por esse acordo, Teerã entregará 1.200 kg de urânio levemente enriquecido à Turquia, e receberá 120 kg de combustível nuclear para um reator de pesquisas médicas em um prazo de um ano.
"Pensamos que fazer o Irã ganhar tempo, permitir que o Irã ignore a unanimidade internacional existente sobre seu programa nuclear, torna o mundo mais perigoso, e não menos", disse Hillary, que também enfatizou a existência de "sérias divergências" entre EUA e Brasil sobre este tema.
O presidente brasileiro, que nos últimos dias não ocultou seu mal-estar em relação à forma com a qual os Estados Unidos receberam o acordo, afirmou que Brasil e Turquia foram "ao Irã buscar uma solução negociada", e defendeu novamente a busca de uma saída com diálogo para a crise que envolve o programa nuclear iraniano.
As potências nucleares acreditam que o Irã pretende obter armas atômicas, e depois de assinado o acordo com Brasil e Turquia, foi enviado ao Conselho de Segurança da ONU um novo projeto de sanções contra Teerã, redigido por Estados Unidos e aprovado pelos grandes países nucleares que revisam o tema (China, França, Inglaterra e Alemanha).
Erdogan, por sua vez, questionou a credibilidade das potências nucleares em se pronunciar sobre outros países que teriam ambições atômicas.
O primeiro-ministro turco afirmou que as potências atômicas "deveriam eliminar" suas próprias armas nucleares para poder ser mais "convincentes" em suas exigências perante o Irã.
"Quando ouvimos pessoas falando sobre impedir que o Irã consiga armas nucleares, quem fala isso têm armas nucleares!", exclamou Erdogan em meio a aplausos do público, que escutou parte de seu discurso com tradução simultânea.
"Aqueles que dizem isso deveriam eliminar as armas nucleares de seus próprios países. (...) É a única forma de serem convincentes", completou o líder turco, ao lado do presidente brasileiro e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
O titular da ONU não fez nenhuma referência à questão iraniana durante seu discurso, apesar de, na véspera, durante coletiva de imprensa, ter afirmado que "seria de grande ajuda se o Irã deixasse de enriquecer urânio a 20% em seu território".
Os Estados Unidos e a Rússia tinham considerado que o acordo poderia ser a última oportunidade de diálogo com o Irã antes de novas sanções, mas o documento não os deixou satisfeitos, principalmente porque Terrã anunciou horas depois que continuaria enriquecendo urânio.
Brasil e Turquia criticaram os planos por sanções contra o Irã. Brasília argumenta que o acordo alcançado segue os pedidos feitos pelo presidente americano Barack Obama em uma carta enviada a Lula há 20 dias.
A imprensa brasileira divulgou na quinta-feira uma cópia da carta na qual, além das coincidências com os pedidos de Washington, fica claro que o governo de Obama buscaria sanções contra o Irã apesar do acordo.
O Fórum de Civilizações ocorrerá até sábado e, paralelamente aos eventos, estão previstas reuniões bilaterais entre Lula e Erdogan, e entre o secretário-geral da ONU e ambos os presidentes.