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Bancos ficam sem dinheiro e fecham as portas após ascensão do Talibã

Após o avanço das forças do Tabilã pela capital do país, centenas de afegãos não conseguiram sequer entrar nos bancos da cidade, que alegam falta de dinheiro e liquidez

 (Haroon Sabawoon/Getty Images)

(Haroon Sabawoon/Getty Images)

Com a tomada da capital do Afeganistão, Cabul, pelas forças extremistas do Talibã, centenas de residentes da cidade correram para os bancos para sacar dinheiro de suas contas, enquanto combatentes do Talibã entraram na cidade no domingo e conseguiram a rendição incondicional do governo central.

Como relatado pela agência de notícias do mundo árabe, Al Jazeera, grande parte da multidão afegã que correu para sacar suas economias nos bancos da capital sequer conseguiu entrar nas instituições. Em meio ao caos, enquanto o Talibã avançava pelas ruas da cidade e milhares corriam para o aeroporto para fugir do país, bancos simplesmente fecharam as portas e alegaram que não havia dinheiro disponível para os correntistas.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press, alguns moradores de Cabul relataram o descaso das próprias instituições financeiras com seus clientes e a falta de compromisso do governo central em segurar os avanços do Talibã e propor ações emergenciais para auxiliar a população afegã.

Sana Safi, jornalista da BBC em Capul, escreveu em seu Twitter que muitos que tentaram retirar economias e documentos dos bancos da capital, não conseguiram sequer conversar com qualquer responsável do banco de forma direta.

"Muitos foram informados que o gerente do banco apenas deixou seu posto e que deve haver uma pausa nos serviços prestados", escreveu a jornalista em seu perfil na rede social.

"Vão embora, nós não temos dinheiro", foram algumas palavras que a emissora americana CBS colheu de gerentes do New Kabul Bank, na capital, no último domingo, 17.

A falta de liquidez nos bancos afegãos é apenas mais uma das terríveis consequências do avanço do Talibã pelo território. Com a tomada da capital pelo grupo fundamentalista, milhares correram para o aeroporto internacional em busca de qualquer alternativa para deixar o país.

Entretanto, com o fechamento dos bancos da capital, é possível que muitos afegãos que tenham economias disponíveis para deixar o país não consigam reaver seu dinheiro, pelo menos por hora. Nem os líderes do Talibã nem os porta-vozes do grupo vieram à público explicar como deve ser a política fiscal e monetária do novo estado do Afeganistão.

O ex-presidente do banco central afegão, Ajmal Ahmady, demonstrou preocupação com o futuro da economia e da sociedade afegã após a queda do governo central.

"Não precisava acabar dessa forma. Estou enojado com a falta de qualquer planejamento por parte da liderança afegã", escreveu o político em sua conta oficial do Twitter. "Nos últimos dias, eu temia não apenas os riscos relacionados ao Talibã, mas também o medo desse período de transição, uma vez que não há uma cadeia de comando preparada".

Moeda afegã despenca com caos político

Com a queda do governo, a fuga do presidente do país e saída do presidente do Banco Central afegão do cargo, a situação já delicada da economia do Afeganistão pode piorar de forma considerável.

E a desvalorização da moeda local é apenas um dos sintomas para a piora da já fragilizada economia do país. O Afghani fechou em queda de 4,6% na última terça-feira, 17, cotado a 86,0625 por dólar. É o quarto dia de queda, segundo dados compilados pela Bloomberg.

"A economia do Afeganistão é moldada pela fragilidade e dependência da ajuda", diz o relatório do Banco Mundial sobre a economia afegã, publicado meses antes da tomada do controle pelo Talibã.

As perspectivas econômicas parecem ainda mais precárias agora, já que a assistência financeira futura dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) está sob uma nuvem de incerteza.

Agricultores afegãos em plantação de ópio, 2004. (Shaul Schwarz/Getty Images)

Embora o Afeganistão possua recursos minerais substanciais, a situação política impede sua exploração no momento. O comércio ilegal do ópio também é uma parcela relevante do dinheiro que entra no país - e é fundamental para a própria economia do Talibã.

Do lado do comércio mundial, é possível ver, nos próximos meses, fortes sanções econômicas pelas nações do ocidente, o que deve piorar a situação financeira interna do país. Segundo dados do Banco Mundial, o PIB total do Afeganistão em 2020 foi de pouco menos de US$ 20 bilhões (US$19,8 bilhões).

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