Joe Biden e Donald Trump, principais competidores das eleições presidenciais de 2024 (Anna Moneymaker/Scott Olson/Getty Images)
CEO da Ipsos no Brasil
Publicado em 8 de abril de 2024 às 12h08.
Última atualização em 8 de abril de 2024 às 12h55.
O resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos ainda é altamente incerto. Para termos uma fotografia mais nítida deste momento, é preciso observar alguns pontos importantes. Na Ipsos, usamos um modelo preditivo para avaliar as vantagens de cada candidato com base no humor da população, sua percepção sobre a economia e os rumos do país, além da aprovação do atual incumbente.
Seguindo estes critérios de análise, fica claro que o atual presidente, Joe Biden, parece estar numa situação bastante delicada.
Leia mais: Como Clinton e Obama podem ajudar Biden na campanha?
Biden tem, hoje, baixos índices de aprovação. Na última pesquisa ABC News/Ipsos, 37% dos americanos dizem aprovar o trabalho de Joe Biden como presidente. Ao mesmo tempo, 58% dos entrevistados desaprovam o trabalho do líder da Casa Branca.
A descrença no rumo do país também não deixa um cenário favorável para o atual presidente. Segundo dados da pesquisa What Worries the World, realizada pela Ipsos em 29 países, 67% das pessoas nos EUA acreditam que o país está no rumo errado.
Tanto a campanha de Biden quanto o establishment democrata precisam ficar atentos. Trump é um oponente forte que conseguiu capturar o zeitgeist predominante em grande parte dos Estados Unidos. Seguindo a lógica do modelo preditivo da Ipsos, as chances de vitória do democrata, hoje, girariam em torno de 38%.
Embora, neste momento, Donald Trump esteja em uma posição forte, a perspectiva ainda não é tão clara. O ex-presidente enfrenta uma grande rejeição por parte da população americana, e mesmo dentro do Partido Republicano, no qual não tem um apoio massivo da ala mais moderada.
Soma-se a isso também o fato de a maior parte dos cidadãos dos EUA apoiar que a Suprema Corte estadunidense julgue Trump pelas acusações de conspiração.
Contudo, os modelos preditivos da Ipsos (assim como todos os outros modelos) sofrem de uma imprecisão temporal. É quase certo que as coisas mudarão nos meses que se seguirão até a data do pleito eleitoral.
Há um consenso crescente entre os especialistas de que o candidato que melhor se alinhe com as questões que afligem a população, tende a levar uma grande vantagem nas urnas.
A mesma pesquisa What Worries the World mostra que as principais apreensões das pessoas nos Estados Unidos, hoje, são a inflação, citada por 39% dos entrevistados, seguida por controle de imigração (27%) e crime & violência (26%).
Historicamente, o tema do “combate” à imigração sempre foi uma bandeira republicana. Além disso, Trump repetidamente ressalta em seus discursos uma associação dos imigrantes com o aumento da criminalidade, como um dos argumentos para defender a construção de seu infame muro para separar os EUA do México.
A economia dos EUA, embora tenha apresentado bons resultados no processo de recuperação pós-covid, segue não sendo bem-vista pela população, que culpa, em boa parte, a gestão Biden pela situação econômica instável.
Olhando para estas três pautas, novamente, o cenário não é favorável para Joe Biden. E como vimos no Brasil, o alinhamento com as grandes preocupações da população é um fator-chave para determinar a vantagem de um candidato.
Durante as eleições de 2022, no mês que antecedeu o pleito, 48% dos brasileiros citavam a pobreza e desigualdade como sua maior preocupação – uma pauta muito mais alinhada à agenda do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva do que a de seu adversário, o então presidente Jair Bolsonaro.
Logo na sequência, apareciam as preocupações com a saúde (37%) e crime & violência (33%). A pauta da saúde também deixava o candidato petista em vantagem, já que a gestão desastrosa de Bolsonaro durante a pandemia – com inúmeras trocas de ministros e todo o caos envolvendo as vacinas –, não deixavam o ex-presidente em bons lençóis neste quesito. Já a pauta do combate à criminalidade, essa sim, tinha um maior alinhamento com o então incumbente, mas ainda assim, o deixava em desvantagem se analisarmos as apreensões que tinham maior peso na época. Vale lembrar que Bolsonaro, quando eleito em 2018, também era o candidato que tinha o discurso mais alinhado com a preocupação dos brasileiros mais citada na época, a corrupção política e financeira (48%).
Voltando às eleições americanas, é importante ressaltar que não são apenas as preocupações das pessoas que precisam ser levadas em conta, mas também as pautas com as quais cada espectro político está mais alinhado.
A pesquisa Reuters/Ipsos mostra que as pessoas enxergam tanto Trump quanto Partido Republicano como os que têm as propostas mais aptas para ajudar a melhorar a situação financeira pessoal, e também para combater a criminalidade.
Já Biden e o Partido Democrata se destacam na visão do público como o governo mais apto a tratar melhor as questões climáticas e ambientais. Porém, como pudemos observar no ranking das maiores preocupações das pessoas nos EUA, a pauta de mudanças climáticas, embora seja citada por expressivos 20%, figura apenas 7º lugar entre as grandes apreensões no país.
Leia mais: Trump diz que decisão sobre aborto cabe aos estados e toma posição mais moderada
Essa divisão entre republicanos x democratas também se reflete no alinhamento das pessoas às crenças populistas: os republicanos estão entre os que têm o maior sentimento populista em comparação com cidadãos de outros países, enquanto os democratas estão entre os que menos apoiam líderes com este perfil.
O fato é que, embora todos os pontos até então apontem para uma vantagem de Donald Trump, ainda são bastante altas as rejeições a ambos os candidatos.
Na onda de fevereiro, a pesquisa Reuters/Ipsos mostrou uma virada nas intenções de votos. Biden, que aparecia atrás de Trump nos levantamentos anteriores, tomou a dianteira este mês por 1 p.p.
No entanto, a mesma pesquisa Reuters/Ipsos também revelou que os cidadãos estão insatisfeitos com ambas as opções para presidente. A maioria acha que Donald Trump (56%) e Joe Biden (70%) nem deveriam concorrer novamente à Presidência em 2024. Dois em cada três (67%) dizem que estão cansados de ver os mesmos candidatos nas eleições presidenciais e querem alguém novo.
Se tem uma coisa que a Ipsos aprendeu, sendo o maior instituto de pesquisa eleitoral no mundo, é que em um cenário polarizado como este, a incerteza é a única certeza.
Por isso, é fundamental lermos cada momento, ficarmos atentos aos fatores que podem mudar o rumo do jogo, como uma possível melhora (ou piora) na economia, o aumento da preocupação com determinadas pautas mais alinhadas a um dos lados, bem como as questões de política externa do país – principalmente as que envolvem tanto Russia x Ucrânia, quanto Israel.
À medida que 2024 se desenrolar, conseguiremos ter uma imagem mais nítida do cenário que vem se desenhando. Seja qual for o resultado, a eleição presencial da ainda dita “nação mais poderosa” do mundo vai continuar atraindo todos os olhares do planeta. E, nós, seguimos de olho por aqui.