Mundo

Aviação de Kadafi bombardeia Ras Lanuf, controlada pelos rebeldes

Oposição respondeu aos ataques com disparos de artilharia

Rebeldes em meio ao ataque da Força Aérea líbia na cidade de Ras Lanuf (Marco Longari/AFP)

Rebeldes em meio ao ataque da Força Aérea líbia na cidade de Ras Lanuf (Marco Longari/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de março de 2011 às 11h19.

Ras Lanuf, Líbia - A aviação do regime de Muammar Kadafi bombardeou nesta segunda-feira a região do porto petroleiro de Ras Lanuf (leste), abandonada por uma população apavorada, em mais uma etapa da contraofensiva para tentar acabar com a rebelião que há três semanas controla parte do país.

A Força Aérea bombardeou em duas ocasiões a região de Ras Lanuf, controlada pelos rebeldes, que responderam com disparos de artilharia.

Kadafi tenta romper também o isolamento diplomático imposto pelas grandes potências, que avaliam estratégias para impedir o bombardeio da população civil e apoiar o Conselho Nacional instalado pela oposição em Benghazi (1.000 km a leste de Trípoli).

O ministério francês das Relações Exteriores informou nesta segunda-feira que a Liga Árabe é favorável a uma zona de exclusão aérea na Líbia. O anúncio foi feito um dia depois do encontro no Egito entre o secretário-geral da organização, Amr Musa, e o chefe da diplomacia de Paris, Alain Juppé.

"Amr Musa confirmou o apoio da Liga Árabe a uma zona de exclusão aérea", afirmou o porta-voz do ministério francês das Relações Exteriores, Bernard Valero.

O porta-voz francês recordou que a França "estuda todas as opções para estar em condições de enfrentar a evolução da situação".

França e Grã-Bretanha tentam obter a aprovação do Conselho de Segurança da ONU para estabelecer uma proibição de sobrevoar o espaço aéreo líbio.

Kadafi acusou a França de interferência nos assuntos internos líbios e reiterou as acusações contra a Al-Qaeda, em uma entrevista ao canal de televisão France 24.


Ao ser questionado sobre o apoio de Paris ao Conselho Nacional líbio, formado pelos insurgentes em Benghazi (leste), Kadafi, que teve as declarações traduzidas do árabe para o francês, afirmou: "Nos faz rir esta interferência nos assuntos internos. E se nós atuarmos nos assuntos da Córsega ou da Sardenha!".

Kadafi afirmou que na Líbia existe um "complô", ao citar a presença de "extremistas armados", de "pequenos grupos" e de "células adormecidas" da Al-Qaeda que pegaram em armas contra a polícia e o Exército".

"A Al-Qaeda tem um plano. Penso que a Al-Qaeda tenta se aproveitar da situação na Tunísia, no Egito. Houve centenas e centenas de mortos do lado da polícia, dos rebeldes", insistiu.

"Participamos da luta contra o terrorismo", afirmou.

"O Conselho Nacional líbio de Benghazi navega sobre a onda do islamismo. Se os terroristas vencerem (...), eles não acreditam na democracia", acrescentou Kadafi.

No domingo, em Paris, o porta-voz do ministério francês das Relações Exteriores, Bernard Valero, afirmou que o país saudava a criação do Conselho Nacional líbio.

Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times informou que analistas de defesa de Washington estão preparando uma série de opções militares para a Líbia.

O jornal, que cita fontes anônimas do governo, afirma que o simples uso da interferência dos sinais de aviões no espaço aéreo internacional pode confundir as comunicações do governo com as unidades militares.

A mais recente força a se aproximar, mas com certa distância, de Trípoli é a 26ª Unidade Expedicionária da Marinha, a bordo de dois navios anfíbios, o Kearsarge e o Ponce, segundo o NYT.

A unidade tem uma força completa por ar, mar e terra que pode avançar rapidamente por centenas de quilômetros. Segundo o jornal, outra tática seria fornecer armas e outros materiais aos rebeldes líbios.

Outras opções incluem a inserção de pequenas equipes de operações especiais para auxiliar os rebeldes, como aconteceu no Afeganistão para derrubar os talibãs.


Estas equipes são treinadas para melhorar a eficiência dos combatentes com muita rapidez, com treinamento, equipamento e liderança, completou o New York Times.

Os combates de domingo deixaram vários mortos e feridos na Líbia, segundo fontes médicas.

Pelo menos 21 pessoas, entre elas uma criança, morreram nos confrontos e bombardeios em Misrata, a terceira cidade da Líbia, que está sob controle da oposição, 150 km a leste de Trípoli.

"Tivemos 21 mártires. O balanço pode aumentar. Também registramos 91 feridos, nove deles em estado grave", declarou à AFP um médico de Misrata, que pediu anonimato.

"A imensa maioria são civis, entre eles uma criança de dois anos e meio", completou a fonte.

Em Bin Jawad, também no leste, foram 12 mortes e mais de 50 feridos, também de acordo com fontes médicas.

Segundo o hospital de Ajdabiyah, para onde foram levados os feridos após os combates de domingo, sete pessoas morreram e 52 ficaram feridas.

No hospital de Al-Khala, em Benghazi, o médico Isam Binour afirmou à AFP que cinco corpos foram levados para o estabelecimento vindos de Bin Jawad.

Os mortos eram todos combatentes voluntários, a maioria procedente de Benghazi.

Os combates explodiram no domingo, obrigando os insurgentes a abandonar Bin Jawad, de onde eles esperavam avançar até Sirte, cidade natal de Kadafi.

As agências humanitárias da ONU fizeram nesta segunda-feira um pedido para arrecadar 160 milhões de dólares de ajuda para as vítimas do conflito na Líbia.

"Em resposta à atual crise na Líbia, que provocou a entrada de 191.748 pessoas nos países vizinhos como Tunísia, Egito e Níger, a ONU, a Organização Internacional para Migrações (OIM) e as agências associadas fazem um apelo regional urgente", afirma um comunicado oficial.

O apelo inclui 17 organizações de ajuda humanitária, entre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Alimentar Mundial (PAM).

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaLíbiaOposição políticaViolência urbana

Mais de Mundo

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA

Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escala

Panamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do Canal