O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, reclamou da valorização do real (Arquivo)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Londres - Depois das grandes potências ocidentais, o Brasil pede a vez na "guerra das moedas", que ameaça as exportações em um contexto mundial mais competitivo do que nunca, onde a China é criticada por sua rejeição em valorizar sua moeda.
O mundo está "em meio a uma guerra de divisas internacional", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, citado nesta terça-feira pelo jornal econômico britânico Financial Times.
Para Mantega, o real está entre as vítimas dessa batalha, porque sua apreciação em relação a outras moedas "ameaça a competitividade" do país, maior exportador mundial de café e açúcar, para citar apenas alguns produtos.
O Brasil entrou assim em uma briga já confusa, na qual americanos, europeus, japoneses e chineses tentam proteger seus interesses que, em um contexto econômico ruim, passam pela manutenção de sua moeda em um nível baixo para ganhar segmentos de mercado.
Neste tenso contexto, o presidente francês Nicolas Sarkozy prometeu impulsionar uma reforma do sistema monetário internacional durante sua presidência do G20, que começa em novembro, a fim de limitar a volatilidade das taxas de câmbio.
Em matéria de câmbio, a felicidade de alguns supõe sempre a desgraça de outros: uma moeda que sobe o faz em detrimento de outra.
A grande batalha atual opõe Estados Unidos e China, acusada por Washington de lentidão na hora de valorizar o iuane. O Congresso dos Estados Unidos acaba de dar um primeiro passo na direção de decidir medidas de retaliação contra a China que permitirão penalizar suas importações.
Washington declara-se agora disposto a emitir dinheiro para sustentar o crescimento, o que fragilizaria ainda mais o dólar, enquanto o Japão vende ienes em massa para proteger suas exportações.
Os europeus estão à espreita: o euro superou na segunda-feira o teto de 1,35 dólar, voltando a níveis que tradicionalmente irritam os países exportadores.
O Brasil, potência emergente, é afetado por esse jogo de dominó mundial: o real valorizou-se mais de 30% em relação ao dólar desde o início de 2009.
No entanto, os analistas lembram que a guerra de moedas não é nova.
"As batalhas políticas sobre as moedas e a implementação de políticas complacentes em todo o mundo foram o motor de um mercado que registrou uma expansão exponencial durante os últimos 10 anos", explicou Simon Derrick, do banco BNY Mellon.
Mas em certo momento, essas políticas "provocam fraturas no sistema monetário internacional", assegura Neil MacKinnon, economista da VTB Capital.
Sobretudo porque os países emergentes, como o Brasil, não dispõem de fundamentos econômicos suficientemente sólidos para fazer frente ao fluxo de capital exterior vertido por especuladores e que provoca uma apreciação brutal da moeda.
Colocar um pouco de ordem no mercado de moedas, como deseja Sarkozy, tornou-se uma tarefa monumental que alguns estimam ser impossível sem um acordo político de alto nível.
Segundo um recente estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o valor total das transações realizadas diariamente nos mercados mundiais de moedas ronda os 4 trilhões de dólares, mais que o Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha.
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