Berlusconi: "Temos que nos preocupar com o que acontece nos mercados financeiros, que não acreditam que a Itália seja capaz de aprovar as medidas que a UE nos pediu" (Jacopo Raule/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2011 às 18h32.
Roma - O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, se comprometeu nesta terça-feira a renunciar assim que o Parlamento do país aprovar as reformas econômicas apresentadas à União Europeia, poucas horas após o governante perder a maioria absoluta em uma votação na Câmara dos Deputados.
Durante uma reunião de uma hora em Roma, Berlusconi fez um acordo com o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, para pôr seu cargo à disposição do chefe do estado depois que forem aprovados os orçamentos de 2012, para os quais seu governo elaborou uma emenda na qual são incluídas algumas dessas reformas.
Após o encontro, o primeiro-ministro prometeu renunciar, o que não exclui a possibilidade de que volte a ser encarregado de formar um novo governo, embora tenha afirmado que vê como a única saída possível a realização de eleições antecipadas.
"Temos que nos preocupar com o que acontece nos mercados financeiros, que não acreditam que a Itália seja capaz de aprovar as medidas que a UE nos pediu. Acho que esta é a primeira coisa que nos tem que preocupar. Temos que demonstrar aos mercados que levamos a sério. O mais importante é o bem do país", disse Berlusconi.
"É necessário construir o país, é necessário dar uma resposta à Europa e aos mercados", acrescentou o primeiro-ministro, que pediu que a oposição ajude seu governo a aprovar as reformas exigidas pela UE o mais rápido possível.
O encontro dos chefes de governo e de estado aconteceu depois que Berlusconi constatou hoje na Câmara a perda da maioria absoluta, após a rebelião de alguns dos deputados de seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), que tinham exigido sua renúncia para que um novo Executivo conseguisse promover essas medidas econômicas.
Essa mesma reivindicação foi feita, antes do início da votação, por seu principal aliado, o líder da Liga Norte, Umberto Bossi.
O premiê conseguiu aprovar as contas do estado de 2010 por 321 deputados da oposição não terem participado da votação, um número maior do que o de parlamentares que deram a aprovação a Berlusconi (308).
O chefe de governo manifestou uma "grande preocupação pela urgente necessidade de dar respostas pontuais às expectativas dos parceiros europeus com a aprovação dos orçamentos de 2012, oportunamente emendados seguindo a contribuição mais recente, com observações e propostas da Comissão Europeia", segundo nota da Presidência da Itália divulgada após a reunião.
"Uma vez completado esse trâmite, o presidente do governo porá seu cargo à disposição do chefe de estado, que procederá às consultas frequentes (para formar um novo governo) dando máxima atenção às posições e propostas de cada força política, tanto da maioria parlamentar que saiu das eleições de 2008 como da oposição", prossegue o texto.
Com este anúncio se põe fim a várias semanas de incerteza econômica e política na Itália, desde que o Executivo deu mostras de ter dificuldades para aprovar as reformas e não conseguiu convencer os mercados com suas promessas, como pôde ser constatado com base no prêmio de risco italiano, que disparou até próximo da casa de 500 pontos básicos.
Um dia antes do início da cúpula do G20, em Cannes (França), o Conselho de Ministros italiano aprovou "na última hora" a chamada "maxi emenda" dos orçamentos de 2012, na qual foram incluídas as primeiras das reformas exigidas por Bruxelas, cujo conteúdo exato ainda é desconhecido.
Está previsto que amanhã essa emenda aos orçamentos seja apresentada na comissão de Contas do Senado para que possa ser votada no plenário já na semana que vem. Dessa forma, a Câmara dos Deputados daria o sinal verde definitivo no final deste mês, antes, inclusive, do prazo habitual, em meados de dezembro.
Fontes da principal legenda da oposição, o Partido Democrata, disseram que avaliam a possibilidade de renúncia de Berlusconi, mas indicaram que é necessário que esta se formalize o mais rápido possível.
Por sua vez, o líder da União de Democratas-Cristãos e de Centro, Pier Ferdinando Casini, afirmou que, com esta decisão, Berlusconi demonstrou que "existe uma via de saída" para a atual situação da Itália, mas destacou que a situação econômica e financeira do país não aconselha a realização de uma "longa e extenuante" campanha eleitoral.