Hassan Rohani: a busca de uma regra para o litígio nuclear iraniano foi possível graças aos novos ares trazidos pela chegada do moderado Hassan Rohani à presidência do país (Denis Balibouse/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 16h26.
Viena - O Irã e a comunidade internacional seguem nesta quarta-feira mantendo conversas "úteis e substanciais" em Viena para avançar rumo a um acordo que acabe com a disputa pelo programa atômico iraniano e assegure que não tem uma dimensão militar.
As partes se deram seis meses para conseguir esse acordo e a reunião de Viena, que hoje entrou em seu segundo dia e deve concluir amanhã, foi apresentada como um primeiro passo dentro de um processo longo, difícil e que não dará resultados imediatos, segundo ressaltaram todos os envolvidos.
"As conversas foram até agora substanciais e úteis. As discussões continuam", disse à imprensa Michael Mann, porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que coordena a negociação por parte do Grupo 5+1 (G5+1, integrado por Rússia, Estados Unidos, China, Reino Unido e França, além da Alemanha).
O porta-voz explicou que não podia referir-se a detalhes ou avanços concretos enquanto continue a rodada de contatos, mas assinalou que reina "uma boa atmosfera" e que as duas partes trabalham de forma "profissional e determinada".
Ashton presidirá amanhã à tarde uma reunião extraordinária dos ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) em Bruxelas para tratar a situação na Ucrânia, o que pode ajudar que as conversas em Viena terminem na parte da manhã.
Embora não tenha sido confirmado de forma oficial, fontes diplomáticas ocidentais explicaram que amanhã haverá, em princípio, uma breve reunião matutina que porá fim a esta primeira rodada de contatos na capital austríaca.
Por enquanto se desconhece quando, em que formato e onde serão as seguintes negociações nucleares entre o Irã e as grandes potências.
A cúpula de Viena é a primeira depois que em novembro do ano passado o G5+1 e o Irã pactuaram um plano de ação de seis meses, durante o qual Teerã se compromete a paralisar suas atividades nucleares mais polêmicas e as grandes nações a suspender algumas das sanções econômicas impostas ao país.
Ambas partes deixaram claro que não espera-se que deste encontro saia nada além de um calendário e um marco de trabalho que determine o caminho para os próximos meses.
O objetivo final do processo é que o Irã garanta "de forma inequívoca à comunidade internacional que tem um programa nuclear pacífico", ressaltou o porta-voz de Ashton.
Para conseguir esse objetivo, o G5+1 ainda deve explicar suas reivindicações específicas, mas fontes diplomáticas americanas, que solicitaram anonimato, deixaram claros vários desses pontos.
Entre eles que o Irã limite o grau de pureza de seu urânio enriquecido, um material de uso duplo, civil e militar; desmantele parte de suas centrífugas para depurar esse material e reconverta o reator em construção de Arak para que não produza plutônio, outro material de uso duplo.
O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Seyed Abbas Araqchi, já deixou claras, em declarações a jornalistas em Viena, suas linhas vermelhas: Teerã nem desmantelará seu programa atômico nem fechará instalações nucleares.
Teerã nega que persiga um programa com finalidade militar, mas o Conselho de Segurança da ONU lhe impôs vários rodízios de sanções por sua pouca colaboração com os inspetores nucleares internacionais e pelas dúvidas que geram suas ambições atômicas.
O Irã espera que os Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas suspendam suas sanções como parte do acordo que ponha um fim no conflito.
O processo para conseguir um acordo estará também submetido à pressão dos "falcões" dos Estados Unidos e do Irã, dois países sem relações diplomáticas e que têm uma grande desconfiança mútua, segundo explicou à Efe em Viena o analista Michael Adler, do Wilson Center de Washington (EUA).
"Os "falcões" de ambas partes estão sentados olhando, afiando as facas e esperando julho (quando vence o período negociador de seis meses). Não será fácil", comentou.
O objetivo do processo é, segundo Adler, "buscar uma solução viável, que não será totalmente satisfatória para ninguém", mas que "pode diminuir a crise e evitar a possibilidade de uma guerra".
A busca de uma regra para o litígio nuclear iraniano foi possível graças aos novos ares trazidos pela chegada do moderado Hassan Rohani à presidência do país, em substituição do conservador Mahmoud Ahmadinejad.