Mundo

Belo Monte: manter operários motivados é desafio

São 1,4 mil funcionários que passam nove horas por dia, em turnos que vão das 7h30 às 3h30, ajudando a escavar o canal de 20 quilômetros de extensão

Para vencer a rotina de trabalho pesado e poucas opções de lazer, os operários participam de atividades sociais promovidas pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (Valter Campanato/ABr)

Para vencer a rotina de trabalho pesado e poucas opções de lazer, os operários participam de atividades sociais promovidas pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (Valter Campanato/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2012 às 17h26.

Altamira (PA) – Entre as obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a que está em estágio mais avançado é a de construção de canais e diques, a maior frente de trabalho nos canteiros de obras até agora. São 1,4 mil funcionários que passam nove horas por dia, em turnos que vão das 7h30 às 3h30, ajudando a escavar o canal de 20 quilômetros de extensão e altura que varia entre 30 e 45 metros. Pouco mais de um terço desses trabalhadores (500) moram em alojamentos instalados na obra. Para vencer a rotina de trabalho pesado e poucas opções de lazer, os operários participam de atividades sociais promovidas pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM).

“É a primeira vez que se faz um canal dessas dimensões em uma obra de hidrelétrica”, explicou o engenheiro e gerente de Obras do sítio, Reinaldo Lino, ao detalhar os trabalhos que estão sendo feitos para ligar a represa do Sítio Pimental ao reservatório intermediário do Sítio Belo Monte, onde ficarão as principais turbinas da hidrelétrica.

Para cumprir as etapas de acordo com o que está planejado, a empresa responsável pela obra precisa não somente de empregados capacitados, mas motivados com a empreitada. O problema é que não é fácil manter essa motivação. “É muito difícil ficar seis meses longe da família. A gente sempre pede para reduzir o período de baixada [ao fim do qual o operário ganha uma folga para rever a família] de seis para três meses, como acontece nas outras usinas, mas a gente nunca é atendido”, lamenta o encanador Rodnei Pereira de Oliveira, de 28 anos, que veio da cidade goiana de Minas Sul. Entre fevereiro de 2010 e janeiro de 2011, ele trabalhou na Usina Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia.

Rodney reclama das poucas opções de lazer e da falta de estrutura dos canteiros de obras para quem não tem o que fazer nos períodos de folga. “Todo domingo ficamos sem energia das 7 da manhã até as 17 horas, porque a empresa diz que precisa mexer no gerador. A gente acorda e tem de ir para a cidade, porque o calor é insuportável”.

Ele acrescenta que há muitas dificuldades para fazer ligações telefônicas ou usar a internet. Também se queixa da forma como é feito o pagamento, em dinheiro vivo, porque a empresa não deposita os salários na conta bancária dos trabalhadores. Uma prática que provoca medo de assaltos e muita confusão quando os carros-fortes chegam ao canteiro. “Teve vez que, por causa da bagunça, a polícia foi obrigada a jogar gás de pimenta nos trabalhadores. O lado bom é o salário [R$1,7 mil] e a sensação de estar colaborando para o país. Isso faz a gente se sentir um ser humano importante”, ponderou.


De acordo com o CCBM, “todas as queixas do trabalhador se devem ao fato de o canteiro definitivo, onde não haverá cascalho no chão, nem gerador provisório, ainda não estar pronto”. A Agência Brasil visitou as obras do futuro canteiro definitivo. As paredes dos alojamentos, refeitórios e escritórios terão isolamento térmico e os quartos abrigarão apenas dois trabalhadores, e não quatro, como nos canteiros provisórios.

Sobre as confusões registradas nos dias de pagamento, o consórcio explica que, “em função da grande quantidade de valores transportados, é necessária a autorização do Banco Central para o deslocamento, e que o horário da chegada não pode ser antecipado por questões de segurança”. Uma lan house já está sendo montada e contará, ainda este ano, com 73 computadores para acesso à internet e 100 destinados a jogos e ensino a distância.

Moradora de Altamira, Marilza Barros Menezes, 25 anos, trabalha há dois meses no canteiro e recebe cerca de R$ 1 mil pr mês. O deslocamento diário para a cidade é a principal queixa da moça. “Já faltei ao trabalho por que não tinha ônibus. Isso aflige muitas outras pessoas”, disse à Agência Brasil. Apesar dessa dificuldade, ela considera as condições de trabalho “boas” e a comida “saudável”.

O CCBM informou que abona todas as faltas decorrentes de problemas com o transporte até a usina e que esse problema será solucionado com a chegada de mais 100 ônibus, já comprados, aos canteiros.

Para aliviar a pressão dos operários que enfrentam a dura rotina nos canteiros, Marcos Afonso, que é pós graduado em treinamento desportivo, promove campeonatos de futebol, aulas de música e eventos sociais animados com pagode e música sertaneja. “Muita gente tira o estresse nessas atividades. Além disso, as atividades esportivas ajudam a melhorar as condições físicas”, disse à Agência Brasil.

Acompanhe tudo sobre:Belo MonteEnergia elétricaHidrelétricasMão de obraUsinas

Mais de Mundo

Líderes mundiais reagem à posse de Trump

Argentina alcança superávit comercial recorde em 2024

Donald Trump nomeia republicano Mark Uyeda como presidente interino da SEC

Funcionários federais dos EUA entram com processo contra Trump por novo Departamento de Eficiência