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Boris Johnson, o bobo da corte favorito a premier

Repentinamente, metade do país e de seu partido o detestavam por ter assumido as rédeas de uma campanha do Brexit


	Boris Johnson: um dia após o referendo, Johnson descobriu que teria que aprender a viver também com o ódio
 (Peter Nicholls / Reuters)

Boris Johnson: um dia após o referendo, Johnson descobriu que teria que aprender a viver também com o ódio (Peter Nicholls / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 29 de junho de 2016 às 11h12.

A inesperada conversão ao euroceticismo, chave na vitória do Brexit, aproximou de Downing Street Boris Johnson, um político que ironizava a ideia de se tornar primeiro-ministro e que era festejado por todos por suas piadas.

Mas um dia após o referendo, Johnson descobriu que teria que aprender a viver também com o ódio.

Repentinamente, metade do país e de seu partido o detestavam por ter assumido as rédeas de uma campanha do Brexit que carecia de uma figura de peso até ele decidir dar um passo adiante.

Naquele dia, Johnson não pôde sair de casa, como fazia normalmente, com sua bicicleta e os cabelos despenteados saindo do capacete.

A polícia precisou fazer um corredor para que chegasse, em meio a insultos e empurrões, até o carro que o levaria ao sua primeira aparição política após a vitória do Brexit.

Há pouco tempo, em fevereiro, Johnson desaconselhava a saída da União Europeia porque isso afundaria o governo "em um complexo processo de vários anos para negociar novos acordos, desviando energia dos problemas reais deste país".

Agora, há grandes chances de que estas negociações tenham que ser lideradas por ele, se terminar se impondo nas primárias do Partido Conservador que devem eleger o sucessor do primeiro-ministro David Cameron.

Diante da ferocidade do deputado antieuropeu britânico Nigel Farage, Johnson, ex-prefeito de Londres, grande promotor do transporte alternativo, defensor da diversidade da cidade, piadista e biógrafo de Winston Churchill, encarnava o estadista da campanha "Leave", como pôde ser comprovado no último debate de campanha, com seu aplaudido discurso "churchiliano" convidando a converter o referendo no "dia da independência".

Jornalista favorito de Thatcher

Johnson, de 51 anos, conhece muito bem a União Europeia. Foi correspondente do Daily Telegraph em Bruxelas entre 1989 e 1994, estimulando histórias que alimentavam o euroceticismo em casa.

Converteu-se, então, no jornalista favorito da primeira-ministra Margaret Thatcher, graças a artigos que ridicularizavam sistematicamente as instituições europeias e suas regulações.

Algumas daquelas histórias se tornaram mantras para os eurocéticos, como a que a União Europeia iria regular o tamanho das bananas ou encurtar os preservativos.

Ainda assim, não estava claro até um dia antes da campanha em qual grupo iria militar. Seu anúncio de que se enquadrava no campo Brexit, contra Cameron, foi interpretado como uma concessão as suas ambições.

E embora sua decisão de apoiar o Brexit tenha sido bem recebida por muitos ativistas de base conservadores, a campanha colocou Johnson, neto de um imigrante turco e que passou uma parte da infância em Bruxelas, em terreno pantanoso.

Boris Johnson também havia apoiado no passado a entrada da Turquia na UE, e agora observava como esta possibilidade aterrorizava as pessoas de seu campo.

Seu perfil o converte em alvo favorito dos conservadores partidários de permanecer na UE, e o ex-primeiro-ministro John Major o chamou de "bobo da corte".

Na memória de todos aparecia aquele Johnson preso em uma tirolesa durante os Jogos Olímpicos de Londres, agitando uma bandeirinha enquanto esperava ser solto.

Para Alistair Campbell, o Rasputin do primeiro-ministro Tony Blair, Johnson "encarna a falsa autenticidade".

"É muito bom fazendo pensar que é autêntico. Mas é uma interpretação. De fato, tem opiniões muito perigosas", comentou.

Mas o público parecia perdoar tudo, e ele sempre negou ter interesse no posto de primeiro-ministro.

Agora, aparece como o favorito a suceder Cameron, embora suas chances dependam de que a saída da UE não se converta em um desastre para o Reino Unido.

Infância em Bruxelas

A ironia é que seu euroceticismo vem de um homem vinculado às instituições europeias como poucos no Reino Unido, onde a ignorância sobre o funcionamento da UE está muito disseminada, segundo as pesquisas.

Seu pai Stanley, que defendia a permanência na UE, trabalhou na Comissão Europeia e foi eurodeputado pelo Partido Conservador.

Já Boris Johnson foi aluno da Escola Europeia de Bruxelas antes de ingressar no famoso colégio particular britânico de Eton.

Tudo isso o tornava um candidato ideal ao posto de correspondente em Bruxelas para o diretor do Daily Telegraph da época, Max Hastings, que havia conhecido Johnson quando ele era presidente da associação estudantil de debate da universidade de Oxford, a Oxford Union.

Mas não deixou de ser uma escolha polêmica, levando-se em conta que Johnson havia sido demitido do jornal The Times por inventar declarações de seu próprio padrinho, o historiador Colin Lucas, em um artigo sobre uma descoberta arqueológica.

Hastings é agora um grande crítico de Johnson e votou a favor da permanência na UE, em parte porque suspeitava que a posição de seu antigo correspondente estaria relacionada as suas ambições políticas.

"Tendo conhecido Boris por tantos anos, não posso votar em uma opção que pode levá-lo a Downing Street", escreveu Hastings em uma coluna no Daily Mail.

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