Mundo

Biden está terminando o trabalho que meu governo começou, diz Obama

Em entrevista ao 'New York Times', Obama diz que o ex-presidente Trump se beneficiou da estabilidade econômica obtida graças às suas políticas

Joe Biden e Barack Obama (T.J. Kirkpatrick/Getty Images)

Joe Biden e Barack Obama (T.J. Kirkpatrick/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de junho de 2021 às 07h30.

Última atualização em 2 de junho de 2021 às 07h30.

Em uma entrevista ao jornal The New York Times divulgada nesta terça-feira, 1º, o ex-presidente americano Barack Obama afirmou que o atual líder do país, Joe Biden, está terminando o trabalho iniciado pelo seu governo. "O que estamos vendo agora é que Joe e o governo estão essencialmente terminando o trabalho", disse Obama ao jornalista Ezra Klein. "E acho que será um teste interessante."

"Ao menos 90% das pessoas que estiveram lá em minha administração estão continuando e construindo sobre as políticas de que falamos, seja o Affordable Care Act (Obamacare), ou nossa agenda de mudança climática, o Acordo de Paris, e descobrindo como fazer para melhoramos as escadas para a mobilidade social por meio de coisas como faculdades comunitárias."

Obama também analisou porque, em 2016, após seus oito anos no poder, tantos eleitores se voltaram para Donald Trump. "É difícil apenas sublinhar o quanto os resgates aos bancos irritaram a todos, inclusive a mim", disse Obama, sobre o remédio para a crise financeira de 2008 que ele ajudou a liderar.

"Então você tem essa recuperação longa e lenta. Embora a economia se recupere tecnicamente rápido, leva mais cinco anos até que estejamos realmente de volta, e as pessoas se sentindo OK, que a economia está se movendo."

"Digamos que um democrata, um Joe Biden ou uma Hillary Clinton, tivesse me sucedido imediatamente e a economia de repente tenha 3% de desemprego, acho que teríamos consolidado a sensação de que, 'Oh, na verdade, essas políticas que Obama implementou funcionaram'."

"O fato de Trump interromper essencialmente a continuação de nossas políticas, mas ainda se beneficiar da estabilidade econômica e do crescimento que iniciamos significa que as pessoas não têm certeza. Bem, meu Deus, o desemprego foi de 3,5% com Donald Trump."

Obama também refletiu sobre a capacidade de Biden em conquistar os eleitores, particularmente em Estados pós-industriais do Meio-Oeste, que votaram em Obama e depois mudaram para Trump.

"Em virtude da biografia e da geração dele, acho que ele ainda pode alcançar algumas dessas pessoas", disse Obama sobre Biden, que tem 78 anos e nasceu em Scranton, Pensilvânia.

"As pessoas sabiam que eu era ligado a questões como raça ou igualdade de gênero e questões LGBTQ e assim por diante", disse Obama. "Mas acho que o motivo de minha campanha ser bem-sucedida no interior do Estado de Illinois, Iowa ou em lugares como esses é que nunca sentiram como se eu os estivesse condenando por não terem chegado à resposta politicamente correta rápido o suficiente, ou que de alguma forma eles eram moralmente suspeitos porque cresceram e acreditavam em valores mais tradicionais."

Na verdade, em 2008, Obama causou polêmica com uma declaração sobre esses eleitores. "(Eles) ficam amargos, se apegam a armas ou religião ou antipatia por pessoas que não são como eles ou sentimento anti-imigrante ou sentimento anticomércio como uma forma de explicar suas frustrações", disse, na época.

O ex-presidente observou os efeitos drásticos sobre esses Estados do colapso dos jornais locais e da proliferação de desinformação e das redes sociais. "Se eu for aos mesmos lugares agora ou se algum democrata que está fazendo campanha for a esses lugares agora, quase todas as notícias vêm da Fox News, das estações de notícias Sinclair, do rádio ou de alguma página do Facebook. E tentar penetrar nisso é realmente difícil", disse.

"Não é que as pessoas nessas comunidades tenham mudado. É que você está sendo alimentado, dia após dia, com essas informações, então você vai chegar a todas as conversas com um certo conjunto de predisposições que são realmente difíceis de quebrar. E esse é um dos maiores desafios que enfrentamos."

De acordo com pesquisas recentes, 53% dos republicanos - e 25% dos americanos - aceitam a mentira de Trump de que sua derrota para Biden em 3 de novembro foi resultado de fraude eleitoral, enquanto 15% dos americanos acreditam na teoria da conspiração QAnon.

"Se você conversa com as pessoas, geralmente é possível amenizar esses temores. Mas eles precisam ser capazes de ouvir você. Você tem que ser capaz de entrar na sala. E eu ainda poderia fazer isso em 2007, 2008. Acho que Joe, em virtude da biografia e idade, acho que ele ainda pode alcançar algumas dessas pessoas. Mas começa a ficar mais difícil, especialmente para os recém-chegados."

Obama também disse que uma administração Biden bem-sucedida terá um impacto em um cenário político profundamente polarizado no qual os Estados republicanos estão restringindo a votação entre comunidades negras e tornando mais fácil reverter os resultados, enquanto os republicanos no Congresso bloqueiam uma comissão bipartidária para investigar o ataque ao Capitólio pelos apoiadores de Trump.

"Será que (o sucesso de Biden) substitui esse tipo de política de identidade que passou a dominar o Twitter e a mídia, e que influenciou a forma como as pessoas pensam sobre política?" Obama perguntou. "Provavelmente não completamente. Mas nos extremos, se você está mudando 5% do eleitorado, isso faz a diferença."

Esteja sempre informado sobre as notícias que movem o mercado. Assine a EXAME.

Acompanhe tudo sobre:Barack ObamaDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Joe BidenPartido Democrata (EUA)

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru