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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Rio de janeiro- O governo brasileiro deverá definir até o próximo ano qual tecnologia usará no seu novo programa de energia nuclear, depois que a parceria com a Alemanha foi encerrada com o início da construção de Angra 3.
A disputa promete ativar o apetite internacional para acordos com o Brasil, a exemplo do se viu na questão da concorrência para a compra de caças pelo Ministério da Defesa.
A França deverá estar presente, além de Rússia, Estados Unidos e Alemanha, possíveis candidatos por dominarem a tecnologia.
"Angra 2 e 3 era com projeto da Alemanha e agora temos que criar novo programa nuclear, onde tem que especificar a tecnologia e o tipo de nacionalização que você vai querer", afirmou o ministro de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, em entrevista para jornalistas estrangeiros nesta segunda-feira.
"Você hoje tem máquinas modernas da Toshiba, estão montando uma na China que dizem que é novidade, vamos ver isso tudo", explicou o ministro.
Além da tecnologia, o Brasil deverá aumentar suas reservas provadas de urânio para atender as novas usinas, que pelo Plano Decenal divulgado este ano poderão ser entre 4 e 8 unidades até 2020. Até 2060, esse número pode saltar para 50, disse o ministro.
"O custo da usina nuclear é baixo em relação às térmicas... e o Brasil tem a tecnologia do enriquecimento (de urânio) e tem matéria-prima", justificou, confirmando declarações do ex-ministro Edison Lobão de que o Brasil poderia construir uma usina nuclear por ano nos próximos 50 anos.
Segundo o ministro, será necessário mapear o Brasil para estimar melhor as reservas de urânio, que segundo estimativas do Ministério podem chegar a 800 mil toneladas. Com isso, o país se tornaria a primeira ou segunda maior reserva mundial.
Atualmente, o Brasil é o sexto maior em urânio, com reservas provadas de 300 mil toneladas. De acordo com Zimmermann, até hoje as perfurações para a busca de urânio atingiram o limite de 100 metros de profundidade, o que deverá ser aprofundado.
Zimmermann contestou preocupações de ordem ambiental sobre o aumento da energia nuclear no país. Apesar de ser considerada limpa, do ponto de vista de emissão de carbono, a usina nuclear preocupa pelos dejetos, como as pastilhas usadas de urânio.
De acordo com o ministro, a armazenagem dos resíduos nucleares também será baseada em tecnologia já conhecida por grandes potências que utilizam essa energia.
"Vamos usar no Brasil o que tem de mais atual no mundo, com tecnologia de enterrar em não sei quantos metros no solo", informou, lembrando que enquanto o Brasil gera 2 mil megawatts de energia nuclear os EUA e a Rússia geram mais de 130 mil megawatts cada um.
Zimmermann justificou a opção nuclear citando o Plano Decenal energético brasileiro divulgado este ano pelo governo, no qual a previsão é de que a necessidade de energia elétrica no país em 2019 seja de 189 mil megawatts, contra os 112 mil MW instalados até o momento. O plano prevê ainda que essa necessidade salte para algo em torno de 500 mil MW em 2060, sendo que 10 por cento deverá ser de energia nuclear.
"Foi isso que o ministro (Lobão) levou em conta, e não é difícil imaginar que o Brasil tenha esse número de usinas daqui a 50 anos", esclareceu.
Depois de percorrer o Nordeste para identificar lugares adequados para a instalação das usinas, Zimmermann disse que vai pesquisar o Sudeste e o Sul.
"Depois defino eletricamente onde é o melhor sítio", explicou.
Só depois de definido o local o governo brasileiro deverá buscar a parceria internacional para as novas usinas, informou o ministro.
Marco regulatório
Zimmermann disse que o Ministério de Minas e Energia ainda está em conversas com o Ministério da Fazenda para definir novos impostos para o setor, e que este ano nada deverá ser alterado.
Ele afirmou desconhecer também qualquer evolução em relação ao projeto para a elaboração de um novo marco regulatório para o setor, que entre outras medidas cria uma agência reguladora para a mineração. Segundo ele, o projeto foi entregue pelo ex-ministro Lobão à Casa Civil e "muito provavelmente" não irá ser votado este ano "por conta do pré-sal, das eleições", explicou.
O aumento dos impostos, que foi retirado do projeto, também deve ficar para o próximo governo, ressaltou Zimmermann.
"Esse (aumento de impostos) foi o que menos andou, implica em discussões com o Ministério da Fazenda", afirmou, ressaltando que "qualquer que seja a decisão vai respeitar os atuais contratos e atrair investimento externo", concluiu.