Ingrid Betancourt, ex-refém das Farc: arrependida por ter entrado com um pedido de indenização no valor de US$ 6,9 mi (Eitan Abramovich/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Bogotá - A política franco-colombiana Ingrid Betancourt, ex-refém das Farc, descartou que vá processar o Estado colombiano por seu sequestro e disse estar arrependida por ter entrado com um pedido de indenização no valor de 6,9 milhões de dólares.
"Não há nem haverá nenhum pedido. Não há nenhum ataque contra o governo que me libertou, contra o presidente (Alvaro) Uribe, ao qual devo todo o agradecimento, nem contra as Forças Militares. As únicas culpadas por meu sequestro são as Farc e quem me libertou foram os herois", declarou em uma entrevista à rádio e canal Caracol.
Betancourt explicou que seu pedido de indenização milionário tinha como objetivo "se solidarizar com outros sequestrados para que seja indenizados".
"Essa soma que astronômica e praticamente absurda é simbólica porque é muito difícil querer taxar o sofrimento das famílias das vítimas do terrorismo", acrescentou.
Segundo o ministério da Defesa colombiano, Ingrid e seus familiares apresentaram em 30 de junho duas solicitações de conciliação extrajudicial, nas quais pediam uma compensação monetária de US$ 13 bilhões de pesos (6,5 milhões de dólares).
As solicitações foram recebidas na sexta passada pela Procuradoria de Bogotá, que deve iniciar um processo de conciliação entre Ingrid Betancourt, sua irmã, Astrid, sua mãe, Yolanda Pulecio, e seus filhos, Melanie e Lorenzo Delloye, de um lado; e o governo da Colômbia, de outro.
Esta foi a primeira vez que a Procuradoria colombiana recebeu uma demanda deste tipo.
Com dupla nacionalidade colombiana e francesa, Betancourt foi sequestrada pelas Farc em fevereiro de 2002 e resgatada no âmbito da Operação Xeque, realizada pelas forças militares colombianas, em 2 de julho de 2008.
Em um comunicado, o ministério da Defesa da Colômbia se declarou "surpreso e pesaroso" com a iniciativa, "especialmente pelo esforço e empenho da força pública no planejamento e na execução" da Operação Xeque, com a qual se conseguiu o resgate de Ingrid, de três americanos e onze policiais e militares colombianos.
Além disso, reforçou que "mulheres e homens das Forças Armadas arriscaram a vida pela liberdade dos sequestrados" durante a operação, lembrando que "a própria doutora Ingrid Betancourt qualificou como 'perfeita'" a ação militar.
O vice-presidente colombiano, Francisco Santos, afirmou que o pedido de Betancourt representa um "precedente funesto" e "uma punhalada na força pública".
As autoridades colombianas expressaram sua "convicção de que não existe nenhum elemento objetivo que permita deduzir a responsabilidade do Estado" no sequestro de Betancourt, e ressaltaram que a ex-refém havia "desconsiderado" as recomendações que a força pública fez, na ocasião, para que evitasse a viagem na qual foi capturada pelos guerrilheiros.
Ingrid Betancourt, que na época em que foi sequestrada fazia campanha eleitoral pela Presidência da Colômbia, foi levada junto com sua assistente, Clara Rojas, quando viajava para San Vicente del Caguán (sul), região onde acabava de ser suspensa a tentativa de diálogo entre o governo do presidente Andrés Pastrana (1998-2002) e as Farc.