Papa Bento XVI: vinte cardeais latino-americanos (que têm menos de 80 anos), poderão participar do Conclave que definirá o sucessor de Bento XVI. (Vincenzo Pinto/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2013 às 15h52.
Bogotá - A América Latina, que reúne metade da população católica do mundo, foi impactada nesta segunda-feira pelo anúncio da renúncia de Bento XVI, com quem a região não teve tempo de desenvolver os mesmos laços construídos com seu antecessor, João Paulo II, que batizou o território como "continente da esperança".
Uma vez superada a surpresa inicial, os cardeais, bispos e outras figuras da Igreja Católica na América Latina manifestaram seu respeito e admiração pela decisão do pontífice de deixar a cadeira de São Pedro em 28 de fevereiro em razão de sua idade, 85 anos, e de sua "falta de forças".
A comunidade religiosa destacou que a decisão é uma prova de seu "profundo amor à igreja" e a Deus. O anúncio também foi interpretado como "uma grande mensagem de humildade" e um "grande exemplo".
Muitos na região consideraram ainda a decisão "compreensível, coerente e legítima", de alguém que não queria "o poder pelo poder".
A imprensa latino-americana dedicou um grande espaço ao anúncio, que aconteceu quando a maioria dos países da região está celebrando o Carnaval.
Na região vive aproximadamente a metade dos quase 1,2 bilhão de católicos que existem no mundo, como consequência da evangelização empreendida por espanhóis e portugueses desde o início da colonização do continente.
Em seus quase oito anos de Pontificado, Bento XVI fez apenas duas viagens à América Latina, onde a religião católica continua sendo majoritária, mas o número de fiéis está em queda e há um avanço de igrejas que se autodenominam "cristãs".
Um exemplo dessa tendência é o Brasil, o país com maior número de católicos do mundo, onde a percentagem de fiéis dessa religião passou de 73,79%, em 2003, para 68,43%, em 2009, segundo um estudo divulgado em 2012 pela Fundação Getúlio Vargas.
A primeira das viagens de Bento XVI para a América Latina foi precisamente ao Brasil, em 2007, e a segunda, em 2012, para o México e Cuba.
Antes de sua renúncia, Bento XVI tinha anunciado que voltaria ao Brasil em julho, para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, e até hoje não tinha respondido a um convite para visitar a Colômbia ainda este ano.
Também ficará para o novo pontífice, que deve ser eleito antes do fim de março, a canonização da freira mexicana Anastasia Guadalupe García Zavala, conhecida como "mãe Lupita", e da religiosa colombiana Laura de Jesús Montoya y Upegui.
Ambas serão proclamadas santas em 12 de maio, segundo anunciou Bento XVI durante a realização do consistório no qual de modo inesperado informou sobre sua renúncia.
"É uma grande mensagem de humildade, uma homenagem à verdade que deve repercutir no mundo inteiro, um homem que coloca sua figura por trás do dever que tem frente a Deus, de sinceridade e honestidade tão grande, que nos chama a nos unir mais a ele", disse hoje o arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani.
A renúncia do papa é uma decisão "valente" que demonstra o "profundo amor à Igreja" por parte de um homem "muito emblemático", que a dirigiu com decisão e caridade, segundo disse à Agência Efe o bispo de Loja, no Equador, o espanhol Julio Parrilla.
"Todos fomos tomados de surpresa. Foi como um raio que caiu sobre nós e nos deixou gelados, surpreendidos", expressou o arcebispo coadjutor de Assunção, Edmundo Valenzuela.
Segundo o bispo auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, no Brasil, Darci Nicioli, a renúncia de Joseph Ratzinger "dói no coração", mas está prevista no direito canônico e deve ser "respeitada" por todos os católicos.
Vinte cardeais latino-americanos (que têm menos de 80 anos), sendo cinco brasileiros, quatro mexicanos, dois argentinos, um colombiano, um chileno, um venezuelano, um hondurenho, um dominicano, um cubano, um peruano, um boliviano e um equatoriano, poderão participar do Conclave que definirá o sucessor de Bento XVI.
O fato dos cardeais com mais de 80 anos não poderem escolher o papa não os impede se serem candidatos a pontífice, segundo as normas do Vaticano.
A América Latina foi uma referência durante o Pontificado de João Paulo II, que fez sua primeira viagem para fora Itália a essa região, onde voltou em outras 17 oportunidades nos mais de 26 anos em que foi papa.
A predileção que o papa polonês demonstrou pelo "continente da esperança" foi retribuída pelos latino-americanos, que em 2011 se mobilizaram por ocasião de sua beatificação.