Ban Ki-moon reconheceu a influência do Irã na hora de se buscar uma saída para o conflito sírio (Mohd Rasfan/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2012 às 19h34.
Teerã - O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, chegou nesta quarta-feira em Teerã para a Cúpula dos Não-Alinhados, encontro que começará nesta quinta-feira marcado pelo conflito sírio e a questão nuclear do Irã.
A presença de Ban na cúpula, que reunirá as 120 nações do Movimento de Países Não-Alinhados (MPNA), foi interpretada pelo regime islâmico iraniano como uma vitória diplomática, após a pressão exercida por seus inimigos, Israel e Estados Unidos, para que o secretário da ONU não participasse do encontro.
Após sua chegada em Teerã, Ban se reuniu com o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, e o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, com quem conversou principalmente sobre a situação da Síria e a possibilidade de iniciar um processo de paz nesse país, imerso em uma guerra civil.
Em entrevista coletiva concedida antes dos encontros e após uma reunião com o presidente do Parlamento, Ali Larijani, Ban reconheceu a influência do Irã na hora de se buscar uma saída para o conflito sírio.
''O Irã desempenha um papel muito importante na região (Oriente Médio e Golfo Pérsico), especialmente na questão da Síria, por isso quero tratar sobre isso nas reuniões com o presidente (Ahmadinejad) e outras autoridades'', disse Ban.
Na mesma entrevista coletiva, Larijani pediu a Ban que a ONU interrompa ''o aventureirismo de alguns países que pretendem solapar a estabilidade da região'', em referência ao apoio dos Estados Unidos e seus aliados à oposição síria e às ameaças de Washington e Tel Aviv de atacar o Irã devido ao seu programa nuclear.
Hoje foi concluída a Reunião Ministerial Preparatória da Cúpula, que deixou pronto a declaração do encontro, que terá que ser aprovada no final da conferência.
O Irã, fiel aliado do regime de Damasco, elaborou um projeto de paz para a Síria, baseado na não ingerência exterior e o diálogo, e manteve reuniões com representantes de vários países para incentivar sua aplicação. Apesar disso, existem divergências de opiniões entre os países participantes.
Além de Ban, participarão da cúpula o presidente egípcio, Mohammed Mursi, que propôs a criação de um ''grupo de contato'' formado pela Arábia Saudita, Egito, Irã e Turquia, as quatro principais potências muçulmanas da região e com diferentes posturas internacionais, para solucionar conflitos como o sírio.
Outra das questões que Ban disse que discutiria com as autoridades da nação árabe foi o programa nuclear do Irã, que alguns países, com os EUA à frente, além da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), suspeitam que pode ter fins armamentistas. Teerã, no entanto, garante que o programa é pacífico.
Khamenei afirmou hoje, na véspera da cúpula, que 116 dos 120 membros do MPNA apoiam o direito ao uso da energia nuclear com fins pacíficos por parte do Irã, apesar das pressões e sanções dos EUA e da União Europeia (UE).
Para tratar desta questão, Ban tem programada uma reunião com o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional e principal negociador da questão nuclear do Irã, Saeed Jalili.
Antes de viajar para Teerã, o porta-voz de Ban, Martin Nesirky, disse que o secretário da ONU, apesar dos convites iranianos, descartava visitar instalações nucleares no país, mas que pediria às autoridades do país que garantissem acesso para a AIEA.
Além de Ban, já chegaram no Irã grande parte dos chefes das delegações que participarão da Cúpula dos Não-Alinhados, um grupo de países que reúne nações em desenvolvimento e que representa quase dois terços da ONU e mais da metade da população mundial.
Teerã está vivendo sob um forte esquema de segurança devido à cúpula, e desde hoje diversas vias foram bloqueadas para facilitar a circulação das sete mil pessoas que participação do encontro.
Além disso, os voos nacionais foram suspensos até sábado para não prejudicar a chegada e saída dos representantes internacionais.