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Brasil precisa de um choque de gestão de sustentabilidade, dizem especialistas

Reunidos no EXAME Fórum Sustentabilidade, especialistas criticaram falta de abertura política para inclusão de variáveis ambientais em projetos públicos

Especialistas discutem infraestrutura e meio ambiente no EXAME Fórum Sustentabilidade. (Alexandre Battibugli/EXAME)

Especialistas discutem infraestrutura e meio ambiente no EXAME Fórum Sustentabilidade. (Alexandre Battibugli/EXAME)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 11 de novembro de 2010 às 09h29.

São Paulo – O princípio de preservação do meio ambiente está garantido por lei, na Constituição Federal. Entretanto, conciliar desenvolvimento econômico com preservação das riquezas naturais não é tarefa fácil. Mas, na visão de Fernando Nabais da Furriela, advogado e ex-conselheiro da ONG ambientalista Greenpeace, uma sociedade que pretende evoluir e crescer não pode retroceder.

“Então vamos nos render aos comandos constitucionais”, disse, durante o EXAME Fórum Sustentabilidade, realizado nesta quarta (10). E ele não ficou sozinho. Em defesa de políticas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, Emilio Lèbre La Rovere, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe-UFRJ defendeu a necessidade de mais abertura nos projetos públicos para a inclusão de variáveis ambientais.

“No momento do desenho de um plano, um programa, ou um projeto de obra, ele teria que abrir as portas para a inserção da variável ambiental”, afirmou. “Não adianta elaborarmos um projeto sob o ponto de vista do melhor custo-benefício e depois tentarmos justificar, ambientalmente, sua viabilidade”.

Segundo o especialista, atualmente, a legislação de licenciamento de obras no Brasil tende mais para o primeiro caso e só mais à frente, em outras etapas de análise, leva-se em conta o impacto sobre o meio ambiente. “É preciso incorporar a sustentabilidade na própria concepção dos projetos, junto com as variáveis econômicas”, disse. “Com isso todo o processo se torna menos dispendioso e demorado”.

Para o presidente da Método Engenharia, Hugo Rosa, a discussão sobre infraestrutura e meio ambiente é permeada por mensagens contraditórias. O engenheiro citou a necessidade de revisão da matriz dos modais de transporte nacionais para o qual já existe um plano nacional que prevê a criação de mais ferrovias.

O PAC 2, por exemplo, está desenvolvendo uma linha ferroviária que vai ligar o interior da Bahia à região de Ilhéus e também um porto para escoar minério de ferro. “Essa grande obra de infraestrutura, entretanto, coloca em risco o meio ambiente local [segundo ambientalistas, a implantação do projeto vai devastar parte de uma reserva de Mata Atlântica]. Mas até agora o governo não apresentou nenhum estudo de ferrovia alternativa que gere menos danos”, disse.

Outro assunto que balizou as discussões entre os especialistas foi o processo de licitação ambiental para obras. Hugo Yoshida Yoshizaki, coordenador do Programa de Mestrado da Poli-USP, apontou dois motivos principais que justificariam a dificuldade que alguns empreendimentos enfrentam para conseguir a licitação. Ou a obra é realmente mal elaborada, ou as exigências dos órgãos ambientais são realmente altas”, disse. “Por isso, a sustentabilidade ambiental tem que estar inserida na concepção do projeto. Obras feitas sem esse cuidado têm custos ambientais altíssimos a longo prazo. E quem paga é a sociedade”.

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