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Biden pede a militares de Mianmar para "renunciarem ao poder que confiscaram"

As declarações de Biden vieram logo após a Casa Branca anunciar que estava considerando "sanções específicas" contra os militares responsáveis pelo golpe

Mianmar: centenas de manifestantes se reuniram nesta sexta-feira diante de uma universidade de Yangon, no maior protesto registrado até o momento contra o golpe de Estado em Mianmar (Drew Angerer/Getty Images)

Mianmar: centenas de manifestantes se reuniram nesta sexta-feira diante de uma universidade de Yangon, no maior protesto registrado até o momento contra o golpe de Estado em Mianmar (Drew Angerer/Getty Images)

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AFP

Publicado em 5 de fevereiro de 2021 às 08h51.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2021 às 08h52.

O presidente americano, Joe Biden, pediu nesta quinta-feira (4) aos militares de Mianmar a "renunciarem ao poder" no país asiático e libertar os dirigentes e ativistas detidos após o golpe de Estado desta semana.

O exército pôs um fim à frágil transição democrática do país na segunda-feira, impondo o estado de emergência por um ano e prendendo Aung San Suu Kyi e outros líderes de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD).

"Os militares birmaneses devem renunciar ao poder que confiscaram, libertar os ativistas e funcionários que detiveram, suspender as restrições às telecomunicações e se absterem da violência".

As declarações de Biden vieram logo após a Casa Branca anunciar que estava considerando "sanções específicas" contra os militares responsáveis pelo golpe.

“Não há dúvidas: em uma democracia, a força não pode ser usada contra a vontade do povo”, acrescentou o presidente americano.

Os generais birmaneses ordenaram nesta quinta-feira que os provedores de internet bloqueassem o acesso ao Facebook, uma ferramenta de comunicação essencial na Birmânia, três dias após o golpe.

O medo de retaliação persiste em Mianmar, país que viveu sob uma ditadura militar por quase 50 anos desde sua independência em 1948.

Manifestantes protestam contra golpe de Estado

Centenas de manifestantes se reuniram nesta sexta-feira diante de uma universidade de Yangon, no maior protesto registrado até o momento contra o golpe de Estado em Mianmar que derrubou esta semana o governo de Aung San Suu Kyi, enquanto o Exército continua prendendo políticos e ativistas.

Os manifestantes, em sua maioria professores e alunos, fizeram a saudação com três dedos da mão levantados, um gesto de resistência, enquanto cantavam uma música que se tornou popular durante a revolta de 1988, violentamente reprimida pelo Exército birmanês. Também pediram "longa vida à mãe Suu" Kyi.

"Enquanto (os militares) conservarem o poder, não vamos trabalhar. Se todos fizerem isto, o sistema vai cair", declarou à AFP Win Win Maw, professor do Departamento de História.

Funcionários de vários ministérios interromperam temporariamente o trabalho na capital Naypyidaw e exibiam uma fita vermelha, a cor do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND).

Na quinta-feira, advogados e médicos participaram dos protestos, enquanto moradores de Yangon organizaram panelaços e buzinaços pela terceira noite consecutiva para "expulsar os demônios", os militares.

Dezenas de detenções

Os generais, que na segunda-feira acabaram de forma abrupta com a frágil transição democrática do país, prosseguem com as detenções, apesar das críticas internacionais.

Win Htein, 79 anos, veterano da LND, foi detido na casa de sua filha na madrugada desta sexta-feira em Yangon, informou um porta-voz do partido.

"Sei que serei detido, mas não estou preocupado. Estamos acostumados à luta pacífica", afirmou na quarta-feira à rádio francesa RFI Win Htein, que passou mais de 20 anos preso, no período em que a junta militar governou o país (1989 a 2010).

Quatro dias depois da detenção de Aung San Suu Kyi, acusada de infringir uma confusa norma comercial, quase 150 líderes políticos foram presos, de acordo com a Associação de Assistência aos Presos Políticos, uma ONG com sede em Yangon.

Os eventos em Mianmar provocaram inquietação internacional.

O Conselho de Segurança da ONU expressou "profunda preocupação" e pediu a "libertação de todos os detidos".

O texto, redigido pelo Reino Unido, não condena o golpe militar, como contemplava o primeiro rascunho. China e Rússia, que têm poder de veto, foram contrários a uma condenação explícita.

Apoio de Pequim

Pequim continua sendo o principal apoio de Mianmar na ONU. Durante a crise do rohingyas, obstruiu todas as iniciativas por considerar o conflito um assunto interno birmanês.

O medo continua muito presente em Mianmar, que viveu quase 50 anos sob regime militar desde sua independência em 1948.

Mas desde as repressões anteriores, de 1988 e 2007, a situação mudou: os birmaneses agora usam a Internet para resistir.

No Facebook, porta de entrada na Internet para milhões de habitantes, foram criados grupos que defendem a "desobediência civil".

Como resposta o Exército ordenou que os provedores de Internet do país que bloqueiem o acesso à plataforma. Nesta sexta-feira, os serviços continuavam perturbados.

O comandante do Exército, Min Aung Hlaing, que concentra a maioria dos poderes, justificou o golpe alegando "enormes" fraudes nas eleições legislativas de novembro, vencidas com ampla folga pela LND.

Na realidade, de acordo com analistas, os generais temiam que, apesar de uma Constituição muito favorável aos militares, sua influência diminuísse após a vitória eleitoral da Prêmio Nobel da Paz de 1991.

Os militares, que instauraram o estado de emergência por um ano, prometeram eleições livres ao final do período, mas o anúncio foi recebido com ceticismo.

 

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