Evo Morales: presidente defende que tem o direito de se candidatar de novo (Adriano Machado/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 19h58.
Última atualização em 6 de dezembro de 2018 às 19h58.
As principais cidades bolivianas estão parcialmente bloqueadas nesta quinta-feira, 6, em rechaço à candidatura a um quarto mandato sucessivo do presidente Evo Morales, no poder desde 2006, enquanto ativistas de direitos humanos lançaram chamados à desobediência civil.
Grupos de ativistas ocuparam as ruas com bandeiras bolivianas e cartazes com a legenda "Bolívia disse Não" - em alusão ao referendo de 2016 sobre a reeleição de Morales -, interrompendo o tráfego de veículos em oito das 10 maiores cidades. O Ministério do Interior calculou que cerca de 5.000 ativistas tenham participado do governo.
A oposição a Morales subiu o tom depois que o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) habilitou na terça-feira que o presidente participe das primárias de janeiro, uma prévia das eleições gerais de outubro de 2019.
Devido à falta do serviço municipal de transporte em La Paz, que parou por ordem do prefeito opositor Luis Revilla, e à circulação irregular de outros meios, milhares de pessoas faziam filas na estação de teleférico da exclusiva zona sul para ir ao centro da cidade.
Imagens de televisão mostraram que os protestos foram mais contundentes e maciços em Santa Cruz, no leste do país, cujo governador, Rubén Costas, lidera a oposição a Morales.
Os ministros do Interior, Carlos Romero, e da Presidência, Alfredo Rada, minimizaram os bloqueios e, inclusive, assinalaram que no país se trabalha normalmente. "Os resultados não são de longe o que os seus organizadores estavam buscando", afirmou Rada, enquanto Romero declarou que "a situação do país é de normalidade. Em todo caso, queremos celebrar a vocação de trabalho da população".
Paralelamente, três proeminentes ativistas de direitos humanos concordaram em chamar à "desobediência civil".
"Não existe independência de poderes e o povo fica absolutamente indefeso. A partir de agora emerge o legítimo direito à rebelião e à desobediência civil", afirmou o ex-defensor do Povo Pueblo Waldo Albarracín.
Rolando Villena, também ex-defensor do Povo, afirmou que se Morales "não respeita o voto popular, o povo está no direito de ter todos os mecanismos que estão ao seu alcance para que, mediante a desobediência civil, se rebele pacificamente".
Na mesma direção apontou a presidenta da ONG Assembleia Permanente de Direitos Humanos, a ex-freira católica espanhola Amparo Carvajal.
Com a decisão, o TSE colocou "em dúvida a base da democracia" e estabeleceu "um futuro incerto para os bolivianos", alertou a Igreja Católica em um comunicado na quarta-feira.
Enquanto isso, o ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), principal adversário de Morales nas eleições previstas para outubro de 2019, estimulou a mobilização de "uma batalha democrática que venceremos".
Chefe de um partido de centro Sol.bo, o prefeito de La Paz Luis Revilla, que apoia a candidatura de Mesa, disse que "o que resta agora é resistir (e) nos virarmos às manifestações para evitar que esta decisão seja consumada".
Outro líder opositor, Samuel Doria Medina, derrotado três vezes nas urnas por Morales e que para 2019 retirou sua candidatura em favor de um único candidato da oposição, pediu "unidade para frear a ditadura".
Após a sentença do TSE, que autoriza Morales a ir às primárias, nas quais não têm adversários, e consequentemente se candidataria às eleições de outubro, a oposição ficou virtualmente sem chances de vetar pela via legal a sua candidatura.
Morales perdeu um referendo em fevereiro de 2016 para sua reeleição, mas no final de 2017 conseguiu que o Tribunal Constitucional autorizasse a sua candidatura para o período 2020-2025, argumentando que se candidatar é seu direito humano.