(MICHAEL REYNOLDS/POOL/AFP/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 8 de março de 2022 às 13h32.
Última atualização em 8 de março de 2022 às 14h56.
O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou nesta terça-feira, 8, que os Estados Unidos proibirão importações de petróleo e gás russos em meio à guerra na Ucrânia.
"Estamos banindo todas as importações de óleo, gás e energia russas", declarou Biden, afirmando que nenhuma importação desses insumos será aceita "nos portos americanos".
A decisão foi tomada somente pelos americanos, completou Biden, afirmando que os aliados europeus "não estão em posição de se unirem a nós neste momento".
Biden afirmou que os EUA estão entre os maiores produtores de petróleo do mundo e produzem mais do que todos os países da União Europeia. No entanto, disse que europeus também estão desenhando "uma estratégia de longo prazo" para reduzir sua dependência dos insumos russos.
"Nossos times estão discutindo ativamente sobre como fazer isso acontecer. E hoje, nós permanecemos unidos, unidos em nosso propósito de manter a pressão crescendo sobre Putin e sua máquina de guerra", afirmou.
A medida era esperada após fontes confirmarem à imprensa americana sobre as negociações nesta manhã, afirmando que os EUA estavam dispostos a imporem sozinhos as sanções.
Até o momento, as sanções de Estados Unidos e países europeus contra a Rússia focavam sobretudo no setor financeiro, como a retirada do país do sistema de transações internacionais SWIFT. Outras empresas privadas também optaram por fechar ou pausar operações na Rússia, o que Biden citou em seu discurso nesta terça-feira.
Mas o banimento de petróleo e gás russos, a maior fonte de receita do governo de Vladimir Putin, leva as sanções a um nível sem precedentes, com impactos globais no preço da gasolina e outros combustíveis.
Biden afirmou que a medida tem "forte apoio bipartidário" no Congresso, incluindo republicanos e democratas, e disse acreditar que a aprovação também ocorrerá "no país", entre os cidadãos.
O banimento das importações russas deve aumentar o preço dos combustíveis para americanos, os maiores consumidores globais. A Rússia é o terceiro maior produtor do mundo e membro importante da OPEP+, organização de países produtores de petróleo.
O barril do tipo Brent subia 7% às 14h desta terça-feira, minutos após o anúncio de Biden, na casa dos US$ 130/barril. Os preços já haviam começado o dia em alta e muito do impacto foi antecipado pelos mercados, na expectativa do anúncio americano.
Ao longo do último mês, o preço do barril Brent também subiu mais de 40% no mercado internacional.
Como contrapartida ao banimento aos russos, Biden afirmou que o governo e aliados liberarão 60 milhões de barris em estoque para tentar conter a alta de preços, 30 milhões deles vindos das reservas dos EUA.
"A decisão de hoje não é sem custo aqui dentro de casa", disse, citando os impactos ao consumidor americano e afirmando que "a guerra de Putin já está machucando as famílias americanas".
Segundo Biden, desde o começo da guerra o preço da gasolina já subiu 75 centavos na bomba nos EUA. "E com essa medida, vai subir ainda mais", reconheceu.
Mesmo antes do anúncio de Biden, o preço médio da gasolina nos EUA havia atingido na segunda-feira seu maior patamar desde julho de 2008, segundo a American Automobile Association, associação automotiva americana que monitora os preços.
O preço foi ainda superado nesta terça-feira, quando foi registrada a maior média já vista nos EUA, a US$ 4,173 por galão (a métrica local).
Biden voltou a dizer, como havia feito em discursos anteriores, que o momento não deve ser "explorado" por empresas de petróleo e do setor financeiro que investem no ramo para aumentar preços além do necessário. "Não é desculpa para realizar aumentos excessivos", repetiu.
O presidente americano afirmou também que a crise é mostra de que os países precisam "acelerar a transição para energia limpa" e que os EUA precisam se tornar "independentes" em energia.
A inflação nos EUA atingiu seu maior patamar em 40 anos mesmo antes da guerra, em parte devido à alta internacional do petróleo que já vinha ocorrendo com a demanda crescente após dois anos de pandemia.
No entanto, a situação piorou desde a invasão russa à Ucrânia no dia 24 de fevereiro, e o preço do barril atingiu seus maiores patamares desde 2008.
Em casa, a decisão de barrar as importações russas pode ter alto custo político para o Partido Democrata à medida que se aproximam eleições legislativas neste ano, com a alta de preços impactando a popularidade do governo Biden.
Nesta semana, o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, chegou a dizer que o preço poderia superar US$ 300 o barril se Europa e EUA barrassem importações russas. "A rejeição do petróleo russo levaria a consequências catastróficas para o mercado global", disse.
Mais cedo nesta terça-feira, a UE também divulgou um plano para eliminar "bem antes" de 2030 a dependência do gás natural russo, principal insumo usado para aquecimento e energia elétrica na Europa Ocidental. Mas o plano não inclui banir exportações no curto prazo.
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