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"Banqueiro dos pobres" de Bangladesh enfrenta campanha de desprestígio

Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus é chamado de "sanguessuga" pela primeira-ministra, Sheikh Hasina

Muhammad Yunus enfrenta campanha de desprestígio em Bangladesh (MARIO TAMA/GETTY IMAGES)

Muhammad Yunus enfrenta campanha de desprestígio em Bangladesh (MARIO TAMA/GETTY IMAGES)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 13h09.

Nova Délhi - O "banqueiro dos pobres" de Bangladesh, Muhammad Yunus, até agora intocável pelo prêmio Nobel da Paz que recebeu em 2006, enfrenta nos últimos dias uma campanha de desprestígio incentivada pela primeira-ministra, Sheikh Hasina, que o chamou de "sanguessuga".

Nesta segunda-feira o corpo diplomático em Daca, capital do país, não dava crédito às declarações da primeira-ministra divulgadas pela imprensa de seu país, dadas em entrevista coletiva após ela voltar de uma viagem internacional.

A primeira-ministra estava ausente quando teve início uma campanha contra Yunus, após a exibição de um documentário no fim de novembro na Noruega que denunciava uma transferência de fundos doados entre duas de suas entidades, ocorrida em 1996.

Naquele ano, o Grameen Bank de Yunus teria transferido o equivalente a US$ 96 milhões de fundos noruegueses ao Grameen Kalyan, que o reintegraria ao banco em forma de crédito com juros.

Yunus defende a operação que, segundo ele, foi uma "inovação financeira" que buscava beneficiar-se de uma isenção fiscal em vigor.

O fato foi tema de um documentário exibido há seis dias pela televisão nacional norueguesa, e que originou acusações contra Yunus em seu país, assim como manifestações de apoio.

As autoridades norueguesas ressaltaram que não suspeitam de corrupção no Grameen Bank, mas o ministro de Desenvolvimento Internacional, Erik Solheim, destacou que é "totalmente inaceitável" que a ajuda seja usada para fins diferentes dos previstos quando foi concedida.

Em comunicados divulgados em seu site, Yunus, que se encontra em Lisboa, afirmou que o banco não fez "nada errado", mas agiu de "boa fé e com boas intenções para ajudar os pobres".


O Prêmio Nobel qualificou como "infundadas" as revelações do documentário de que o banco só teria recuperado US$ 30 milhões dos fundos transferidos ao Grameen Kalyan.

O Grupo Grameen, que pertence ao ganhador do Nobel da Paz e do Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia de 1998, é composto por cerca de 30 companhias.

O economista tornou-se mundialmente famoso com a conquista do Nobel, que recebeu por seu sistema de concessão de microcréditos aos pobres de Bangladesh que foi reproduzido em outras partes do mundo.

No entanto, a primeira-ministra afirmou no domingo que os banqueiros transformaram os pobres de Bangladesh em seus "porquinhos-da-índia".

"Em nome do alívio da pobreza, estão chupando o sangue dos pobres", disse a primeira-ministra.

Ela acusou Yunus de tentar se livrar de impostos com a questionada transferência de fundos e destacou que é preciso que se faça uma "investigação profunda" do ocorrido em 1996.

"Os sanguessugas dos pobres não podem fazer sua própria vontade todo o tempo", acrescentou.

Uma fonte diplomática manifestou nesta segunda-feira por telefone à Efe sua perplexidade com as acusações da primeira-ministra contra uma pessoa como Yunus, que tem uma "imagem positiva" no mundo e é muito bem-vindo aonde vai.

A atual primeira-ministra e sua eterna adversária à frente do Governo de Bangladesh, a opositora Khaleda Zia, estiveram presas sob acusações de corrupção, algo comum no país, que obteve nota 2,4 no último índice divulgado pela ONG Transparência Internacional.

As acusações contra Sheikh foram arquivadas após sua ascensão ao poder em 2009, enquanto Khaleda e sua família enfrentam processos judiciais.

Em sua versão desta segunda-feira, o jornal bengalês em inglês "The Daily Star" condenou a campanha "abominável" de desprestígio a Yunus por uma questão que "foi resolvida amigavelmente há 12 anos".

O veículo destacou que os comentários que o documentário gerou em Bangladesh levam a crer erroneamente que houve uma "apropriação indevida" de fundos e que estão "caluniando uma instituição e um indivíduo que foram agraciados com o Prêmio Nobel".

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