Os líderes indígenas acusam Morales de incentivar os bloqueios para evitar a nova marcha (Aizar Raldes/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2012 às 08h10.
La Paz - Os bloqueios em estradas da Amazônia por partidários do presidente boliviano, Evo Morales, impediram grupos indígenas de iniciarem nesta quarta-feira uma marcha rumo a La Paz para defender a reserva natural Tipnis, em protesto a construção de uma rodovia no parque.
O presidente da Confederação de Povos Indígenas do Oriente da Bolívia (Cidob), Adolfo Chávez, disse nesta quarta à Agência Efe que a caminhada demorará alguns dias por causa dos bloqueios e também porque o líder dos nativos do Tipnis, Fernando Vargas, foi atendido hoje com suspeita de dengue
Chávez disse que os indígenas na cidade amazônica de Trinidad vão esperar a recuperação de Vargas e a chegada de outros grupos ao Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis). Essa é a segunda marcha impedida de prosseguir para La Paz em menos de um ano.
Os líderes indígenas acusam Morales de incentivar os bloqueios para evitar a nova marcha, já que a primeira rachou sua imagem de indigenista e ecologista. Devido à estrada autorizada por Morales, a reserva natural ficará partida em duas.
Os bloqueios de partidários de Morales que apoiam a estrada, financiada pelo Brasil, impediram os indígenas de chegar ao povoado de Chaparina, de onde tinham previsto partir nesta quarta rumo a La Paz, distante 350 quilômetros.
Perante a impossibilidade, o grupo decidiu que a marcha sairá de Trinidad, da mesma forma que a primeira, realizada entre agosto e outubro do ano passado e com um percurso de mais de 500 quilômetros.
O governo negou as denúncias e o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, afirmou em entrevista coletiva que o governo trabalha desde a noite passada para retirar os bloqueios na Amazônia. Quintana disse também que a marcha é um protesto social ''legítimo'' que deve se movimentar com liberdade.
No entanto, nas últimas semanas, o próprio Morales criticou a mobilização porque, segundo ele, os indígenas se opõem a uma consulta sobre a estrada. A consulta é para determinar se os nativos e outros povos das zonas vizinhas, além dos produtores de folha de coca no local, querem ou não a estrada.
Os indígenas amazônicos pedem a Morales que respeite a lei promulgada no ano passado para frear definitivamente as obras na reserva, da qual o líder se arrependeu após uma contramarcha de produtores de coca e outros partidários do governo.
Estudos citados pelos indígenas informam que 18 anos após construída, pela empresa brasileira OAS, a estrada terá destruído mais de 600 mil hectares de floresta, 65% da vegetação do Tipnis.