Mesmo abarrotando os cofres, são cunhadas moedas de quatro presidentes ao ano, que seguem impopulares perto das notas de um dólar (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2011 às 06h16.
Washington - Mais de um bilhão de moedas de um dólar acumulam pó e abarrotam os cofres do Governo dos Estados Unidos sem que ninguém as queira, apesar da atual cruzada contra o desperdício público.
As indesejadas peças douradas de manganês são fruto de uma lei de 2005 que ordenou que fossem cunhadas moedas de um dólar com o rosto dos presidentes do país.
O objetivo do Congresso dos EUA ao aprovar a lei, que prevê também a emissão de moedas comemorativas do indígena Sacagawea, era ter mais moedas de um dólar em circulação e cumprir uma função educativa.
O programa esperava também reduzir as despesas vinculadas à maior deterioração das notas de um dólar e obter lucro ao vender ao público por um dólar moedas que cuja produção costa 30 centavos.
Segundo um estudo publicado este ano pela unidade de investigação do Congresso, o Governo obteria um lucro líquido de US$ 5,5 bilhões em 30 anos ao substituir a nota de dólar pela moeda do mesmo valor.
Mas uma investigação recente da Rádio Pública Nacional (NPR, na sigla em inglês) revelou a outra cara da moeda: montanhas de bolsas de plástico em câmaras de segurança do Federal Reserve (Fed, banco central americano) com dinheiro que ninguém quer.
O Fed explicou em relatório enviado ao Congresso no ano passado que os bancos lhe enviam cada vez mais moedas, e que não tem razões para pensar que a demanda vá melhorar.
Uma pesquisa da empresa Harris de 2008 mostrou que três quartas partes dos americanos preferem a nota de um dólar, conhecida popularmente como "greenback".
Alan Stahl, conservador da coleção numismática da Universidade de Princeton, declarou à Agência Efe que enquanto os EUA continuarem imprimindo notas de um dólar será "extremamente difícil" que os cidadãos prefiram as moedas.
"É um assunto político que surge de forma periódica, mas o Congresso está empenhado em continuar imprimindo as notas, embora seja um esbanjamento", disse Stahl.
O especialista insistiu em que "todos os grandes países do mundo usam uma moeda para valores equivalentes aos de um dólar", e deu como exemplo o caso do euro e da libra esterlina.
Andrew Gause, um historiador de divisas e autor de livros como "The Secret World of Money" (O Mundo Secreto do Dinheiro), defende também a moeda de um dólar, embora reconheça que o atual programa se encaminha para o desastre.
"O custo de produzir as moedas acumuladas pelo Fed ronda os US$ 300 milhões de dólares e se tivessem que fundi-las provavelmente seriam necessários cerca de US$ 100 milhões", explicou à Efe
Gausetambém pensa que a solução é deixar de imprimir notas.
"Se fosse por mim teríamos moedas de um dólar, de cinco, de dez", afirmou, para acrescentar que as notas "são mais fáceis de falsificar e se desgastam antes", com uma duração média de 18 meses frente aos 15 anos ou mais das moedas.
A Casa da Moeda, com sede em Washington, cunhou o primeiro rodízio de moedas presidenciais de um dólar em 2007 com os rostos de George Washington (1789-1797), John Adams (1797-1801), Thomas Jefferson (1801-1809) e James Madison (1809-1817), os quatro primeiros do país.
Desde então, são cunhadas moedas de quatro presidentes ao ano.
Este ano será a vez de Andrew Johnson (1865-1869), Ulysses Grant (1869-1877), Rutherford Hayes (1877-1881) e James Garfield (1881), e assim até 2016 quando sairão as últimas moedas com os rostos de Richard Nixon (1969-1974) e Gerald Ford (1974-1977).
Segundo os dados da NPR, 60% dos 2,4 bilhões de moedas de dólar cunhadas desde 2007 estão em circulação, mas os 40% restantes estão empilhadas em câmaras de segurança, e o Fed de fato está ficando sem espaço para guardá-las.
Seja como for, os especialistas concordam que tanto o protagonismo das notas como o das moedas está em declive perante o aumento das transações eletrônicas.
Isso explica que o número de notas de um dólar que saiu no ano passado das prensas governamentais fosse o mais baixo da história moderna dos EUA, que o número de notas de cinco dólares fosse a menor em cinco anos e que, pela primeira vez, não se imprimisse notas de dez.