Um Boeing 787 Dreamliner decola: as autoridades não permitirão que os Dreamliner voltem a decolar enquanto as baterias não forem consideradas seguras (Paul Joseph Brown/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2013 às 10h24.
Tóquio - A Autoridade Federal de Aviação americana (FAA) lançou uma proibição mundial de voo sobre todos os Boeing 787 Dreamliner, depois de uma série de incidentes em algumas destas aeronaves, uma medida muito dura, diante do fato de que as investigações sobre a segurança podem durar semanas.
A frota integrada por 50 Boeing 787, 24 deles explorados por companhias japonesas, está imobilizada sine die.
"É uma decisão pouco frequente", declarou à AFP um porta-voz da Agência Europeia de Segurança Aérea (AESA), destacando que apenas o país de fabricação da aeronave pode tomar uma decisão semelhante em nível mundial.
Antes de tomar esta decisão radical, a FAA ordenou na quarta-feira que os seis Boeing da United Airlines permanecessem em terra. Este anúncio levou o ministério japonês de Transportes a fazer o mesmo com as 17 aeronaves da All Nippon Airways (ANA) e as sete da Japan Airlines (JAL), que já estavam paradas na pista há horas.
"Após a decisão da FAA, os Boeing 787 não estarão autorizados a decolar até que existam garantias de que as baterias são seguras", declarou Hiroshi Kajiyama, vice-ministro dos Transportes japonês, que também fez referência a outras peças relacionadas que apresentaram problemas.
Um Dreamliner da companhia ANA precisou realizar um pouso de emergência na manhã de quarta-feira em Takamastu (sul do Japão) devido a um alarme que apontava a existência de fumaça e pela presença de um forte odor a bordo proveniente da bateria.
Trata-se do segundo incidente neste mês relacionado a uma bateria de íon de lítio, depois do problema sofrido na semana passada por uma aeronave da companhia JAL em Boston, que levou ao vazamento de eletrólitos inflamáveis e emanações de calor e fumaça, segundo a FAA.
As autoridades não permitirão que os Dreamliner voltem a decolar enquanto as baterias não forem consideradas seguras.
No Japão, os investigadores do Escritório de Aviação Civil e a Comissão de Segurança enviados a Takamatsu se concentram na análise da bateria, fabricada pela empresa japonesa GS Yuasa e integrada em um equipamento elétrico projetado pelo grupo francês Thales.
"A bateria mostra anomalias visíveis a olho nu, mas o sistema elétrico é complexo e exige outras investigações", disse Kajiyama.
A pedido das autoridades, a GS Yuasa enviou nesta quinta-feira pela manhã três engenheiros a Takamatsu.
"Não sabemos se o problema procede da bateria em si ou do sistema elétrico no qual está integrada", indicou um porta-voz da empresa.
"É impossível prever neste momento quanto tempo a investigação irá durar, seja dias ou semanas, já que é preciso estudar todo o sistema e a GS Yuasa não é o único ator envolvido", disse.
"Um superaquecimento pode ser ocasionado pela instalação elétrica e não de um defeito da bateria", confirmou Tatsuo Noshina, especialista em baterias da universidade de Yamagata.
De fato, "se o dispositivo foi projetado por gente que não conhece o mecanismo das baterias de íon de lítio, pode haver problemas", insistiu Nishina.
Na semana passada, técnicos da GS Yuasa foram aos Estados Unidos após um princípio de incêndio provocado por uma bateria em outro Boeing 787 da Japan Airlines que acabava de pousar em Boston.
Além destes dois incidentes com baterias, em duas semanas ocorreram outras cinco avarias em aeronaves japonesas do último modelo da Boeing, o que levou a FAA a iniciar uma investigação "em profundidade" do 787. Uma investigadora do Escritório Americano de Segurança no Transporte (NTSE) também chegou ao Japão.
Diante destes reveses, o diretor-executivo da Boeing, Jim McNerney, assegurou que serão tomadas "nos próximos dias todas as medidas necessárias para garantir aos nossos clientes e aos viajantes a segurança do 787 e para que estes aviões retomem seu serviço", em um comunicado publicado depois da decisão das autoridades americanas.
"Temos confiança de que o 787 é seguro", insistiu.
Por sua vez, o diretor-executivo da Airbus, Fabrice Brégier, considerou nesta quinta-feira que não havia "razões para mudar" a arquitetura elétrica do A350 e julgou prematuro analisar a proibição de voo dos Boeing 787.
No entanto, "se a FAA emitir diretivas e recomendações, as estudaremos muito seriamente e veremos se podem ser aplicadas ao A350", acrescentou durante uma coletiva de imprensa.